02╵𝗦𝗡𝗢𝗪𝗬 𝗣𝗟𝗔𝗖𝗘

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𝚁𝚘𝚜𝚎 𝙱𝚊𝚞𝚎𝚛

Olhou ao seu redor, vendo a empolgação e alegria nos rostos dos moradores. A maioria não tinha ideia do que realmente estavam pegando e empilhando. Para eles, eram apenas pacotes misteriosos vindos do mar, uma bênção inesperada.

Precisava agir rápido. Sentiu uma mistura de excitação e nervosismo enquanto se afastava das pessoas aglomeradas na praia. O pacote de cocaína estava escondido cuidadosamente em seu casaco, pulsando como um segredo proibido.

Enquanto fazia o caminho de volta para casa, lançou um último olhar na direção de Tom. Ele ainda estava lá, os olhos fixos na cena intrigante que se desenrolava à sua frente. Era como se ele estivesse atraído pelo mistério, seduzido pela adrenalina daquele momento.

No entanto, Rose não podia se distrair. A sua mente começou quase que instantaneamente a focar em encontrar uma maneira de se beneficiar daquela descoberta, de transformar aquela cocaína em algo valioso. Sabia que não podia deixar a oportunidade escapar. Até porque oportunidades como estas, só aparecem uma vez na vida.

As reviravoltas que ocorreram naquele lugar nas semanas seguintes foram as mais imprevisíveis da história.

No vilarejo, diversas drogas circulavam, especialmente no centro, acompanhadas pela rede de prostituição conhecida por muitos e evitada por poucos. Entre todas as substâncias que poderiam chegar pela primeira vez àquela região, a cocaína revelou-se a mais devastadora. Além de ser altamente viciante, era tida como a droga dos playboys. E quando ela chegou às margens daquele vilarejo, foi um impacto gigante. Foi como se tudo tivesse virado de cabeça para baixo.

Os meios de comunicação aproveitavam e exploravam exageradamente os acontecimentos. A desinformação e o sensacionalismo tornaram-se uma realidade para a região e a cocaína começava a ser consumida desenfreadamente pelos habitantes. Como não estavam familiarizados com o uso da droga que era altamente pura, um número grande de pessoas acabaram sendo hospitalizadas por overdose, e algumas até perderam a vida.

Maldita hora que caiu neve no vilarejo.

As mortes geraram, obviamente, controvérsia e grande preocupação nas camadas mais altas da sociedade, levando-os a despachar uma força-tarefa composta por jornalistas investigativos e agentes policiais de todas as patentes da grande cidade. Infelizmente, toda a preocupação não era genuinamente com o bem-estar dos locais, mas sim com a imagem que projetariam para o resto do mundo. A região e os locais se tornariam meros joguetes em um jogo político, em que o poder e a imagem pública se sobrepunham às vidas.

A região, que antes era negligenciada, agora se tornava o epicentro do interesse de toda uma nação. O olhar da opinião pública se voltou para aquele lugar outrora esquecido.

Rose, encarava seriamente o pacote em cima da cadeira. Levantou-se calmamente da cama e pegou com força a droga pensativa. Mas antes que tivesse qualquer outro tipo de pensamento saltou quando viu Klaus a entrar pela porta do quarto.

Rapidamente chutou o pacote, caído no chão pelo susto, para debaixo da sua cama e se aproximou do amigo.

"As estradas foram tomadas por policiais famintos, demorei horas para chegar até aqui!" Sua voz ecoava pelo quarto enquanto ele perambulava de forma frenética. "Horas!"

"Imagino..."

"Qual é aquela frase que você
sempre repete?" perguntou, estalando os dedos freneticamente, como se o som pudesse trazer à mente a resposta.

"Aquela que diz que nunca acontece nada de emocionante por aqui?" respondeu ao rapaz, que assentiu repetidamente.

"Exatamente!" ele sorriu "Finalmente, algo está acontecendo! Um pouco de emoção!"

Após receber essa resposta, foi como se Klaus tivesse dado sinal verde.

"Tu tá felizão." respondeu ela "Feliz porque um veleiro cheio de marmanjos italianos perderam a mercadoria deles na nossa ilha, onde já se viu isso acontecer..." soltou uma risada lembrando da última notícia que tinha lido sobre o caso.

