Capítulo 2

1K 93 20
                                    

Grace

Chego no colégio tarde da noite e corro para o meu dormitório, já que uma forte tempestade castiga a cidade com sua intensidade.

Entro no quarto que divido com a Charlotte e devido à dor de cabeça fora do comum que martela meu cérebro, quase me cegando, decido apenas tirar minhas roupas e me deitar debaixo das cobertas.

Acordo com o relógio na mesinha ao lado da minha cama gritando e depois de segurá-lo, jogo-o longe e o desgraçado ainda grita, o que me irrita, então me levanto e desligo o maldito despertador.

Quando me levanto com ele nas mãos, vejo a cama da Charlotte totalmente arrumadinha, com um lençol do colégio e sabendo como minha amiga é desorganizada, vou até seu guarda-roupa o abrindo e ao vê-lo vazio, um sentimento de perda me invade.

Tento ligar para ela, como já venho fazendo desde o dia que saí com os meus pais e novamente cai na caixa postal. Mando a vigésima mensagem e nem mesmo chega para ela.

Me arrumo para a aula e mesmo que minha ideia inicial era fugir da Sra. Arianna, decido ir até a sala dela, já que ninguém sabe me dizer onde está a Charlotte.
Entro na sala depois de bater duas vezes e ela me mandar entrar e quando me vê, surge um sorrisinho do mal, quase imperceptível em seus lábios.

- Grace, que surpresa te ver aqui! - ela diz se levantando e vai até a porta para trancá-la.

- Vim saber sobre a Charlotte. Em que quarto ela está? - pergunto sem me sentar.

- Ela foi embora do colégio, sua família encontrou uma escola mais adequada para ela...

- Como assim? Ela não me falou nada! Hoje é sexta feira, ela não vai nem terminar a semana aqui? - pergunto confusa e chateada por ser a última a saber.

- Seus pais tinham pressa - ela diz e já me viro para sair, porém quando coloco a mão na maçaneta me lembro que a porta está trancada.

- Grace, devido à sua falta de educação com aquele gesto na semana passada, você está de suspensão por três dias, depois da aula quero que vá para o seu quarto e não saia de lá até segunda feira...

- Mas...

- A porta estará trancada e se você tentar alguma gracinha, eu mesma passarei o fim de semana trancada no quarto com você! - diz se levantando e destrancando a porta.

Saio da sala dela e no corredor encontro o professor Theodore, quando penso em abrir a boca para falar algo, ele simplesmente passa por mim e fico preocupada.

Não sei se a Charlotte teve tempo de contar o real motivo pelo qual não fui ao seu encontro. Talvez ele tenha pensado que desisti da ajuda que ele estava disposto a me oferecer.

Mesmo com vontade de sair correndo desse lugar, com a cabeça longe de tudo e todos, passei por todas as aulas e quando chegou a última que ironicamente é do professor Theodore, não consegui disfarçar ao olhar a todo momento, esperando encontrar sinais para as minhas respostas e quando enfim a aula acabou, esperei todos saírem e seu gesto de arrumar as coisas rápido, com a intenção de ir embora o quanto antes, me deixou em alerta, já que ele sempre guarda tudo muito devagar, justamente para podermos conversar sem levantar suspeitas.

- Theo, Eu...

- Grace, não me chame assim por favor! - diz me deixando paralisada e muito, mas muito preocupada mesmo.

- Theo, eu não tive a intenção de te deixar esperando, por favor não me abandone, não desista de mim! - falo já querendo chorar pois percebo sua indiferença para comigo e devido ao fato de estarmos há meses conversando e sendo amigos, isso me mata por dentro, afinal nem consegui digerir o fato de ter perdido a Charlotte, não posso perdê-lo também.

- Eu imagino Grace, mas não posso mais te ajudar, sinto muito.

- Não! Me ajude por favor! Minha mãe me odeia, acabei de ter certeza disso. Esse será meu último mês aqui e se você não me ajudar, ninguém mais vai! - falo já chorando e ele não parece se importar e isso me desespera.

Olho para o homem à minha frente, indiferente às minhas lágrimas e nem me parece que estou em frente ao meu tão querido Theo.

- Sinto muito Grace Jones, não posso fazer nada, até amanhã! - diz saindo e não acreditando que ele está tão frio assim, seguro em seu braço.

- Eu pedi à Charlotte para ir no meu lugar te encontrar, ela me mandou uma mensagem dizendo que estava te esperando no lugar marcado...

- Grace, ninguém pode saber que te ofereci ajuda! - diz até um pouco nervoso comigo, então aproveito para continuar.

- Então me ajude e ninguém nunca saberá, eu juro! - falo e ele respira fundo e sinto até um fio de esperança passar pelo meu corpo.

- Ok, mas terá que ser hoje, mesma hora, mesmo local e será sua última chance! - diz e sai me deixando eufórica, com o coração acelerado pois fui de um extremo ao outro em segundos.

Vou para o meu quarto e sem demora alguma arrumo minha mochila com pouquíssimas coisas, afinal foi assim que ele tinha me instruído anteriormente. Antes de sair deixei um amontoado de cobertas e travesseiros na minha cama e os cobri com um lençol, para que se caso alguém entrar no meu quarto, pense que estou dormindo. Em uma gaveta deixei um bilhete, dizendo que assim como a Charlotte, eu tinha ido embora, fugido de tudo isso e não queria que ninguém me procurasse, já que não davam a mínima para mim.

Não acho que alguém vá me procurar e mesmo que vá, já tenho 18 anos, o Theo me disse que não podem me obrigar a nada, principalmente se eu disser no bilhete que fugi com meu namorado, mesmo que eu não tenha nenhum.

Confesso que quando ele me disse para chamá-lo de Theodore fiquei com medo. Ele foi uma pessoa que se aproximou aos poucos e com o tempo pude perceber o quanto é um cara bacana que só queria me ajudar. Sempre tentando livrar minha pele das garras da supervisão que estava sempre de olho em mim.

Encontrei nele um amigo, e um belo dia, não muito tempo atrás, ele me pegou pensativa e quando desabafei sobre a minha família, ele se dispôs a me ajudar e sem pensar duas vezes aceitei, mesmo que a Charlotte tenha surtado com isso, me chamando de irresponsável, burra e tudo mais.

Estou magoada com a Charlotte, eu a amo muito, ela na verdade é a pessoa que mais confio na vida e ela teve coragem de ir embora sem ao menos se despedir de mim!?

Vejo um carro parar do outro lado da rua e quando o vidro é abaixado, vejo o Theo me chamar disfarçadamente e corro até ele já entrando no carro.

- Você disse um carro vermelho! - falo justificando o tempo que precisei para perceber que era ele dentro de um carro preto.

- Mudança de planos! - diz dirigindo concentrado.

- Grace, você falou para alguém sobre a Charlotte ter ido me encontrar? - pergunta dirigindo concentrado na estrada enquanto coloco o cinto de segurança.

- Não, ninguém sabe de nada, não se preocupe. Também não importa mais, ela foi embora sem nem se despedir de mim - penso alto demais.

- Ela não teve escolha...

- É claro que teve! Meus pais também decidiram me levar pra casa, mas eu pedi uma semana para poder me despedir dela e eles entenderam, os pais dela também entenderiam. - Digo e ele me entrega uma garrafa de água, dizendo para eu me hidratar como ele sempre faz com todos os alunos durante as aulas, está sempre nos lembrando de beber água.

Hum isso não tá me cheirando bem 😕

O que vc acha?? Comenta aqui 🙃
Tbm deixa seu voto ⚠️

O General da Máfia RussaOnde histórias criam vida. Descubra agora