Carol estava deitada na cama, ouvindo a chuva a cair naquela tarde nublada. Só queria estar no seu canto a reflectir sobre a sua vida. Passaram-se três dias após o seu tumultuoso reencontro com Jerry num dos WC's do Old Vic Theatre. A cena ainda reverberava na sua mente como uma melodia dissonante, uma mistura de paixão e dor que se entrelaçavam nos seus pensamentos. A solidão tinha sido a sua única companheira naqueles dias cinzentos, enquanto lutava para entender as complexidades dos seus sentimentos. O seu coração estava dilacerado, dividido entre o desejo avassalador por Jerry e a mágoa profunda pela traição que testemunhara. Cada batida ecoava o nome dele, cada suspiro era um lamento silencioso por um amor impossível. Ela viu-se presa num turbilhão de emoções conflitantes, incapaz de escapar do redemoinho que a envolvia.
A lembrança do beijo trocado entre Jerry e Daphne era como um espinho cravado na sua alma, uma ferida aberta que se recusava a cicatrizar. A imagem daquela cena assombrava os seus sonhos, transformando as suas noites num enorme tormento. Como poderia ela suportar a ideia de que ele a trocara por outra mulher? No fundo, ela sabia que Jerry poderia trocá-la a qualquer momento por outra mulher mais jovem e bonita... não poderia censurá-lo por isso. Contudo, a dor da traição queimava como uma chama incessante dentro do peito de Carol, consumindo-a lentamente por dentro. Cada vez que fechava os olhos, a imagem do beijo entre Jerry e Daphne dançava diante dela, como um fantasma que se recusava a ser exorcizado. Era uma ferida que se recusava a cicatrizar, uma sombra que pairava sobre cada momento compartilhado com ele. A diferença de idades entre eles era apenas um detalhe superficial, mas era como um elefante na sala, sempre presente, sempre impedindo-os de alcançar a plenitude no seu amor. No entanto, apesar do peso da incerteza, havia também o brilho tênue da esperança. Por mais que a dor da traição a assombrasse, Carol sabia que ainda amava Jerry com uma intensidade avassaladora. Havia algo nele que atraía a sua alma como um ímãn, algo que ela não conseguia explicar nem ignorar. E por mais que tentasse afastar esses sentimentos, eles sempre retornavam, mais fortes do que nunca.
A única certeza que tinha naquele momento é que tinha de regressar a Brooklyn o mais depressa possível. Começava a ser insustentável permanecer em Londres, sabendo que poderia esbarrar com Jerry outra vez. Tinha de se afastar dele e do sentimento intenso que a inundava sempre que o via. Ela não era a mulher certa para ele e muito menos tinha o direito de o impedir de se envolver com uma mulher mais nova. O seu coração estava em guerra consigo mesmo, dividido entre o amor avassalador que sentia por ele e a dolorosa consciência de que nunca poderiam estar juntos da forma que ela desejava. Cada momento ao lado dele era uma tortura, uma lembrança constante daquilo que ela não poderia ter. E agora, com a iminência da sua partida para Brooklyn, essa dor se intensificava ainda mais.
Abriu a gaveta da sua cómoda e pegou no guardanapo, que continha o contacto de Jerry. O seu coração batia descompassado, enquanto os seus olhos fixavam o número dele no guardanapo. Cada pulsar do seu dedo sobre a tela era uma batalha interna entre o desejo avassalador de se confessar perante ele, e a determinação de seguir em frente sem olhar para trás. Ela sabia que uma simples ligação poderia mudar tudo, poderia desencadear uma avalanche de emoções que ela não estava preparada para enfrentar.
Com um suspiro resignado, voltou a guardar o guardanapo na cómoda e começou a chorar, desesperada. Decididamente tinha de regressar à sua vida monótona, mas estruturada e expectável, que não lhe fazia sofrer. Ela recusava-se a sofrer... aliás, já tinha sofrido imenso ao longo da sua vida e não queria deixar o sofrimento regressar.
As suas lágrimas fluíam livremente, uma torrente de emoções que ameaçava inundar a sua alma. Ela sentia como se estivesse a ser arrastada para um abismo de dor e desespero, incapaz de encontrar uma saída para o labirinto de sentimentos que a aprisionava. Cada soluço era um grito silencioso de angústia, uma expressão do tormento que consumia sua mente e seu coração. Carol sentiu uma mistura avassaladora de raiva e desespero se apoderando dela. Raiva de si mesma por ter permitido que o amor a cegasse para a realidade, por ter se entregado de alma a um possível sonho que nunca poderia se tornar realidade. Desespero por estar presa num ciclo de sofrimento e dor, incapaz de escapar das garras do passado que a perseguia sem piedade.
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Apenas o Início
RomanceNuma sociedade onde as convenções sociais, muitas vezes, ditam as regras do amor, surge uma história de paixão e superação. Esta história apresenta-nos Jeremy Whitaker, de 33 anos, um arquitecto de segurança atraente e peculiar, que pretende tratar...