AS LENDAS DE ZHIVOT - LIVRO UM
O Duque de Armas Darcan Eichbah achava que a pior coisa que poderia passar naquela altura de sua vida era o seu polêmico casamento a três, organizado às pressas para salvar a vida do amante de sua esposa.
Anthony Stron...
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Cahal piscou algumas vezes antes de finalmente perceber que estava encarando a lâmina de sua própria espada, completamente embebida de sangue. A segunda coisa que percebeu foi que o chão sob o seu pé estava firme até demais, o que significava que não estava mais no navio. Na realidade, pela maciez que sentia em seus pés, mesmo com as botas grossas de couro, poderia dizer sem muito esforço que estava pisando em grama, provavelmente molhada.
Respirou fundo e obrigou seu olho bom a trabalhar, lembrando a si mesmo que já havia feito aquilo pelo menos mil vezes antes e sabia muito bem como funcionava. Tentando não se mexer muito, fez com seu cérebro captasse o máximo de detalhes possíveis do que via, percebendo com certo horror que já havia estado naquele cenário antes, embora precisasse admitir que o centro da Tribo de Uhr parecesse muito melhor em sua última visita.
A grande cabana de madeira onde eram realizados os ritos a Shada e Asthramyne durante o Inverno estava completamente destruída, o fogo de uma das fogueiras próximas ainda queimando o que restou de seu teto. No chão, corpos de lobisomens - adultos e alguns filhotes, seu sangue se misturando com a neve. O ar estava pesado, preenchido por uma fumaça escura e densa, e tinha certeza que o cheiro que sentia era uma mistura da queima de madeira e cadáveres.
E então, um uivo alto e gélido rasgou seus ouvidos, mais terrível do que qualquer lobo seria capaz de produzir. Ouviu barulho de passos correndo e os animais que viviam próximo a Tribo fugindo o mais rápido que podiam, enquanto um rosnado gutural revelavam a sede de sangue de uma fera há muito aprisionada. Sentiu seu estômago embrulhar, enquanto perguntava ao Sol como poderiam sobreviver novamente a um luphyr solto na Superfície.
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Cahal sentou-se em um pulo, respirando de forma ofegante, tentando mandar o máximo possível do ar gelado para seus pulmões enquanto deixava seus sentidos voltarem pouco a pouco. Concentrou-se primeiro nos cheiros que o cercavam, tão conhecidos - madeira molhada, o salgado do mar e forte aguardente que parecia tão impregnado quanto ao odor fétido da maioria de seus colegas de tripulação. Não demorou mais do que alguns minutos para voltar a si, e percebeu que alguém teve a delicadeza de o arrastar até um dos cantos do convés e cobrir seu corpo com a pele de um urso pardo, de onde vinha o mal cheiro.
A vantagem de fazer parte da tripulação do Oceano Vermelho era que todos a bordo eram antigos o bastante para estarem acostumados quando o imediato era tomado pela Visão. Não pode evitar um pequeno riso sem humor. Sabia muito bem que, mesmo com as constantes negativas de Maeve, era ele o motivo de não aceitarem novos tripulantes. As pessoas costumavam se assustar ao ver o Oráculo do Sol tomado por seus transes, e nem sempre controlava o tipo de informação que saia de seus lábios naquele momento. Por mais que todos os membros da Frota estivessem presos por juramentos muito antigos, ninguém realmente queria correr aquele tipo de risco, não depois de tudo que haviam passado nas Guerras da Conquista.
