DIA 1
É como se eu fosse estrangulado, mas eu não vejo as mãos. Eu não vejo as mãos, mas eu consigo senti-las; e, mesmo assim, elas são gentis. Tão gentis. Eu não consigo explicar. Essas mãos me amam, mas também querem me machucar. Eu sinto como se não conseguisse respirar, mas não tenho certeza se são as mãos invisíveis que me impedem ou o pânico que estou sentindo. Tudo está tão confuso...
Harry leu as palavras no pergaminho mais uma vez, tentando compreender seus significados. Ele já tinha as analisado múltiplas vezes, mas não conseguia entendê-las. Existia algo de familiar, mas era como se a pessoa que as tivesse escrito estivesse tentando capturar, na escrita, um sentimento que nunca tinha sido de verdade.
Tudo era tão confuso, mesmo.
Harry colocou o pergaminho sobre sua mesa com um suspiro e então olhou para o relógio. Eram 9:12 da manhã. Michael e Hailey Gardner — os clientes prospectivos responsáveis por aqueles escritos confusos — estavam marcados para chegar em menos de vinte minutos, para discutir se os serviços de Harry seriam úteis para eles. Harry queria ter revisado o caso antes com seu colega, mas ele estava atrasado.
Harry engoliu em seco, tentando não pensar muito sobre o motivo do atraso. Ele voltou suas atenções para as cartas que os Gardner o haviam enviado, desta vez focando na de Michael.
Eu estou caminhando ao redor da casa, caminhando e caminhando. Às vezes é como se eu estivesse caminhando por horas. E eu me sinto tão triunfante e seguro de mim mesmo, porque eu tenho tudo que sempre planejei ter. Mas eu também estou tão bravo e não consigo explicar o porquê. Eu só... estou com fome. Eu tenho fome o tempo inteiro. Eu sei que as duas coisas estão conectadas.
Harry sabia que isso era importante; ele tinha certeza. Mas ele não sabia explicar como, não sem ver essa assombração por si mesmo. Ele correu a mão pelos cabelos, abaixando o pergaminho mais uma vez e, então, pensativo, olhou para o relógio. 9:14.
Draco, ele pensou, quase desesperado. Onde você está?
***
Tudo começou como uma brincadeira, na verdade. Uma forma de passar o tempo.
Depois de deixar aquela estranha e vazia Estação King's Cross no reino espiritual e retornar para a terra dos vivos, depois de derrotar Voldemort e finalmente ter uma boa noite de sono, Harry sabia que tinha mudado. Não era algo que ele conseguia compreender no começo. Primeiro era um zumbido em seu sangue, que ele conseguia de alguma forma relacionar com o sentimento de triunfo, ou talvez um alívio extremo de que tudo tinha chegado ao fim.
Mas então ele começou a notar outras coisas, notar uma maior consciência que certamente não estava ali antes. Seu retorno para Hogwarts, para ajudar a reconstrui-la, apenas solidificou esse sentimento. Ele percebeu que conseguia sentir onde todos os fantasmas estavam no castelo, e que havia mais deles do que antes. Ele sentiu a presença dos outros, mesmo quando não conseguia vê-los. Às vezes eles sussurravam para ele, carinhosa ou severamente, às vezes impacientemente. Era assustador no começo. Era como ficar diante do Véu no Departamento de Mistérios, só que... o mundo inteiro agora parecia o Véu para ele. Tudo o que ele precisava fazer era puxar a cortina.
Ele tentou explicar para Ron e Hermione, mas eles não tinham entendido. Hermione o observava com pena, como se ele finalmente tivesse enlouquecido, e Ron parecia simplesmente assustado, pedindo para que ele não falasse mais.
Não é assustador, ele queria explicar a Rony quando seus olhos se arregalaram. É um pouco reconfortante, na verdade.
Já haviam se passado três meses desde a batalha final quando seus sonhos começaram. Harry já vinha tendo, como a maioria de seus colegas veteranos, pesadelos com a guerra e as pessoas que tinham perdido. Esses sonhos eram diferentes, no entanto, como se não fossem sequer sonhos. Eles pareciam tão reais quanto quando estava acordado, quanto a temperatura do ar ou o toque da mobília onde estivesse sentado. Ele também estava lúcido, capaz de controlar seus pensamentos, suas próprias palavras.
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Sagehaven - DRARRY
FanficApós sua morte e consequente ressureição, Harry Potter ganhou a habilidade de se comunicar com os mortos. Agora ele trabalha como médium e detetive fantasma com seu parceiro de negócios, o teórico mágico Draco Malfoy. Ao serem contratados por um cas...