Capítulo 3

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Te levarei para mais alto
Como eu desejei, no topo do mundo (ah-ah)
Não tem problema cair
Sou antifrágil, antifrágil (ah-ah)
Agora estou a caminho
Jogue fora, por favor, seu conto de fadas (ah-ah)
Agora você sabe meu nome
Sou antifrágil, antifrágil
Antifragile, 2023


Se eu expirar álcool no no olho dele sem querer, é vingança ou maldade? Penso enquanto higienizamos as mãos, nosso pequeno acerto de contas foi interrompido pelo professor, ganhei alguns roxos e o nariz sangrando. Agora nosso "castigo" é limpar os machucados um do outro. Sério mesmo? O que eu queria mesmo era bater nesse garoto até ele ficar feio, tudo o que ele aprontou essa semana, ele me dar nos nervos. Por causa dele eu limpei todos os vidros e espelhos da academia, meu nome magicamente apareceu como voluntária (em centros de treinamento é normal os novatos serem colocados para essas atividades, porém havia uma escala e eu segundo a escala iria limpar tudo até mesmo o estacionamento) eu não me importo em fazê-lo, porém a escala foi claramente sabotada, percebi de que se tratava de um certo coelho quando a sala de prática que eu usava no Studio foi alugada por vários dias e fico vazia e por último mas a gota d'água tive que estacionar duas quadras de distância pois ele colocou seu carro de um jeito que não sobrou vaga alguma para colocar minha moto, não tinha espaço para uma moto, como?

Aquela última semana em particular foi muito agitada, parecia que todo o universo estava conspirando contra, os professores na faculdade, toneladas de material para estudar, porém o que me tirou do eixo foi quando Maya, a minha daee me ligou

-Criança - sua voz estava aflita-por favor, ligue para a senhora, as coisas estão muito difíceis desde a sua partida.

Tentei várias vezes falar com minha mãe, ela não atendia e a vez que atendeu mudou de assunto totalmente e desligou logo em seguida, meus irmãos não iriam me contar, minhas cunhadas me odiavam e Maya não tinha permissão para falar mais do que já falou, aquilo ainda estava rondando a minha cabeça. Agora estava ali com o nariz sangrando, alguns roxos e um idol quase na mesma situação que eu de machucados, pensando se expiro ou não álcool no olho dele, quando minha vida perdeu o rumo dessa maneira? Que Ganesha me dê sabedoria pois a fúria de seu pai não me ajudou.

-Peço desculpas por ter te machucado - ele fala mordendo a parte interna do lábio inferior, toca no próprio nariz - Tá doendo muito?

-Não, foi mais alarde - minto, parece que meu nariz foi arrancado fora, porém ele já parece culpado demais - você tem um ótimo direito...

- Obrigado, eu acho - ele sorri sem graça enrugado o nariz, o observo melhor, sem dúvidas ele mexeu no nariz - posso começar se quiser...

-Owh, não eu começo, - pego o antisséptico e o algodão - rosto ou joelho primeiro?

- Rosto - merda, engulo em seco, qual é o problema? É só um cara bonito

-Ok, talvez arda um pouquinho - limpo o machucado perto da boca, em seguida passo o antisséptico, ele chia, passo a pomada em seguida, passo o gel no queixo onde meu cruzado pegou de leve, ele me observa em silêncio - Quê? - pergunto um pouco constrangida

- Suas mãos são leves, nem parece que fez esses machucados - puxo minha mão do seu rosto - Eu não estava reclamando..

-Coloque o joelho aqui - peço mostrando o lugar vazio entre nós, ainda estamos sentados no chão um de frente pro outro - Vai arder um pouco mais... - coloco o antisséptico e passo o algodão com mais força que o necessário, ele chia novamente, me vejo soprando o machucado, o que tá acontecendo comigo? - Desculpa...

-Pelo que? - ele pergunta sorrindo e sei onde ele quer chegar - por ter me machucado? Por ter sido grossa?

-Por tudo... - as palavras saltam da minha boca - apenas vamos deixar pra lá... - baixo a cabeça, estou envergonhada de toda aquela situação, eu bati em um aluno...

-Tudo bem, eu também passei do limite - ele admite, uma gota de sangue cai na sua perna enquanto estou passando o gel na sua coxa, ficou um roxo feio, não pensei que tivesse colocado tanta força - seu nariz está sagrando de novo, tem certeza que está bem?

-Estou - falo colocando a cabeça pra trás - daqui a pouco coagula

-Minha vez - ele pega o algodão e começa a limpar meu nariz e boca - se doer me avisa que eu paro

-Ok - essa frase soou muito estranha o que me fez ficar com vergonha

-Você tem um nariz fofo - fala enquanto termina de limpar- vai ficar roxo por uns dias eu acho,tem certeza que não quer ir na emergência?

-Vou sobreviver - ele parece concentrado na tarefa, observo seu rosto, a estrutura quadrada do maxilar, os olhos redondos o nariz meio arredondado e levemente achatado,o lábio superior mais fino e bem desenhado o inferior mais carnudo deixava sua boca tão... Que merda eu tô fazendo - eu, eu,eu posso terminar...

-Agora é a parte que arde - ele fala ignorando meu protesto, passa o antisséptico no machucado da boca e do nariz, arde como o inferno, faço careta e ele sopra, ele simplesmente sopra pra aliviar - melhor? - pergunta sorrindo, aceno que sim.

Em seguida ele pega o gel coloca na mão, como estou sem camiseta o machucado está bem aparente e bem escuro, não tenho tempo de me esquivar sinto sua mão grande e firme passando o gel gelado nas minhas costelas, me assusto com o mix de sensações

-Owh, me desculpe, te assustei ou machuquei? - pergunta aliviando a pressão de onde está massageando - ainda dói? - sua expressão preocupada o deixa muito fofo.

-Não, - começo a me levantar, toda essa situação é muito esquisita, alguns minutos atrás queria socar ele agora estou aqui reparando na pequena cicatriz no seu rosto e como é adorável a pequena pinta que ele tem embaixo do lábio, muito perto, perto demais - não é como se eu nunca tivesse me machucado, sabia?

-Ok, você que sabe - diz levantando as duas mãos, levanta e aponta para a porta depois de juntar suas coisas - eu vou primeiro, se cuida...

Aceno, ele se curva e eu espelho seu movimento, assim que a porta fecha eu sento, a dor está insuportável, respiro devagar. Depois de alguns minutos, termino de organizar a sala e vou, desço as duas quadras onde deixei a moto, estou com dois capacetes graças a carona que dei a Hadassah hoje cedo. Vejo uma movimentação estranha em torno da academia, algumas garotas com câmeras, celulares e cartazes, tive um mal pressentimento. Quando chego onde a motocicleta está estacionada vejo o garoto sopa dentro do pequeno mercado, outra garota tira fotos dele e fala com alguém no celular, olho em direção a academia e vejo mais garotas vindo agora em nossa direção, é um pouco assustador, ele não parece estar com nenhum segurança, o desastre está eminente, coloco o capacete e subo na moto, sigo para a rua adjacente onde eu sei que ele vai passar, alguns minutos ele avista a pequena multidão, ele paralisa, olha para os lados, está segurando uma pequena sacola, estalo os dedos chamando sua atenção, quando ele olha jogo o capacete reserva (obrigada Hadassah)

-Sobe - lhe oriento, ele parece não me reconhecer, abro a viseira - sou eu, elas não te viram ainda, sobe agora

-Que? Quem? - coloca o capacete e sobe, apoia a mão no meu machucado, minha alma sai brevemente do meu corpo - pra onde vamos?

-Um lugar seguro, vai ter que confiar em mim...







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