Capítulo 24

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Ananda Cruz

Eu lembro que quando eu tinha seis anos, minha mãe me arrumou com vestido florido em azul branco e vermelho, meia calça branca e sapatilha preta.

No cabelo duas Maria Chiquinha e às vezes ainda olho aquela foto onde tem um prato de canjica na minha frente e eu com um sorriso enorme, pois os meus pais foram ver a minha pequena participação na apresentação do teatro da minha sala sobre festa junina, onde quando chegava cansada do serviço, minha mãe lia incansavelmente a minha parte, pois ainda estava em fase de aprendizagem na leitura e ouvir de uma certa forma era mais eficaz.

Mais de 25 anos se passaram e é a vez de Beatriz fazer a sua apresentação.

A escola hoje não teria período integral então, fiquei até às onze com ela para arruma-la.

----Nada de preguiça hein mamãe, eu pesquisei e tem que fazer uma make bem bonita para minha apresentação.

Levando em consideração que eu quase levei ela com o traje errado, uma make como ela diz não será tão difícil.

Eu li no bilhete que o traje era calça jeans, camiseta xadrez e chapéu, mas na verdade esse era o masculino o feminino era o tradicional vestido xadrez.

Achei um modelo de maquiagem na internet e de penteado também e dei o meu melhor, considerado a minha inabilidade nata para isso.

----Mamae ficou tão lindo que só não chorei pra nao estragar minha make.

As bandeirinhas nos olhos deu mesmo trabalho.

-----Que bom que gostou filha.

Como a lei de Murphy não falha, faz três dias que meu carro foi pra oficina.

Deixei Bia na escola e fui de ônibus para o escritório.

Alguns dos meus colegas me questionaram porque fui trabalhar já que sempre fui dedicada e eu disse que sempre procuro fazer o que mantém minha consciência tranquila, pois todas às vezes que você deixa rabo para alguém pisar, consequências maiores vem, porque há conversas que não escutamos.

Olhei a programação do ônibus para não atrasar e fui para o ponto de uma forma que não atrasasse.

Quatro minutos para o ônibus passar, já comecei entrar em desespero. Cinco minutos de atraso do ônibus já estava segurando as lágrimas.

Eu não poderia perder esse momento, ela estava contando tanto que eu estivesse lá.

O ônibus atrasou 7 minutos e me deu ainda mais vontade de chorar, pois eu conseguiria.

Chego no portão da escola faltando dez minutos para a apresentação.

Adentro o portão cheio de pais e responsáveis por cada criança ali, algumas apresentações já arrancavam lágrimas dos pais e por um minuto eu pensei se Bia desacreditou que eu estaria lá.

Será que por qualquer motivo besta adiantaram a apresentação dela como aconteceu comigo?

Será que Bia ficou nervosa e não vai querer se apresentar?

E os "será
A diretora que era a "puxadora do caminho da roça" como eles disseram, chamou a turma da tia Luci e como Bia é mais alta que algumas crianças, já se destacava a distância, porém entre tantas pessoas não me viu e seu olhar ansioso me caçava entre os demais.

Fixei meu olhar nela para que se sentisse observada e quando se virou na minha direção eu levantei o braço e me vi no seu sorriso enorme.

Ela comentou que seria bom se a madrinha e  os avós estivessem presentes, meu pai, minha madrasta e a vovó Cidinha, mas o mais importante é que eu poderia ir.

O brilho dos seus olhos poderiam iluminar uma cidade inteira e o seu sorriso tão enorme, me mostrou o quão trágico seria se eu nao chegasse a tempo, ela ensaiou muito mesmo para dançar o Balancê e conseguir agachar no momento certo para cumprimentar a plateia.

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Quando Bia começou a pré escola, começou a me questionar sobre o papai e ao contrário de muitas pessoas que vejo na internet ou em filmes eu optei por falar a verdade mesmo que ela me odiasse.

-----O seu papai não sabe que você existe, ele é sim uma pessoa boa, mas a mamãe antes de saber que carregava você escolheu que ele pudesse subir de cargo e a mamãe também, porque na vida temos sempre que escolher ser feliz nas escolhas que fazemos.

-----Eu entendi mamãe, muito obligada. Eu te amo.

Depois que perdemos a dona Cidinha, Bia se sentia mais sozinha e apesar de eu estar vivendo além do meu sonho no serviço e reiniciado como DJ fazendo shows selecionados e em um pseudônimo para não ser encontrada, quanto mais Bia cresce mais gatilhos tenho e de uma certa forma, eu sinto que estou tendo a crise dos 30 anos, mesmo já tendo tido ela aos 30.

Eu pesquisei na internet sobre essa crise. Infelizmente o esterotipo da perfeição no mundo nos faz almejar coisas impossíveis, e quando as mesmas não acontecem, a frustração causa crises ainda piores, tanto existencial quanto a de morrer, então começamos a achar que não vivemos o suficiente, quer ainda mais forte mudar o cabelo, estilo de vida, as vezes até o emprego.

Antes a perda da minha mãe se tornou saudades, hoje me causa medo.

E se eu morrer como a minha mãe, como Bia vai ficar?

Será que meu pai vai querer cuidar dela, ou vai somente encontrar Álvaro e dizer que toma que o filho é seu?

Será que Julia iria pegar e levar pra São Paulo e Álvaro ver que e a versão feminina dele e recusa-la por ódio a mim?

E se ninguém quiser ela e Beatriz vagar de orfanato e orfanato e alguém judiar dela?

A nossa mente prega tantas peças e nenhuma resposta.

Uma reunião importante vai acontecer em São Paulo e dessa vez, não dá pra resolver com e-mails.

Eu precisaria dar as caras.

-----Ananda, você é a pessoa mais indicada para comandar nossa apresentação, nosso trabalho em equipe e o faturamento da empresa deve muito a você e sua idealização perfeita de futuro.

------Obrigada senhor.

E um filme passa na minha mente, aplausos, salgados, bolo de parabéns.

"É mamãe, o mundo um dia conhecerá nosso nome."

Atração Proibida (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora