☆ o senhorzinho ☆

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Musiquinhas do capítulo:

⭑Mind is a prison - Alec Benjamin

⭑ Solitude - Billie Holiday

⭑Chamber of reflection- Mac DeMarco

⭑Love is more depressing than depression - Shiloh Dynasty

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No domingo, não queria sair da cama, numa letargia violenta, mas insisti em levantar e ir em alguns bares e restaurantes oferecendo meus serviços musicais ou qualquer outra coisa que precisassem. Não posso me dar ao luxo de relaxar e esquecer de vez quem eu sou... ou quero ser. As palavras de Yuna ecoavam em minha cabeça todas as vezes que eu fechei um pouco os olhos.

Minha caminhada é lenta, em passos trôpegos e desatentos. Não quis comer, parece que qualquer coisa que caia em meu estômago será automaticamente ejetado para fora do meu organismo, só me sinto enjoado. O vento frio entra por algumas frestas que meu moletom deixa na minha pele e eu me arrepio. Pego um cigarro no maço que estava guardado no meu bolso. Trago suavemente enquanto me sento num banco num canto vazio da praça que me encontro. Abrigo minha cabeça entre as mãos e quero chorar.

Tenho sentido muita vontade de chorar nos últimos tempos e tenho certeza de que não estou vivendo, apenas sobrevivendo durante esse momento. O estresse me faz ter até mesmo dores físicas, mas eu preciso ser forte. A vida tem muito o que me mostrar ainda, não tem? 

Deixei todos os meus currículos que imprimi em alguns lugares que julguei serem bons para trabalhar, esperando que não demorem muito que me contatem. Minhas costas se encontram com o frio do banco de pedra manchada. Sinto sono pela noite mal dormida por atualizar o currículo e estou desesperado por qualquer migalha. Se ficasse em casa, definharia em espírito com um cansaço que não posso me permitir em viver. Minha cabeça dói quando não meço a força que uso para apoia-la no encosto de onde estou sentado, emito um chiado enquanto trago a nicotina mais uma vez, devagar. A pasta que agora se encontra vazia dos papéis que passei a tarde distribuindo, repousando pacificamente ao lado vazio do banco. 

O dia nublado parecia combinar perfeitamente com meu estado. Não pensava que o término com Yuna iria acabar com o que restava do meu humor, mesmo sendo algo pacífico. Talvez fosse só tudo o que aconteceu, certo? Talvez. 

Sinto uma gota cair em minha bochecha e suspiro. Me levanto ao sentir a garoa aumentar, as gotas indo rápido demais mas não me apresso. A cidade está em tons cinzas e não há conforto em lugar algum. Puxo o capuz do moletom para cima de meus cabelos úmidos. As poças se formam no passeio irregular, água entra em minhas botas e sigo sem rumo, abatido e me mantendo em pé  por forças ocultas da minha própria determinação. Algumas pessoas passam por mim, correndo e abrindo seus guarda-chuvas, outras se abrigando embaixo dos telhados e dentro de lojas. Talvez fosse a amargura que eu me encontro porque tudo me parece uma pequena catástrofe e a chuva nunca pareceu tão dura. 

Quando ergo o olhar dos meus pés, da paisagem incomumente cinzenta de Calisto, vejo que estou do outro lado da rua daquela lojinha de conveniência que Jimin me apresentou. Lá dentro está vazio e parece quente. Atravesso a rua com calma e jogo fora a bituca do cigarro já completamente apagado e encharcado na lixeira em formato de palhaço que fica ao lado da porta de entrada. 

O barulho das máquinas de raspadinha ecoa pelo espaço pequeno do estabelecimento, o sininho da porta para de tocar quando a deixo fechar naturalmente. Sinto as gotas de água descendo pelo meu corpo, caindo no chão. Me movo um passo para o lado, ficando em cima do tapete, tentando ao máximo não molhar o piso. Observei as gotas caindo, lentamente, escorrendo por meu rosto, até o meu queixo e depois desgrudando dele, fazendo seu caminho até caírem, sonoros no tapete. Em algum momento, as gotas frias se amornaram e eu estava chorando. 

Todas As Estrelas Que Eu Vi Em Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora