Faz tempo que não consigo escrever, não por não ter sobre o que escrever, mas sim porque é tanto o que aconteceu nesses últimos tempos que não sei por onde começar.
Foram meses de muitas mudanças, buracos emocionais, crises, problemas e demais.
Meu Autismo tem me atacado junto com as dificuldades da vida e agora mesmo, tô no chão.
Não de um jeito confortável como quisesse, se não bem ao contrário.
Pra tentar me explicar: tô no chão, jogada sem meia no pé e com um zapato que aperta pra caralho, tô sendo obrigada a beber água sem canudo e a comer tudo aquilo que não gosto, nas horas que mais odiava. Com uma caixa de som no volumem máximo, na música mais cansativa e com uma rutina intermitente e sem balance.
Espero que alguém tenha entendido o que quis dizer.
Sendo mais direta, a vida me pegou pelos cabelos e tá me jogando pelo ar.
Vou começar desde a última que escrevi.
Separei por 1 semana, voltei pra a casa dos meus pais e perdi 13 kilos, querendo ver isso desde os olhos do meu Autismo, foi tão horrível que não gosto nem de lembrar.
Ainda tô tentando colocar na minha cabeça que não foi minha culpa, inclusive porque foi isso que o meu namorado deixou em claro e hoje em dia a gente voltou a estar, quero entender que pra as pessoas normais, é bom se tomar um tempo pra recapacitar. Mas minha cabecinha Autista ainda se culpa, se faz responsável pelo que não é sua responsabilidade e tenta remendar tudo como se fosse roupa rasgada, a hiper empatia é horrível as vezes.
Tentei lidar com essa semana do melhor jeito que consegui, lembrando que pra mim não era necesario que isso acontecesse e não entendia nada do que tava vivendo, mas não foi o melhor, inclusive nem chegou perto disso. Eu me acabei de chorar, a penas e vivia de agua.
A falta das costumes com ele gritavam todos os dias, não existiam crise de choro, nem de raiva, nem me sentia sobreestimulada do lado dele. Já tinha pegado jeito pra dormir, não precisava de fones de ouvido e ninguém tinha que perder o seu tempo cantando pra mim cair no sono.
Eu tinha com quem fazer tudo e de um dia pra outro, não tinha mais nada. Nem 1 lugar aonde estar cómoda comigo mesma.
Admito que os primeiros dias, tirar minhas coisas da casa, explicar pra os outros que a gente não tava mais e me convencer de que seguramente a gente não voltasse, me consumiu por completo. A falta do seu cheiro, seus beijos, seus abraços e perceber que podia receber o mundo, da mão de qualquer um, mas eu queria ele.
Além de desafabar, sei que muitos estão pensando em que eu tinha uma dependência emocional, e a realidade é que não. Eu simplesmente sou uma pessoa Autista, Neurodivergente, apaixonada e com traumas e muitas feridas abertas. Se lê fácil, mas é difícil pra caralho e cada problema, por mais mínimo que seja pra o olho alheio, consegue derrumbar meu emocional, meu físico e minha vida toda.
Me tirar do de todos os dias, do lugar que é meu lugar seguro, a pessoa que amo, as facilidades. Me tirar tudo de um segundo a outro foi terrível.
É complicado pra mim trocar de lugar um móvel, porque me acostumo a ver ele ali e sinto como se tirassem uma parte de mim, se ele não tá lá. Imagina a pessoa que amo.
Desde essa semana, comecei a ter crise de choro, as vezes por motivos suficientes e as vezes por coisas sem muito pé nem cabeça, mas que deixam eu chorando por horas, sem ter nada que consiga me acalmar.
Vi, senti, e percebi coisas que não queria ter visto, sentido nem percebido, pra depois voltar. Inclusive falei muitas vezes, que achei innecesario o sofrimento que os 2 tivemos que passar.
Não só pela separação, se não porque a gente vê quando sai, o muito que a gente deixa dentro de uma casa, e de um relacionamento, da propia gente.
A gente separou o mesmo dia que era pra comemorar 1 mês mais, e eu tinha feito uma surpresa que queimei num momento de muita tristeza, raiva e uma mistura de tudo dentro da alma. Uma crise, de muitas.
Não consegui entrar em meu mundo por semanas depois do acontecido, ou seja, eu não tinha paz, estava tipo em modo alerta a tudo o que acontecesse. 4 dias depois, levantei da cama, me arrumei e tentei fazer vida normal, não deu certo de primera, mas eu sobrevivi essa semana e junto com todo o que estava acontecendo, eu conseguia me dar parabéns por aguentar.
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Eu e o Autismo°
ChickLitUm pouco da minha vida depois de descobrir o meu T. E. A (Transtorno do Espectro Autista).