You and I

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Jerry e Carol estavam completamente ensopados quando chegaram à porta do edificio onde morava Daniel. A chuva torrencial não mostrava sinais de trégua, e o vento soprava com uma força que parecia querer arrancar-lhes o último resquício de esperança. Cada passo até ali fora marcado pelo barulho de água espirrando sob os seus pés e pelo frio que lhes penetrava até aos ossos. Jerry e Carol subiram as escadas até chegarem ao apartamento de Daniel. Jerry observou o rosto dela, uma mistura de ansiedade e determinação. Sem dizer nada, ele puxou uma chave do bolso e abriu a porta, revelando um interior quente e acolhedor, iluminado apenas pela luz suave de algumas lâmpadas.

- De quem é esta casa? - perguntou Carol, com a voz trémula de frio e curiosidade.

 - É do Daniel. - respondeu Jerry, segurando a porta para ela entrar. - Ele viajou com a Tessa para fora do país. Estamos sozinhos aqui. Não seremos incomodados.

Aquela informação fez Carol hesitar por um momento, mas o calor convidativo do interior rapidamente a convenceu. Entrou, sentindo a diferença imediata de temperatura. Jerry fechou a porta atrás deles, isolando o som da tempestade. Eles ficaram em silêncio por um momento, apenas escutando o barulho da chuva a cair lá fora. Carol tirou o casaco encharcado e olhou em volta, notando nos detalhes familiares que caracterizavam a casa de Daniel: as estantes cheias de livros, bonecos, fotos de viagens, a poltrona favorita.

- Vamos nos secar - disse Jerry, dirigindo-se ao WC em busca de algumas toalhas. O cabelo negro dele caia molhado no seu rosto, conferindo-lhe uma certa sensualidade, que deixava Carol acabrunhada. 

As estantes cheias de livros, com títulos que iam de clássicos à ficção científica, mostravam a curiosidade eclética de Daniel. Pequenos bonecos e lembranças de viagens estavam cuidadosamente dispostos nas prateleiras, cada um contando uma história. Carol fixou o olhar numa foto de Daniel e Tessa junto a um lago, ambos sorrindo com a alegria de descobertas compartilhadas. Também observou outra fotografia, mas desta vez era com Jerry, ambos com um sabre de luz nas mãos, muito bem dispostos. A poltrona favorita de Daniel, desgastada pelo uso, parecia convidá-la a sentar e deixar-se envolver pelo aconchego do lugar.

Jerry voltou com duas toalhas macias e entregou uma a Carol:  - Vamos nos secar antes que fiquemos doentes. - disse ele, com uma voz suave, mas firme. Enquanto secavam a humidade dos seus cabelos e roupas, o silêncio entre eles era pesado, carregado de palavras não ditas e sentimentos reprimidos.

- Deverias tirar essas roupas molhadas. - sugeriu Jerry. - Vou procura algo seco para te vestires.

Ela assentiu, grata pela preocupação dele. Enquanto Jerry se afastava em direcção ao quarto, Carol levantou-se e começou a tirar a roupa encharcada, sentindo o desconforto do tecido frio contra a pele. Enrolou-se na toalha e ficou ali, momentaneamente vulnerável, mas reconfortada pelo calor da casa.

Jerry voltou com uma sweatshirt cinzenta e uma calça de pijama, ambos claramente pertencentes a Tessa:  - Veste isso... vais te sentir melhor. - disse ele, estendendo as roupas para Carol.

Ela pegou nas peças e foi até ao WC para se vestir, fechando a porta atrás de si. No espelho, viu o seu reflexo pálido e cansado. Suspirou, vestindo as roupas secas e sentindo o tecido macio contra a pele. O aroma leve de lavanda do amaciador trouxe uma sensação de calma inesperada. Quando voltou para a sala, encontrou Jerry sentado no sofá, também vestido com roupas secas. As poucas lâmpadas que estavam ligadas sobre a sala, criavam um ambiente acolhedor e intimista. Carol aproximou-se e sentou-se ao lado dele no sofá, sentindo a necessidade urgente de resolver o que os havia trazido até ali.

Jerry e Carol ficaram em silêncio. Nenhum queria dar o pontapé de saída para a inevitável conversa que teriam de ter. Ambos estavam a sentir muitas emoções conflituosas ao mesmo tempo e não sabiam como deveriam reagir perante o outro. A chuva a cair era o único som a quebrar o silêncio, proporcionando um pano de fundo tranquilo para a tempestade emocional que fervilhava dentro deles.

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