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L o r d e    V o l d m o r t

Ver alguém morrer bem na sua frente não era a experiência que Draco achava que fosse. O mundo não parou de girar, ele não desabou de chorar, ele não sentiu dor física. O tempo não para. E isso é fodidamente injusto. Por um segundo que continha toda a eternidade - mas na realidade foi apenas um segundo que passou rápido demais -, Draco fitou o rosto impassível e sem vida de Cedric Diggory, seus olhos cinzentos abertos, que costumavam estar sempre brilhando e vivos, agora vidrados e inexpressivos como as janelas de uma casa deserta, a boca entreaberta num esgar de surpresa.

Então, antes que a mente de Draco pudesse aceitar o que seus olhos viam, antes que pudesse sentir alguma coisa além de atônita incredulidade, ele sentiu que alguém o levantava. O homem alto de capa pousara o fardo que carregava no chão, acendeu a varinha e saiu arrastando Draco em direção à lápide de mármore. O garoto viu o nome ali gravado faiscar à luz da varinha, antes de ser virado e atirado contra a pedra.

TOM RIDDLE.

O homem da capa agora estava conjurando cordas para prender Draco com firmeza, amarrando-o à lápide, do pescoço aos tornozelos. O garoto ouviu uma respiração rápida e rasa saindo do fundo do capuz; ele se debateu e o homem lhe deu uma bofetada – uma bofetada cuja força fez a borda do capuz levantar-se. E Draco percebeu quem estava sob o capuz. Jullian Nott.

"Seu bastardo..."

Mas Jullian, que acabara de conjurar as cordas, não respondeu; estava ocupado verificando se estavam bem apertadas, apalpando os nós. Uma vez convencido de que Draco estava amarrado à lápide sem a menor folga e que não conseguiria se mexer, Jullian tirou um pano preto de dentro das vestes e enfiou-o com violência na boca de Draco. O sonserino mordeu a ponta de seus dedos, ganhando outra bofetada por isso antes de ter o pano o calando. Depois, sem dizer palavra, Jullian virou as costas e se afastou depressa; o garoto não podia emitir som algum nem ver aonde fora; não podia virar a cabeça para ver além da lápide; só podia ver o que estava diretamente em frente.

O corpo de Cedrico se encontrava a uns seis metros de distância. Mais adiante, refulgindo à luz das estrelas, jazia a Taça Tribruxo. A varinha de Draco ficara caída no chão aos pés do rapaz. O fardo de roupas que Draco imaginara que fosse um bebê continuava ali perto, junto à lápide. Parecia estar se mexendo incomodado. O garoto observou-o e sua cicatriz queimou de dor... e, de repente, ele concluiu que não queria ver o que estava naquelas roupas... não queria que o fardo se abrisse...

Draco queria ir para casa. Ele realmente queria ir para casa.

Draco ouviu, então, um ruído aos seus pés. Baixou os olhos e viu uma cobra gigantesca deslizando pelo capim, circulando em torno da lápide a que ele fora amarrado. Arregalou os olhos e, por um segundo, pensou em sua serpente. Sentiu uma pontada no peito de saudade de Onyx. Ele queria ir para casa.

A respiração asmática e rápida de Jullian estava se tornando mais ruidosa agora. Parecia que arrastava alguma coisa pesada pelo chão. Então ele tornou a entrar no campo de visão de Draco e o garoto pôde ver que o bruxo empurrava um caldeirão de pedra para perto do túmulo. Continha alguma coisa que parecia água – Draco a ouviu sacudir – e era maior do que qualquer outro caldeirão que Draco já tivesse usado; sua circunferência era suficientemente grande para caber um adulto sentado.

A coisa embrulhada no fardo de vestes no chão se mexeu com mais insistência, como se estivesse tentando se desvencilhar. Agora Jullian estava mexendo com uma varinha no fundo externo do caldeirão. De repente surgiram chamas sob a vasilha. A enorme cobra deslizou para longe mergulhando nas sombras.

O líquido no caldeirão parecia estar esquentando bem rápido. Sua superfície começou não somente a borbulhar, mas também a atirar para o alto faíscas incandescentes, como se estivesse em chamas. O vapor se adensou e borrou a silhueta de Jullian que cuidava do fogo. Seus movimentos sob a capa se tornaram mais agitados. E Draco ouviu mais uma vez a voz aguda e fria.

O Torneio de Sangue - O menino que sobreviveu 4Onde histórias criam vida. Descubra agora