Save Myself

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Jerry olhava o tecto do quarto do hospital onde se encontrava há quase dois dias. Ainda estava fraco e meio alheio a tudo o que o rodeava. Pudera... acordara no dia anterior, completamente perdido no tempo e no espaço. A única lembrança que tinha era de Carol e Daniel à sua frente a olhá-lo na pista de dança...antes do manto negro envolvê-lo novamente, tal como da primeira vez. Depois não se lembrava de mais nada. Acordara naquela cama, naquele quarto de hospital sem saber muito bem como fora lá parar. Sabia que antes de desmaiar, já não se estava a sentir bem... mas o que lhe provocara o desmaio era um mistério.

Ainda não recebera visitas, mas já falara com Daniel pelo telemóvel

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Ainda não recebera visitas, mas já falara com Daniel pelo telemóvel. Ele iria visitá-lo nessa tarde, com Tessa. Jerry sentia-se algo aliviado... o sentimento de solidão estava a bater forte nele e precisava de ver um rosto amigo... neste caso, dois rostos amigos. Também gostaria de voltar a ver Carol, mas isso já seria um milagre improvável de se concretizar. Contudo, uma imagem muito ténue assaltava-lhe a mente constantemente... ela junto a ele naquele quarto, a cobrir a sua mão e a olhar para ele com preocupação. Poderia ter sido um sonho... ou uma imagem fabricada pela sua cabeça, mas parecia-lhe tão real, tão frequente. Será que ocorrera, de facto?

Precisava de enviar uma mensagem à sua mãe, só para a tranquilizar. Já estava há 3 dias em Londres e não tinha dado sinais de notícia. E já recebera várias mensagens dela e todas a raiar o desespero... apanágio de uma mente dramática. Até tinha uma mensagem do seu tio Robert, o que era muito incomum, visto que ele raramente enviava-lhe mensagens. Quando era para descompô-lo ou para elogiá-lo, fazia-o sempre presencialmente... cara à cara. Por isso, gostava muito de confidenciar os seus medos, fraquezas e alegrias com o seu tio... mais do que com os pais.

"Olá sobrinho. Como vão essas férias? Emoções fortes ou nem por isso? Manda lá uma mensagem à tua mãe, que ela está a chagar-me a cabeça há 3 dias! Já sabes como ela é!"

"- Se sei..." - pensou, sorrindo ligeiramente. Estava a voltar à sua realidade terrena. Só não sabia muito bem o que iria escrever para tranquilizar a mãe. Falar sobre a sua estadia hospitalar estava fora de questão. Tinha que ser telegráfico... como sempre.

"Olá mãe. A viagem foi boa e estou a curtir Londres. Espero que estejas bem. Beijos, Jerry" - simples e eficaz... perfeito para pacificar a mente neurótica da mãe. Herdara dela a queda para as depressões. Há anos que ela tomava comprimidos para se sentir mais animada com a vida, depois da sua irmã Josephine ter saído de casa bruscamente, sem nunca mais dar notícias. Ninguém manteve a sua normalidade perante esta situação... aliás, deixou toda a família à beira de um ataque de nervos. Lembrava-se bem da época em que tal facto ocorrera... tinha 20 anos e acabara de entrar na faculdade no curso de engenharia informática, depois de ter sido dispensado pelo Exército. A sua irmã, então com 28 anos, simplesmente resolvera sair de casa... para nunca mais voltar. Sempre fora a rebelde da família, causando problemas aos seus pais constantemente. Ela chocava muito com a sua mãe, visto que ambas eram muito parecidas na casmurrice. No entanto, com o seu pai Henry a história era outra... eles adoravam-se. Josephine era a favorita de Henry. E ele, era o menino da mamã... apaparicado até à exaustão. Contudo, naquela altura, sentiu-se ignorado por ambos... nem mesmo a sua entrada na faculdade fora o suficiente para eles se importarem com a sua presença ou com os seus feitos. A ausência de Josephine consumia a alma deles e Jerry ficou encostado a um canto, na sombra. O unico que se lembrava de si era Robert Fitzgerald, o irmão gémeo da sua mãe e o seu melhor amigo. Podia confidenciar muitos aspectos sombrios da sua mente com o seu tio... porque ele de facto se importava com ele. E assim, começou o seu desapego aos pais. Falavam-se quase diariamente, mas existia uma distância física entre eles... cada um na sua casa, sem intromissões. E como Jerry adorava a sua liberdade, a sua individualidade e não ter que dar explicações dos seus actos com eles... só o fazia com o tio, porque este, muito abertamente, confrontava-o constantemente.

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