Epílogo 1

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"Rindo juntos, chorando juntos
Eu acho que essas emoções simples
Eram tudo para mim

Quando será
Que vou te ver cara a cara de novo?
Vou olhar nos seus olhos
E dizer que senti sua falta"
Still with you, 2020

    Na Pérsia corre a lenda de um príncipe que um dia saiu para caçar com o seus dois servo na floresta, estava quase anoitecendo, mas por capricho eles foram assim mesmo, em determinado momento perceberam que estava sem água e o primeiro servo voltou para buscar, o segundo riu do infortúnio e falou "tudo acontece para o melhor" o príncipe nada entendeu, mas continuaram, adentraram a floresta em um certa altura um galho caiu sobre o príncipe machucando-lhe o rosto, o servo novamente volta a dizer, "não se aborreça meu senhor, tudo acontece para o melhor", eles andaram um pouco mais e o servo acabou caindo em um buraco, o príncipe tentou ajudá-lo mas não conseguiu, então resolveu voltar e pedir ajudar para resgatar o servo, no meio do seu acesso de fúria ele ainda ouviu o servo de dentro do buraco "tudo acontece para o melhor" o príncipe não conseguia ver onde estava o melhor ou como tantas desventuras poderiam resultar em algo bom. Quando estava andando a um bom tempo o jovem príncipe é emboscado e levado como refém por um bando que faziam sacrifícios humanos, ao começar o ritual perceberam que a oferenda tinha machucados então não poderia ser oferecido em sacrifício, porém severia como refeição, quando cortaram sua palma ele não sangrou,  então o libertaram pois ele não era saboroso o suficiente. Tudo isso fez o príncipe pensar que realmente tudo o que acontecia, acontecia para o melhor, se o primeiro servo não tivesse esquecido a água ele estaria hidratado teria sangrado e seria a refeição, se não tivesse se machucado seria sacrificado, se o servo não tivesse caído no buraco ele quem seria o  sacrifício Eu não sei de fato se tudo o que está acontecendo comigo se encaixa nesse contexto, mas minha mente se apega a isso desesperadamente, precisa existir algo melhor que justifique tudo isso.

      Depois que cheguei da Tailândia as palavras de Kabir ainda estavam frescas na minha cabeça, não era o melhor dos acordos, mas era o que tinha, ele pediu para que eu fosse honesta, me despedisse, falou sobre conhecer amores impossíveis e então fez a tal proposta, não encostaria um dedo em mim, seríamos casados apenas no papel, tinha apenas duas condições, manter as aparências e no final do período de cinco anos ter um filho. Primeiro eu ri, na verdade eu gargalhei, então percebi que nas minhas circunstâncias atuais era o melhor que conseguiria então concordei. Quando desembarquei passei em casa apenas para deixar as malas, se visse as gêmeas antes de resolver tudo, desabaria e tudo iria ser muito mais difícil.

Eu o amei e o odiei por ser tão cuidadoso e atencioso, o banho, ele trazer o Bamh, me deu espaço quando não quis falar e me ouviu quando falei ele sabia que era uma despedida, mesmo assim não questionou, fui covarde em deixá-lo dormindo, mas não conseguiria fazer diferente. Agora viria a segunda parte da despedida da Coreia, teria que lidar com duas gregas de gênio forte.  Se eu pudesse descrever Hadassah e Talassa em duas  palavras seriam lugar seguro. Tudo seria bem mais difícil sem elas, quando as conheci as julguei não vou negar, duas mulheres adultas vivendo delírios adolescentes tão longe de sua terra Natal, hoje percebo que o estilo de vida delas é no mínimo divertido e emocionante, tudo isso lhes dão prazer e isso que importa no final, acho que é isso também que as deixam tão humanas e empáticas. Entro no apartamento e dou de cara com as duas, pelas caras acho que estão me esperando e ali no meio daquela sala eu desabo, conto tudo, desde o noivado à carta que deixei para o garoto sopa, elas me escutam, consolam e Talassa já planeja uma vingança o que me tira boas risadas no meio das lágrimas.

-Isso é tão injusto - Hadassah fala secando as lágrimas - vocês formam um casal tão fofo

-Também acho - Talassa concorda - e a gente nem teve tempo de conhecer os amigos dele...

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