Prólogo

243 28 33
                                    

Julie

Moro sozinha. Mas não sou sozinha. Tenho meu pai, Raimundo; meu irmão, Carlos; e meus dois melhores amigos, Filomena Maria e Reginaldo Peter. Ainda assim, sinto falta da minha mãe Rosalinda, que partiu anos atrás em um acidente de carro.

Grande parte do meu tempo é ocupado pelo trabalho. Sou arquiteta e abri meu próprio escritório após passar dois anos em uma empresa e decidir ser minha própria chefe. Meu pai diz que nunca conhecerá alguém tão esforçado como eu. A verdade é que preciso pegar uma boa quantidade de projetos para sobreviver todo mês, pois tenho que me manter e pagar as contas.

Nos finais de semana, quando não estou trabalhando, prefiro ficar em casa. No máximo, aceito uma ida à prainha devido ao calor do Rio de Janeiro ou um passeio no shopping. Raramente saio em busca de diversão em boates e barzinhos. De acordo com meus amigos, desse jeito, nunca mais vou encontrar um namorado (o primeiro e último foi um garoto da escola. Duramos o Ensino Médio inteiro). Para eles, preciso aproveitar mais a vida e me aventurar. Porém, por mais que eu queira um chamego, prefiro permanecer no conforto da minha humilde residência.

Será que isso mudará algum dia? Será que existe alguém interessante o suficiente para me tirar de casa e fazer como que eu viva uma aventura, cometa uma loucura e me apaixone?

Já deu por hoje! Preciso desencanar disso e voltar para o projeto do meu cliente. Uma das coisas que mais odeio é pensar demais na vida, pois nunca tenho uma resposta para minhas perguntas. Além disso, o futuro costuma sempre nos surpreender, seja de forma positiva ou, infelizmente, negativa.

Quando finalmente consigo me concentrar, alguém toca a campainha.

- Troca de roupa! Vamos sair! - Filomena entra no meu apartamento sem nem desejar uma boa noite.

- Oi, Ju! Como está? - Reginaldo me abraça e beija minha bochecha. O educado da dupla colorida.

- Estou cheia de projetos e preciso entregá-los prontos em alguns dias! Não vou sair - continuo segurando a porta aberta para facilitar a saída deles. Porém, os dois insistem demais - Gente, não adianta! Vocês me conhecem muito bem para saber que não colocarei um vestido curto e justinho para ir até uma boate e voltar depois de cinco minutos porque estou odiando cada segundo daquela música barulhenta.

- E você nos conhece muito bem para saber que não vamos desistir tão fácil - meu amigo cruza os braços e me encara.

- E se eu prometer sair no meu aniversário? - digo, já odiando minha própria sugestão.

- Vamos ter que esperar dois meses para sair com você? - minha melhor amiga grita, fazendo com que eu coloque as mãos no ouvido.

- Não, idiota! Podemos sair para outros lugares antes, mas prometo aceitar qualquer coisa no meu aniversário.

- A gente escolhe? Local, roupa, sapato, maquiagem? - Filomena arqueia a sobrancelha e, pela sua cara, sei que vai aprontar. Eu respondo que sim - Ótimo! Estou satisfeita. Bom trabalho, Ju - ela solta um beijo para mim e vai embora puxando Reggie, que fecha a porta.

Sei que me arrependerei quando o dia chegar.

Luke

Me formei em música, mas não tenho trabalho fixo. Vivo de shows em barzinhos, algo que meus pais odeiam. Nossa relação não é das melhores. As coisas pioraram quando falei sobre o meu sonho e eles não me apoiaram, insistindo para eu entrar em uma faculdade de Direito, como Carrie Wilson, minha melhor amiga.

Às vezes, tenho a companhia dela nas apresentações. Geralmente, acontece quando ela precisa desopilar do trabalho de advogada. Segundo Carrie, a sensação de nostalgia lhe faz bem. Amo tanto nossa parceria que costumo convidá-la para sessões de composição na minha casa, relembrando nosso tempo de escola e a ajudando a se distrair dos problemas da vida adulta.

O único problema é que ela sempre é vítima das perguntas dos meus pais. "Está aqui para colocar juízo na cabeça do nosso filho?", "Diga para ele que é idiotice gastar tanto dinheiro em viagens para o Brasil. Deveria estar pagando uma outra faculdade que lhe dará futuro e se tornar um exemplo para o irmão mais novo" e "Vocês voltaram? Porque é a garota certa para o Luke". Esqueci desse pequeno detalhe, mas ela é também minha ex-namorada. E tenho um irmãozinho adorável, o Jim!

Meu outro melhor amigo é Alex Mercer. Já faz um tempo que ele vem tentando passar no curso de Medicina após finalizar ADM e odiar cada segundo dos anos de trabalho. Sempre chega perto de entrar, mas nunca consegue a nota necessária. Para ter seu próprio dinheiro, ele equilibra os estudos com o trabalho de vendedor em uma loja de sapatos. Por mais que diga estar bem, sei como está triste e se sentindo incapaz de realizar seu sonho.

Meus pais também não compreendem a paixão desse canadense aqui pelo Brasil, complicando ainda mais nossa relação. Eles dizem que se arrependem de terem me levado cinco anos atrás para São Paulo. Descobri a beleza do Rio de Janeiro no ano seguinte e sempre me organizo para visitar a cidade anualmente. Inclusive, juntarei a graninha que tenho separada com o que receberei nos próximos shows para viajar pela quinta vez ao Brasil. Toda vez que chego lá, o sonho de ter cidadania brasileira toma conta da minha mente. Seria incrível ser, oficialmente, um brasileiro com CPF. Viajo em dois meses e vou passar trinta dias na cidade maravilhosa.

Em um belo sábado, em uma lanchonete, convido Alex, como sempre, e ofereço ajuda com a passagem, ainda dizendo que ele não precisa pagar hospedagem. Tenho esse dinheiro todo? Não! Mal conseguirei pagar as minhas despesas, mas gostaria de tê-lo comigo. E seria uma forma dele viver um pouco, esquecendo os estudos. A resposta é a mesma que escuto há três anos: "obrigado, mas não tenho dinheiro para uma viagem internacional. E as provas estão chegando! Preciso me dedicar para passar dessa vez ou vou enlouquecer".

Carrie sempre diz estar muito ocupada com o trabalho. Nunca tira férias quando decido viajar. Acredito que quer evitar comentários sem noção dos meus pais achando que iremos retomar o namoro, mas somos pessoas diferentes agora. Isso é impossível.

- Já não se cansou de ir ao Rio de Janeiro? - ela me pergunta enquanto espeta uma batatinha frita do prato de Alex.

- Não - tomo um gole do refri e encaro os dois - Dessa vez, estou com um pressentimento bom. Acredito que essa viagem não será como as anteriores.

Um pequeno pedacinho do que vem por aí só para vocês ficarem na vontade :)

I Do, I Do, I Do, I Do, I Do ∞ Juke - JATPOnde histórias criam vida. Descubra agora