°Silêncio

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E nesse "parabéns" por eu mesma me aguentar e aguentar tudo e continuar tentando, me vi muitas vezes na vida, antes e depois de saber que eu era Autista.
Me vi fazendo coisas que ninguém fazia num momento de estresse, tristeza ou até mesmo bravessa.
Recebi "parabéns" dos outros por "sobre levar as coisas com tanta paz", como se eles tivessem noção do que tinha na minha cabeça.
Me vi rencontruindo o meu redor como se isso arrumasse o meu interior.
Normalmente as pessoas em momentos de crise quebram coisas, choram, brigam ou até mesmo gritam e xingam. E eu, desde muito pequena e sem conseguir ver os rasgos do Autismo e outros transtornos, sempre começava a arrumar, enfeitar, criar coisas com pepeis cores e até saia pra caminhar, mas não era pra acalmar a mente, era pra juntar folhas, aprender os cantos dos passarinhos, assobiar muito sem que ninguém reclamasse.
Era pra entrar no meu mundo e deixar que tudo passasse.
Desde muito pequena sabia que eu não era como a outra gente, nas coisas mínimas e até no mais grande.
Hoje, entendo que por ter me obrigado a não sentir as coisas como realmente eram, eu nunca fechei esse monte de feridas que foram abertas no meio de brigas, de momentos tristes, de xingamentos ou inclusive em crises.
Porque até em meio de um ataque da minha cabeça contra eu mesma, sempre fiz como se nada. Coloquei a minha pior cara de bunda e sai arrumando as coisas que estavam tortas ou colocadas por cores diferentes e não em degradação como eu gostava.
Teve etapas da minha vida que a única resposta que eu tinha era o silêncio, inclusive hoje me encontro em uma delas. Aonde não interessa que tão estressante ou que tantos sentimentos esteja gerando uma situação, eu vou ficar calada.
Posso chorar, inclusive até por demais, mas não vou falar, reclamar e menos gritar ou brigar.
Acredito que hoje estou numa idade na qual entendo que as atitudes alheias não são minha responsabilidade e nem é minha obrigação fazer o outro entender ou mudar, menos ainda quando não tenha essa paciência comigo mesma.
Mas é evidente que uma pessoa neurotipica não vive as coisas como eu.
Entrar no meu mundo não quer fizer que não tenha interesse, que não dói ou que já superei. Entro no meu mundo porque não sou capaz de sobre-levar o que está acontecendo nessa hora.

Eu e o Autismo°Onde histórias criam vida. Descubra agora