12╵𝗦𝗢𝗠𝗘 𝗙𝗥𝗜𝗖𝗧𝗜𝗢𝗡

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𝚁𝚘𝚜𝚎 𝙱𝚊𝚞𝚎𝚛 ᵖᵒᵛ

Ali, flutuara.

Pairava sobre as águas serenas do mar, as suaves ondas embalando meu movimento lento. Foi um momento afortunado, o oceano repousou em tranquilidade, talvez por uma sorte divina ou pela harmonia natural que compreendia a serenidade que deveria acariciar meu corpo. Meus olhos brilhavam com lágrimas como resposta à maneira voraz como os raios solares se infiltraram em minhas retinas sensíveis, encarando o mundo sem vestígios de timidez, procurando penetrar minha psique em uma busca desesperadora de sentir algo.

Meu corpo movia-se com uma graciosidade quase inconsciente. Os cabelos espraiavam-se ao redor, evocando os traços de um sol retratado em um desenho infantil. Meus braços estavam abertos, as pernas da mesma forma, enquanto me afastava gradualmente da faixa de areia sentindo pequenos peixes acariciando minhas costas, como se tivessem me convidando para uma brincadeira.

Lembro-me de quando conversei com os gêmeos pela primeira vez, fiz a promessa de demonstrar o quão audaciosa eu poderia ser, especificamente para Tom. Que promessa tola, na verdade. Estou percebendo que o que eu desejava era provar algo para mim mesma. O que está acontecendo comigo? A incredulidade ainda percorre meu ser. Não consigo acreditar que puxei o gatilho, que atirei naquele homem. O medo e a tensão daquele momento ainda me fazem tremer por dentro. Ele foi tão violento, tão ameaçador. No entanto, ao mesmo tempo, não posso negar que uma sensação de poder me invadiu. Como se estivesse tomando o controle da minha própria vida de uma vez por todas.

Como se tirar vidas tivesse se transformado naquele fetiche que nunca admitimos, nem mesmo para a pessoa que mais intimamente conhecemos.

Como pude ter sentido algo assim? Estava sendo arrastada por um redemoinho de emoções confusas, o que me deixava questionando minha própria sanidade. Gostei de ter feito aquilo? A ideia era perturbadora, quase alienígena.

Agora, um espaço alugado em minha mente estava ocupado pelo meu tio, the fucking uncle Ben, um homem que a vida havia transformado durante seus anos atrás das grades. As profundas cicatrizes da prisão eram evidentes em sua essência, inegáveis. Após cumprir uma sentença de sete anos nas terras americanas, a implacável decisão do tribunal o enviou de volta à ilha. O pensamento era aterrorizante, já que seu sobrenome estrangeiro e seu histórico criminal manchavam qualquer possibilidade de um novo começo ali. Ele implorou, gritou e lançou olhares ferozes, mas não havia escapatória. Para Ben, retornar à ilha era o equivalente a enfrentar uma sentença perpétua, uma prisão sem grades visíveis, mas igualmente sufocante.

Irmão da minha mãe, aquele que me acompanhava quando eu ainda era uma garotinha. Ele sempre trazia guloseimas exóticas do exterior, presentes que eu jamais teria a chance de provar se não fosse por ele. Mas essa relação não durou muito tempo. Meu pai nos afastou, desgostoso com o fato de Ben sempre tocar no assunto de como sua irmã seria melhor cuidada fora daquela ilha.

Agora, já adulta, percebo que meu tio estava certo o tempo todo. Por que não tentamos? Por que meu pai não aceitou a possibilidade? O maldito orgulho e a teimosia nos separaram de uma chance real de uma vida melhor.

(...)

"De onde você conseguiu o dinheiro para a cirurgia?" a voz do meu pai ecoou pela casa após os dois agentes saírem pela porta.

"Pai..."

"Diga-me a verdade... Não quero uma filha envolvida em problemas." exigiu, aproximando-se de mim.

"Você sabe onde eu poderia estar? Do outro lado do oceano! Mas estou aqui, por você! Você vai voltar a enxergar, e é graças a mim. Então por favor, não me peça mais explicações!"

𝗕𝗟𝗢𝗢𝗠𝗜𝗡𝗚╵𝚃𝚘𝚖 𝙺𝚊𝚞𝚕𝚒𝚝𝚣Onde histórias criam vida. Descubra agora