Atração Proibida (Concluído)

CAPÍTULO 06

Ananda Cruz

Quando eu subo nós palcos é como se existisse somente a música e eu.

Eu me liberto das obrigações do dia a dia e só existe aquele momento onde a energia invade meu corpo e eu danço, canto, crio remix e todas as dores viram suor.

Um DJ novo enviou no meu direct um pedido de ajuda e decidi dar uma oportunidade a ele, pois se ninguém tivesse me ajudado, hoje ainda seria um fracasso total dependente do meu pai até para comprar um absorvente.

Decido trocar de roupa no meu camarim enquanto isso, pois Júlia insiste que vamos beber depois que eu terminar e é quando sou surpreendida pelo empilhadeirista da firma o Álvaro.

Ele estava muito gato e sexy de camiseta preta e calça jeans que só reparei depois.

Já havia dado sim uns beijos aqui e outros ali, mas não daquela forma como se eu fosse ser partida ao meio e fundiria meu corpo ao dele, até que ele falou sobre cama e eu vi a oportunidade de fugir.

Quando voltei ao palco de vestido, sentia meu corpo queimando sob seu olhar, mas como já estou acostumada com esse tipo de atenção, mesmo não sendo daquele nível, ignorei e continuei curtindo o meu momento.

No momento que tive de voltar a rotina, não consegui encara-lo entao tudo que dava pra terceirizar eu tentava, até que no dia que eu mais precisava e queria ficar em um quarto escuro e tomar uns três calmantes cavalares e esquecer do mundo, tudo desanda.

Hoje faz 13 anos que eu perdi a pessoa mais incrível no meu mundo.
Toda minha motivação diária, veio da minha mãe mesmo que muitas vezes ela precisou ser ausente para melhorar nossa condição de vida e assumir seus compromissos.

Quando minha mãe estava presente, ela estava ali de corpo e alma.

Antes mesmo do dia do aniversário de sua morte chegar, já estava tendo insônia e eu via os vídeos de nossas conversas e risadas.

Das promessas que eu fazia quando falava sobre o que eu ia ser quando crescesse.

Não havia dormido nem um único segundo, quando às quatro da manhã fui informada sobre o problema com a carga que iria para a terceirizada, o que significava milhões de prejuízo se não desse pra reverter.

Eu estava no mínimo furiosa que esse problema caiu no meu colo, chamei Júlia e bolamos uma estratégia para resolver esse problema e o dia nem havia amanhecido, quando todas as minhas baterias de paciência já tinha acabado.

Todos os setores onde eu conseguia e sabia atuar estava ali, principalmente cobrindo os intervalos para que ninguém precisasse fazer hora extra e ficasse o suficiente para o outro turno finalizar sem erros e a carga estar no máximo as 5horas da manhã na Terceirizada sem maiores danos, nós lidamos com vidas e nao provocamos mesmo que acidentalmente a morte de alguém.

Quando Álvaro atrasa, eu apenas o oriento mesmo querendo passar o garfo da empilhadeira sobre o seu coração.

Sim já estava no nível homicida.

As 17 horas consigo atravessar o portal da fábrica, necessitada de um banho de banheira e dormir, quando Álvaro me chama de filha da puta.

Não respirei, não pensei muito menos ponderei, apenas usei toda a força que tinha no momento e acertei seu rosto, o que fez minha mão inchar na hora e Júlia me levou ao hospital.

-----Voce está louca? Por mais que você tenha motivos ele pode abrir um conversa ética sobre você.

-----Julia essa eu levo no peito e levo rindo. Podem falar mal de mim, podem até cuspir na minha cara se quiser, mas da minha mãe, ainda mais no dia de hoje, nao aceito.

E então todas as minhas lágrimas que não saíram nesses últimos dias, desciam por meu rosto dolorosamente. Eu queria minha mãe ali para segurar minha mão e continuar me ensinando a ter inteligência emocional e que por mais que um dia seja frustrante ele é apenas um dia com seus problemas e eu superaria.

Queria escuta-la falando que os garotos podem ser idiotas nas maiorias das vezes, porque foram criados para cuidar de carros e motos e não de garotas.

Minha amiga me abraça e eu me sinto grata porque pelo menos ela está ali.

Na manhã seguinte, recebo um atestado do Álvaro de quatro dias do Cid J05, o clássico problema de amigdalite e olho para minha mão enfaixada e eu ali.

***********

Meu chefe deu a missao de tentar contato com uma nova terceirizada, ele disse que estou sendo cotada para uma nova função e gostariam de saber se sou capaz de atuar com essa demanda.

Já faz uns meses que mudei e como quase nao paro em casa, não conheço os novos vizinhos.

Consigo marcar uma pré reunião online com o setor de compras dessa empresa em um sábado que seria minha folga, se der certo terei de viajar até o Rio de Janeiro para mais reuniões.

Meia hora após iniciada a reunião, parece estar rolando um baile funk dentro do meu apartamento.

Vizinhooo.

Tento ignorar e continuar escutando o que um dos responsáveis pelo marketing está falando, mas a música parece aumentar ao invés de abaixar e eu achando que alugar apartamento era mais silencioso.

Peço licença ao pessoal para beber uma água e vou até o vizinho pedir se poderia abaixar o som um pouquinho.

Toco a campainha e após ficar sem resposta bato fortemente na porta e eu não acredito no que vejo.

Na minha frente está Álvaro, sem camiseta, boné pra trás e de bermuda.

-----Estou fazendo uma reunião importante, poderia abaixar o som um pouquinho, por favor?

Digo educada, porque com esse ai, pode se esperar tudo.

-----Nao posso, também estou trabalhando limpando minha casa.

-----Mas é importante.

Ainda tento argumentar, pra por juízo na cabeça desse moleque.

----- Limpar minha casa também é importante e aqui você não manda.

Não espero mais nenhum argumento e sigo para meu próprio apartamento, tentando encontrar alguma desculpa para encerrar a reunião, mas milagrosamente quando coloco os pés na sala, ele abaixou o som.

Ufaaaa agora acho que consigo fechar um contrato descente.