03╵𝗧𝗪𝗜𝗡𝗦

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𝚁𝚘𝚜𝚎 𝙱𝚊𝚞𝚎𝚛

Enquanto tentava pegar no sono, sentiu a urgência tomar conta de seus pensamentos. Ela precisava de ajuda, alguém confiável e corajoso o suficiente para alinhar numa coisa desse tipo. Seus olhos percorreram a memória em busca de uma solução e, de repente, uma lembrança recente se destacou: quando observou Tom no dia em que a droga deu a costa.

Uma faísca de esperança acendeu dentro de si. Ela sabia que o garoto era destemido. Se alguém pudesse auxiliá-los, provavelmente seria ele.

Mas por momentos a sua mente se encheu de dúvidas e preocupações. Será que ele estaria disposto a ajudá-la? Ou era um plano demasiado maluco até pra alguém como ele?

Era uma manhã nublada de segunda-feira, e Rose, normalmente avessa a acordar cedo, pulou da cama cheia de energia. Amarrando rapidamente seus cabelos bagunçados, lavou o rosto com pressa e vestiu-se com determinação.

Antes de sair, pegou o pacote de drogas que havia escondido debaixo da cama e o guardou em um lugar seguro.

Rose sabia que precisava se desvencilhar daquela carga.

Pegou as chaves de casa, preparada para a viagem até a outra ponta da ilha onde Tom e seu irmão gêmeo trabalhavam.

Depois de uma longa caminhada, desceu uma colina e sentiu o cheiro salgado do mar invadir suas narinas ouvindo as risadas animadas dos pescadores. Com timidez, aproximou-se do portão verde musgo que guardava os barcos dos moradores. Adentrou o recinto e caminhou pelo chão mal pavimentado de borracha preta, até encontrar um banco velho e sujo onde se sentou. Retirou um maço de cigarros do decote e uma caixinha de fósforos, acendendo um deles em um movimento rápido.

Oh céus, estava a ficar tão fraca, a nicotina invadia lentamente aquele corpo em jejum e amolecia cada pedaço dele.

Enquanto fechava os olhos para aproveitar o momento de calma, foi interrompida pelo barulho de um motor se aproximando. Abriu os olhos e viu Tom e seu irmão. Bill, carregando redes de pesca, e Tom, amarrando o barco ao cais com uma corda.

O seu coração disparou com a visão dos gêmeos.

"Rose?" perguntou Bill, com um sorriso nos lábios assim que percebeu sua presença. "Como vai? Não me lembro da última vez que vi uma mulher tão bonita andando por aqui."

A voz do mais novo tinha um tom calmo, enquanto os seus olhos percorriam o corpo dela com uma certa intensidade.

O rapaz era alto, os cabelos negros soltos caíam sobre o peitoral parcialmente exposto e tatuado. Ele usava uma camiseta preta coberta por uma jaqueta, com as mangas arregaçadas para evitar se sujar durante a pesca. As suas calças justas marcavam bem as pernas elegantes, encharcadas com a água salgada do mar, assim como as suas botas de biqueira de aço. Era dono de uma aparência andrógina, traços faciais finos e expressivos. Os seus olhos eram afiados e intensos, destacados por cílios longos e escuros que ainda carregavam vestígios de maquiagem mal removida de uma festa que havia frequentado na noite anterior.

Não deixou de notar o sorriso que apareceu nos lábios de Tom quando ouviu as palavras do irmão. Mesmo sendo gêmeos, eles possuíam belezas singulares, se é que isso faz algum sentido.

"Bill!" ela respondeu em um tom suave, permitindo que um sorriso envergonhado brincasse em seus lábios. "Devo dizer que você tem uma maneira única de cumprimentar uma mulher, mas eu precisava era de um grande favor."

Antes que o gêmeo mais novo pudesse formular uma resposta, Tom surgiu com um banco nas mãos e o colocou ao lado dela, fazendo um gesto discreto com a cabeça para que a garota se sentasse. Os dois se aproximaram da proa do barco e se apoiaram, demonstrando interesse na conversa.

A situação já havia a deixado nervosa, mas agora se sentia mil vezes pior. Era como se estivesse sendo submetida a um interrogatório implícito, encurralada em um beco sem saída. Embora essa não fosse a intenção, o simples fato do assunto envolver a droga perdida, era no mínimo stressante.

"Obrigada." agradeceu baixinho a oferta do banco. "Tenho procurado por alguém que possa me emprestar um barco." foi direta, e isso surpreendeu até a si mesma.

"Por que diabos você precisa de um barco?"

A mente girava em busca de uma resposta convincente, e o nervosismo era evidente no seu rosto, o que fez Tom soltar uma risada sarcástica.

"Vai pescar?" provocou, com os seus olhos brilhando com um toque de malícia.

"Talvez." respondeu com seriedade, encarando o moreno que balançava com o pé o banco onde estava sentada.

"Podemos ajudar.", interveio Bill, interrompendo o olhar entre os dois. "Este aqui é apenas para trabalho, mas temos um pequeno barco escondido em um ancoradouro próximo. Você nos diz para onde quer ir, e nós te levamos lá."

Rose ficou em silêncio por um momento, ponderando a oferta dos gêmeos. Ela não queria envolver mais pessoas. Seu plano era simples: apenas ela e Klaus, sem complicações ou interferências. No entanto, sabia que não poderia recusar ajuda. Apesar da relutância, decidiu que teria que incluir os gêmeos em seu plano, mesmo que provavelmente só o descobrissem quando já estivessem em alto mar, em busca da mercadoria.

No entanto, Rose sentiu uma certa desconfiança. A resposta instantânea, a mudança repentina de humor e a troca de olhares quase telepática entre os gêmeos. Ela entendia que nada na vida era gratuito e, diante disso, era evidente que Bill teria suas próprias exigências, dependendo do plano em questão. A ingenuidade não fazia parte do repertório dos gêmeos, especialmente de Tom.

Agora tudo parecia claro como água. Eles não eram meros benfeitores ou desprovidos de interesses próprios.
Era um jogo.

"Obrigada, Bill. Provavelmente vou levar Klaus também, sabe, o rapaz que trabalha no videoclube.", tentou dar o seu melhor sorriso para Bill, que assentiu com a cabeça.

Cuidadosamente, se levantou e estendeu a mão para o irmão mais novo. Quando encarou Tom, viu uma mão estendida e aberta pronta para um bom aperto. Determinada a não parecer intimidada, apertou firmemente a mão do garoto.

"Mal posso esperar para ver o que você está planejando." disse ele, ainda com aquele sorriso provocador nos lábios. Era evidente que estava ciente de algo, como se já tivesse uma ideia do que estava por vir.

Um arrepio percorreu a sua espinha, surpresa com as palavras. Não pôde deixar de notar o interesse genuíno no rosto do garoto, algo que aumentou ainda mais a sua determinação em impressioná-lo.

"Não se preocupe. Vou garantir que seja algo que você nunca esquecerá." respondeu. "Onde e quando nos encontramos?"

"Aqui mesmo, à meia-noite da próxima segunda-feira, estaremos disponíveis nesse dia. Esteja preparada a tempo."

Trocaram olhares por mais alguns instantes. Enquanto se afastava, podia sentir aquele olhar em suas costas, uma sensação elétrica percorreu aquela área. Sabia que não podia decepciona-lo. Havia algo naqueles olhos que a impulsionava a ir além de seus limites.

Aquela tinha sido a primeira vez que Rose trocara palavras com os Kaulitz, e como pôde constatar, os rumores sobre suas línguas soltas e afiadas eram verdadeiros. Acreditava na possibilidade que talvez aquela atitude rebelde poderia ser uma completa fachada. No entanto, percebeu que havia muito mais do que aparentava naqueles olhares penetrantes e sorrisos provocadores.

Caralho, não conseguia deixar de pensar na possível reação de Kaulitz quando visse o resultado de seus esforços. Seria capaz de surpreendê-lo e deixá-lo impressionado? Aquela provocação entre eles criou uma faísca, uma centelha de energia que a motivava a ir além de suas próprias expectativas.

Estava determinada a provar a Tom que ela era tão ousada quanto ele poderia imaginar.

𝗕𝗟𝗢𝗢𝗠𝗜𝗡𝗚╵𝚃𝚘𝚖 𝙺𝚊𝚞𝚕𝚒𝚝𝚣Onde histórias criam vida. Descubra agora