°Paz?

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Tem dias e DIAS.
Dias que parece estar tudo bem, tudo baixo o meu controle. O quarto tá arrumado, o cachorro cheiroso, o meu cabelo bonito e o copo com canudo e água, do meu lado. Dias que posso desfrutar a lua e as estrelas, que enxergo o bonito do céu e o quanto ele foi companheiro na minha vida.
Dias que escrevo, canto, ando de fones de ouvido e com meia no pé. Tardes que me permito dormir do jeitinho mais confortável pra mim (travesseiros demais, meu cachorro do lado e com meu cobertor de paz).
Noites que saio pra caminhar, escuto as melhores letras e é com elas no meio do meu peito, que sinto nos ossos o que os cantantes tentam expressar.
Dias que não sinto tudo de cabeça, me levo bem com os meus pais, não brigo com ninguém e até consigo me fazer entender.
Fico leve como as nuvens e consigo ser funcional.
E tem DIAS.
DIAS que tristemente são mais que os dias.
DIAS que não tenho paciência nem pra mim, nos quais não interessa se tô de meia no pé, chinelo ou tênis. Não interessa se a roupa tá torta, se tenho fones ou se realmente tô a escutar o que tá acontecendo.
Noites aonde não vejo a beleza do céu, aonde fumo como se minha vida não dependesse dos meus pulmões. Não me interessa brigar com todos e ficar sem ninguém.
DIAS aonde não é importante lutar pra comer, nem se bebi a suficiente água. Se tá desarrumado, de alguém mandou mensagem, se tenho vontade ou não de escrever.
Esses DIAS que é pesado desgrudar os olhos, levantar e andar, que é chato falar, tomar banho e inclusive simplemente existir.
Por isso falo que ser Autista é conhecer "um novo eu" todos os dias.
Ontem comi ovo mexido com arroz e hoje senti nojo do ovo e o arroz tava com muito gosto de arroz. (Os Autistas vão entender)
Estar comigo, as vezes, é confortável. Calmaria e até diria que paz e armonía.
Mas estar sozinha com minha cabeça, é fazer guerras num copo d'água e voltar a começar.

Eu e o Autismo°Onde histórias criam vida. Descubra agora