22. Captura

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Dusan respirou fundo, sentindo o ar gelado e salgado do alto-mar cortando suas narinas

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Dusan respirou fundo, sentindo o ar gelado e salgado do alto-mar cortando suas narinas. Abriu os olhos lentamente, vendo primeiro o contraste do chão de madeira escura com o oceano e permitindo seu corpo se acostumar com o balanço, antes de finalmente encarar o convés em si e perceber, com certo horror, que estava de volta ao "A Fúria de Veraya". Obrigou-se a se acalmar, percebendo que estava tudo calmo demais, até avistar a figura de um homem parado próximo a plataforma que levava a cabine do Capitão.

Aquele definitivamente não era Anthony Strongstorm. Era um homem alto e esguio, com longas vestes azuis-escuras, pele pálida e cabelos negros relativamente longos e lisos muito arrumados, assim como sua barba. Parecia muito diferente das estátuas e pinturas que Dusan já havia visto, mas não duvidou por nenhum momento de quem se tratava. Sem hesitar, sacou o longo machado em suas costas, girando-o três vezes em cima de sua cabeça antes de bater o cabo em seu peito esquerdo. Colocou-se de joelhos, bradando:

— Salve Merikh, Deus dos Ladrões, senhor dos desgarrados e meu Protetor. Meu machado e todas minhas lâminas estão a seu serviço.

Em um piscar de olhos, viu os pés da divindade em sua frente, enquanto um riso preenchia o ar.

— Muito bem, garoto. Seu pai lhe ensinou muito bem. — Merikh parabenizou, seu tom um tanto irônico. — Seu verdadeiro pai, eu digo.

— Sim, ele também é devoto do Ladrão. — Dusan rapidamente concordou, sem ousar levantar a cabeça. — É uma grande honra.

— Sabe, a duras penas seu pai aprendeu que as maiores honras são as que fazem com que ele tenha mais raiva de mim. — Merikh prosseguiu, agarrando seu rosto e forçando para cima, para que encarasse seus olhos vermelhos-sangue muito duros. — Receio que você seguirá o mesmo caminho.

— Confio meu caminho ao Ladrão, tal qual o confio a Lua. — Dusan afirmou, sem ousar desviar o olhar.

— Então é um verdadeiro masoquista, garoto. — o Ladrão gargalhou, afastando-se antes de se sentar nas escadas. — Seu pai ao menos coloca o Sol acima de mim.

Aquilo lhe provocou um arrepio na espinha. Merikh era deus porque enganou Divita, a Deusa-Morte, roubando o segredo de Veraya, o Mar e a Deusa da Sabedoria. Os embates entre os Ladrões e a Morte eram lendários, inspirando inúmeras músicas que costumava cantar em sua época como pirata, mas a verdade era que Asthramyne, a Deusa-Lua, foi responsável por firmar a trégua entre Ladrão e Morte.

Asthramyne era a Justiça e a Crueldade, e a Justiça era Cruel. A fim de não sofrer mais na mão de Divita, cuja vingança era desmedida, Merikh precisou sofrer do sadismo que equilibraria seu crime e lhe traria um pouco de alívio na dor. O problema era que Dusan, assim como Andrasta, já haviam sentido o peso do jugo da Lua, pagando o preço de seus ancestrais.

— A Lua não vai além da permissão do Sol. — Dusan declarou gravemente, sabendo que falava a verdade. Asthramyne e Ghunt, o Deus-Sol, eram irmãos gêmeos extremamente apaixonados um pelo outro. Todas decisões que tomavam tinham, obrigatoriamente, que passar por um consenso entre eles. — E eu estou a serviço daqueles que passam pelo jugo de Asthramyne.

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