Cena 10

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Planície entre os dois acampamentos. Entram Antônio e Escaro, com forças, em marcha.

ANTÔNIO — Hoje os preparativos deles visam a um combate no mar; não lhes deixamos boa impressão em terra.

ESCARO — Visam a ambos, meu senhor.

ANTÔNIO — Desejara que quisessem brigar no ar e no fogo que eu iria batê-los até lá. Mais eis o ponto: a Infantaria ficará conosco na colina mais perto da cidade. Para o mar já dei ordens. Os navios o porto abandonaram, colocando-se onde melhor possamos observá-los e ver como manobram.

(Saem.)

(Entra César com suas forças, em marcha.)

CÉSAR — Se não nos atacarem, ficaremos quietos em terra, que é como pensamos que vai acontecer, pois as galeras ele equipou com seus melhores homens. Desçamos para o vale. Sede atento para quanto nos possa dar vantagem.

(Saem.)

(Voltam Antônio e Escaro.)

ANTÔNIO — Ainda não se chocaram. De onde aquele pinheiro se alça poderei ver tudo. Logo virei contar-te o que acontece. (Sai.)

ESCARO — Nas antenas de Cleópatra construíram ninhos as andorinhas. Consultados, os áugures respondem que não sabem, que não podem falar, fazem carranca, não se atrevendo a revelar-nos nada. Antônio ora é valente, ora abatido, com sobressaltos, sua sorte inquieta lhe infunde medo ou o deixa reanimado, conforme considere o que já obteve ou o que falta alcançar.

(Barulho ao longe, como de batalha naval.)

(Volta Antônio.)

ANTÔNIO — Perdido tudo! Traiu-me a Egípcia infame; minha esquadra se passou para o imigo; os marinheiros jogam para o ar os gorros e, formando grupos ali, alegremente bebem como amigos há muito separados. Três vezes prostituta! fui vendido por ti a esse noviço. A ti, somente, meu coração faz guerra. Dize a todos que fujam, pois quando eu puder vingar-me da feiticeira, terei feito tudo. Dize a todos que fujam. Vai depressa. (Sai Escaro.) Ó sol! não mais verei teu nascimento. Antônio e sua sorte aqui se apartam; as mãos nos apertamos neste ponto. Chegaremos a isto? Os corações que vinham rastejar a meus pés, como sabujos, aos quais eu sempre fiz todos os gostos, agora se dispersam, derramando sobre o flórido César seus perfumes. E fendido se encontra este pinheiro que a todos abrigava. Fui traído. O coração enganador do Egito, fatal feitiço cujos olhos sempre me armavam para a guerra ou me faziam dela sair, em cujo peito eu tinha minha coroa, a meta da existência! tal como uma cigana, em enganaste de todo jeito e me lançaste ao próprio coração da desgraça! Eros! Eros! (Entra Cleópatra.) Para trás, malefício!

CLEÓPATRA — Por que se acha com seu amor o meu senhor zangado?

ANTÔNIO — Some de minha vista; do contrário, dar-te-ei o que mereces, estragando o triunfo, assim, de César. Que te pegue, que te exponha aos apupos da canalha! Vai atrás de seu carro, como a grande mancha de todo o sexo. Por um óbolo, pela menor entrada serás vista como um dos monstros mais característicos; e que com suas unhas bem afiadas a meiga Otávia te lacere o rosto. (Sai Cleópatra.) Fizeste bem fugindo, se se pode dizer assim, por continuares viva. Fora melhor que presa ora te visses de minha fúria, que tua morte, apenas, prevenira muitas. Eros! Eros! A camisa de Nessus me comprime. Alcides, meu antepassado, ensina-me tua cólera! Deixa que nos cornos da lua eu ponha Licas, e com esta mesma mão que brandiu a dava ingente a melhor parte de mim próprio extinga. Que morra a feiticeira! Ela vendeu-me para o jovem romano; caio vítima da conjura dos dois. Morra por isso. Eros, olá! (Sai.)



Antônio e Cleópatra (1607)Onde histórias criam vida. Descubra agora