28 de outubro de 2023.
Sábado
HOJE FOI O DIA MAIS FELIZ E ESTRESSANTE DA MINHA VIDA.
A tão esperada apresentação finalmente aconteceu, e quero deixar bem claro que eu quase faleci.
Foi pessoas correndo de um lado pro outro com maquiagem, roupas, microfones e mais coisas que eu não soube identificar. Várias meninas também ensaiavam em frente ao espelho, revisando todos os passos para não errar um sequer.
Eu fiquei MUITO nervosa. Em todos os sentidos que pode imaginar.
Primeiro que o figurino rasgou, então tiveram de buscar mais um localizado lá na puta que pariu. Segundo que o palco não estava firme o bastante e tiveram de colocar pilares de madeira embaixo dele. Terceiro e último foi que não achávamos Ana em lugar algum.
Ela havia sumido e eu me desesperei novamente.
Na noite passada, enquanto conversamos sobre o show de hoje, ela deixou escapar que iria dormir na casa de seu pai. De imediato me senti preocupada, o pai dela estava longe de ser um santo.
Odeio quando Ana tem que visitá-lo por causa do tribunal.
Ela sempre volta mal de lá e dessa vez não foi muito diferente.
Juro que virei aquele lugar de cabeça para baixo atrás dela, e a encontrei nos fundos, agachada perto de uma caixinha com laços.
Eu a conheço bem e sei que ela realmente não gosta de levar sermão ou de pessoas opinando sobre sua vida sem saber de nada, então somente me sentei ao seu lado e esperei Ana começar a falar.
— Ele quer pegar a minha guarda. Quer me tirar dela e eu... não posso fazer nada. Não sei, derepente ele decidiu se tornar aquele pai do ano super orgulhoso por ter um filho incrível, mas nós dois sabemos que ele nunca vai ser assim. A partir do momento em que vira outra pessoa quando está bêbado ou com raiva, ele não é mais o meu pai. Na verdade nunca foi. Sabe, eu odeio ele, com todas as minhas forças, odeio quando ele quebra as garrafas de cerveja direto na parede, odeio quando trás alguma vadia para dentro da casa e simplesmente fingi que eu não existo, odeio também quando, no dia seguinte, sorri para mim como se nada tivesse acontecido, como se todo o inferno que eu e minha mãe vivemos até os meus 11 anos não fosse nada. - As lágrimas já escorriam por sua face e molhavam sua roupa.
Me senti triste também. Por mais que eu tenha uma certa dificuldade em entender os sentimentos alheios, não foi preciso uma grande calculadora para saber que Ana queria um abraço.
E foi isso que fiz.
A abracei forte e apertado, não falando nada e só deixando ela chorar.
Sei que isso é bom.
Entendem o que eu quero dizer? Saber que aquela pessoa que está consigo no momento te entende e compreende o suficiente para lhe consolar da maneira certa.
Nessas horas, o silêncio é a minha forma de dizer que sempre estarei ali.
Ui, arrepiei.
Ficamos abraçadas por minutos até lembrar que estamos prestes a entrar em um palco com mais de 5 MIL pessoas assistindo, aí passamos a chorar de desespero.
Quando voltamos para o camarim, recebemos uma broca daquelas por uma mulher - deveria estar na casa dos 30 - que só gritava o tempo todo.
Todo mundo estava nervoso e tudo o que aquela diaba fazia era gritar e criticar.
Mandei ela tomar no cu.
Em inglês mesmo e foda-se.
Ia fazer o que, me tirar do show? Queria ver ela tentar.
Depois sai bem plena arrastando Ana comigo, que permaneceu chocada até a hora de subir no palco.
Senti que ia morrer.
Minha barriga doía de um jeito estranho, minhas mãos não paravam quietas e a respiração já tinha ido com Deus fazia tempo.
O palco escureceu e todo mundo presente se silenciou, prestando atenção no que ocorria ali.
Por ser um "show de estreia" as músicas seriam bem diversificadas, pelo menos duas de cada estilo.
Começamos leve, a Famosa primeiro cantaria uma música calma e refrescante a base de violão. Sua roupa era simples, a letra também tinha uma vibe mais simplista, tudo naquele som exalava simplesidade e conforto.
Porém, nos últimos acordes do violão, uma guitarra - linda, inclusive - foi sendo acrescentada no instrumental aos poucos, e aí o palco escureceu novamente.
E nós entramos.
Todas se colocaram em suas devidas posições para, finalmente, apresentar o que tanto ensaiamos.
Senti a euforia me preencher assim que abri e olhos e vi aquela multidão louca e animada gritando em direção a plataforma.
Não sei porque, mas me lembrei do que a Famosa nos disse antes de subir ao palco:
"Divirtam-se!"
É, eu me diverti.
Aquela sensação de medo já não era tão grande assim, a adrenalina foi cobrindo ela e se alastrando dentro de mim, causando um bom sentimento em meu peito.
Foi simplesmente um dos melhores dias da minha vida.
Eu achei muito legal que no final do show, ela nos apresentou, e a cada nome a plateia pulava e vibrava de emoção. Quando chegou a minha vez, dei um passo a frente e me curvei em agradecimento, sentindo toda a agitação do público me abraçar.
Enfim, foi tudo lindo e maravilhoso. Até acho que nunca sorri tanto em um dia só.
Ana não estava diferente. Assim que voltamos para o camarim, ela começou a falar e não parou mais.
O que é COMPLETAMENTE justificável.
Meus amados fãs, minha querida mamãe esta me obrigando a ir dormir.
Não sei porque, são só 05AM.
Mas ela me ameaçou, se eu não fosse dormir agora, ficaria sem sobremesa amanhã (já é domingo, porém eu ainda estou falando como se fosse sábado) depois do almoço.
Sinto muito, açaí é prioridade.
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O Incrível Diário De Uma Quase Nerd
Ficção GeralGostam de um clichê? Bom, eu sim! Mas esse aqui foge das normas e das suas expectativas. Conforme as regras dos clichês, a nerd protagonista tem que ser inocente, fofinha, ingênua, sensível, carinhosa e empática, praticamente perfeita. Aquela pessoa...