O ruivo arregalou os olhos ao encarar sua amiga e sentou-se na cama, fitando-a intensamente.

"Uau, então eles estão realmente levando essa investigação a sério...", murmurou consigo mesmo, surpreso.

"Ainda há dúvidas?"

"Não, mas... Sabe, parece tanto coisa de filme..."

Silêncio.

"Estava pensando em uma coisa..." ela murmurou desviando o olhar do amigo enquanto se sentava sobre a cama "É algo que venho pensando durante toda a semana."

Ele a ouvia atentamente, mas não estava nada a espera daquilo que sairia da boca dela, e, principalmente, de debaixo de sua cama. A morena se abaixou e agarrou com força o pacote que havia caído, colocando-o em seu colo.

"Não..." ele sussurrou para a garota, seus olhos se arregalaram.

"Olhe bem para isso, Klaus!" ela aproximou o pacote do rosto dele, deixando escapar uma leve nuvem de pó branco. "Essa droga vale uma fortuna!"

"Rose!" ele respondeu, totalmente chocado, levantando-se da cama e sacudindo suas roupas enquanto olhava seriamente para a morena. "Essa merda tem dono! E adivinha só, pessoas assim sempre vêm atrás daquilo que lhes pertence!"

Ela não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Normalmente, ele era impulsivo e inconsequente, e agora ele agia com seriedade.

"Metade da ilha tem uma, duas, três ou até mais dessas coisas em suas casas! Como você acha que eles vão recuperar tudo isso agora?" disse indignada. "Isso é um sinal!"

Klaus se aproximou, sentando-se ao lado dela na cama e arrumando seus cabelos alaranjados. Sua expressão era séria, mas logo se transformou em um sorriso perverso.

Ele arrancou o pacote das mãos da morena com um movimento ágil, fazendo-a arregalar os olhos com a ação. Com habilidade, ele retirou um pedaço de cartão do bolso de suas calças, que outrora seria usado para um baseado, e meticulosamente organizou uma pequena linha de pó sobre a cadeira de madeira.

"O que você pensa que está fazendo?" ela gritou, puxando-o pelos cabelos. "Você enlouqueceu?"

"O que pensa que está fazendo?" ela gritou, puxando-o pelos cabelos. "Você enlouqueceu?"

"Para, Rose!" ele gritou de volta, empurrando-a de lado enquanto cheirava a linha com uma agressividade inquietante, sentindo sua narina arder intensamente. "Que tipo de empresário conduz um negócio sem ter testado o próprio produto?!"

Ele atirou o pedaço de cartão na direção das pernas morenas dela, mantendo o olhar firme.

"Como você mesma disse, é um sinal!" seus olhos se arregalaram. "Se vamos fazer isso acontecer, que seja de forma grandiosa."

Ao ouvir as palavras do melhor amigo, sentiu-se intoxicada pela energia dele. Não era uma alma inocente, já havia experimentado algumas coisas.

"Nunca acontece nada de jeito nesse lugar mesmo!" exclamou, elevando-se com determinação enquanto preparava uma generosa linha "Que se foda tudo!"

Assim que absorveram o pó, jogaram o pacote para um canto qualquer do quarto e se deitaram sobre o colchão desgastado da cama, sentindo-se entorpecidos. Encararam-se por meros segundos antes de começarem a rir, contagiados pela loucura do momento. Afinal, aquela droga era realmente boa, Rose não ficou surpresa com a forma como todos na aldeia a viam como uma bênção.

Era uma fuga da realidade, era incrível.

"E agora? O que você sugere que façamos?" ele perguntou, fitando-a intensamente com seus olhos verdes.

"Vamos encontrar o que resta do estoque. Vamos atrás de toda essa mercadoria." declarou.

Ambos trocaram um olhar carregado, sabiam que não havia mais volta a dar. A ilha estava prestes a ser sacudida por uma tempestade implacável.

𝗕𝗟𝗢𝗢𝗠𝗜𝗡𝗚╵𝚃𝚘𝚖 𝙺𝚊𝚞𝚕𝚒𝚝𝚣Onde histórias criam vida. Descubra agora