Adulta e Autista°

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Hoje numa etapa bem difícil, conviver com o Autismo está sendo impossível.
Tenho 18 anos e tenho que sair da casa dos meus pais, não tenho trabalho e estava investindo dinheiro, quando tinha, na casa do meu namorado pra morar ali, mas até nisso o Autismo atrapalha.
Entra o T. E. A numa balança com o amor e a esperança de correr da minha família tóxica.
Eu não sei compartilhar, não porque não saiba compartilhar comida ou espaços. Mas porque não aceito o fato de que ninguém vê as coisas como eu, meus objetos de apego são tão sem sentido pra outras pessoas, inclusive tentando se acostumar a que eu não vivo sem eles.
Nas coisas pequenas, no momento de sentir o que me pertence, só meu.
Tem dias que não gosto de dormir na mesma cama que o meu namorado, pelo simples fato de eu não ter comprado ela, me corre uma vontade impulsiva de tirar a roupa de cama que EU COMPREI e dormir aonde for, mas não ali.
Sendo quase impossível explicar pra ele que eu amo ele com minha vida e adoro dormir com ele, mas me sentir incomoda aonde tava cómoda faz 1 minuto, não é escolha.
Meu namorado gosta muito de que eu utilice suas roupas, pra dormir, pra andar na casa e inclusive até pra sair, que eu fique com elas e que devolva quando for minha vontade. E não é que eu não gosto, mas minha vontade de devolver inicia na hora que ele me dá a roupa, no momento que eu sei que posso manchar, rasgar ou qualquer coisa, porque toda hora tenho uma distração, uma dissociação ou inclusive bato em lugares e nem eu mesma percebo.
Ele jura não ter problemas com o meu T. E. A, inclusive ele me cuida muito e é bem atento na hora de pegar uma culer pra mim cada que vamos comer, não me deixar encostar em coisas que não aceito a textura pela minha sensibilidade, e muitas outras coisas.
A ansiedade, o entender que o outro não está obrigado a fazer, nem aceitar e muito menos conviver com alguém que não é normal, come a cabeça de nós, Autistas maiores de idade tentando viver num mundo de gente normal.
O papo de não me sentir completamente bem em nenhum lugar por muito tempo, de me incomodar a propia roupa em qualquer momento do dia, em querer andar de meia por não aguentar o pé presso num sapato.
O papo de ele gostar de futebol, e não poder desfrutar os jogos e comemorar gritando ou cantando alto, porque eu não aguento os barulhos, ou ter que me repetir tudo porque em qualquer momento do dia perco a facilidade de escutar tudo na mesma hora e tenho que colocar os fones.
O papo de não ser normal, o papo de ouvir, sentir e ver o que ninguém.
Em quanto os outros podem sentar e olhar a TV, eu ouço e vejo tudo menos a TV. O carro que passo a kilómetros, o vizinho conversando, o barulho de cada movimento nem que seja mínimo, é até as respirações por mais longe ou perto que estejam.
Tem tantas coisas, que não é só o simples fato de conviver com alguém que a gente ama e fazer como se o Autismo não existisse, e as vezes é fácil, tem dias lindos pra caramba.
Mas tem momentos que a gente implora por ser normal.

Eu e o Autismo°Onde histórias criam vida. Descubra agora