Decalcomania

Capítulo 6

"Esta é a última vez
A cena final da sua história
Obrigado pelo seu tempo
Seja feliz em um novo começo
Vou sentir sua falta infinitamente
Espero que nos encontremos novamente algum dia
Sorrindo como antes
O tempo vai nos curar"
Time,2022

Quando resolvi cancelar as aulas e evita-la, não sabia que sentiria tanta falta das suas piadas ruins e os trocadilhos com o meu nome, o novo instrutor é muito bom, prestativo e me chamava pelo nome com todos os honoríficos, mas quando ela levantava a sobrancelha pra sinalizar que eu tinha feito algo errado ou quando revirava os olhos em desdém algo em mim vibrava, era divertido. Ignorá-la me fez sentir como um babaca, acho que ela está tomando muito espaço na minha cabeça, entre os programas, as sessões de fotos e as gravações, sempre penso nela e o que ela diria sobre determinadas situações. Quando a vi naquele restaurante meu primeiro impulso foi sair antes que ela me visse, então percebi ela deitando parecia estar meio bêbada, peguei uma mesa mais afastada pedi comida pra viagem, faltava pouco para o lugar fechar, então fui até ela

-Você não pode dormir aqui - digo tentando acorda-la ela apenas se mexe- o lugar já está fechando

-Quem você acha que é? - pergunta passando a mão pelo rosto e se arrumando mais no pequeno banco- Fiscal do sono alheio?

-Claro que não - tento não rir da situação, ela está muito engraçada, os cabelos estão uma bagunça, ela não vai acordar - Tô mais para o cara que vai te levar pra casa...

Junto suas coisas, a mochila com alguns livros, sua bolsa, pago sua conta que, para uma mulher tão pequena deu um pouco caro demais, a coloco sobre o ombro, sempre quis fazer isso, a coloco no banco detrás, ela murmurar algo sobre venda de órgãos e última ligação, ligo para nosso chefe de segurança, ele não atende, não consigo lembrar o endereço da sua casa, tento falar com ela mas é inútil, ela dorme como se estivesse em um hotel cinco estrelas, sigo para minha casa, não penso muito nos problemas que isso pode trazer, espero que nenhum,preciso apenas ser cuidadoso, não poderia a deixar na rua.
Pego suas coisas e engancho  em um braço, a tiro com cuidado para não bater a cabeça, a coloco novamente no ombro, vou precisar de uma mão livre, quando entro em casa sou recepcionado pelo meu companheiro de quarto patas, ele faz festa e pula em mim, quando nota a garota ele late a acordando ou algo do tipo...

-Você me sequestrou? - pergunta olhando ao redor e então olha pro cachorro - oi meu amor, a mamãe chegou...

-Você não é a mãe dele - ela me olha com cara feia, o traidor de quatro patas faz festa pra ela - Bahm, vem garoto... - ele me ignora, totalmente rendido as carinhos da recém chegada.

-Senti saudades, meu amor - ela tem cachorro? Naquele apartamento? - Brahma, foi um bom garoto? Eu sei que foi...

-Bahm, seu nome é Bahm - tento a corrigir, mas parece que nenhum dos dois me escuta.

Estalo os dedos para chamar sua atenção, ela então levanta, olha ao redor ela está bem bêbada, talvez nem lembre de nada, ela chega bem próximo de mim, posso sentir o cheiro da bebida, sua mão passa suavemente pelo meu nariz, ela contorna meu rosto, passa o dedo na pequena cicatriz que tenho, não me movo, gosto dela assim, perto. Meu coração está acelerado, tenho vontade de toca-la, mas não o faço, seu dedo continua pelo meu queixo, então ela tira a mão

-Você é sem dúvidas a pessoa mais bonita que eu já vi - engole em seco - mas eu nunca vou admitir, jamais.

-Mesmo? - debocho

-Sim, mas negarei até a morte - diz balançando a cabeça negativamente se desequilibrado, a seguro pelo braço

-Acho que você precisa dormir - sugiro