Sentado no deque de madeira da casa, o pequeno Harry conversava com sua cobra e, vez ou outra, se pegava observando o céu azul, enquanto bebia goles da limonada fresca preparada por sua mãe mais cedo. Logo chegava setembro e o verão caminhava para o seu próprio fim.
— Pense comigo, vai ser muito mais fácil de conversarmos se você tiver um nome que eu possa usar.
— E que nome é que você sugere, Hnm?
Não era a primeira vez que eles tinham aquela discussão. Harry queria dar um nome a sua cobra de estimação. Ela, por sua vez, acreditava fortemente que nomes não são necessários para as criaturas.
Mas, dessa vez, Harry estava determinado a convencê-la.
— Serpens. Pense só, continua significando cobra, mas vou estar falando em latim. E é um ótimo nome.
— Serpens… significa mesmo cobra? — a criatura perguntou, desconfiada. Não é a primeira vez que Harry tenta lhe dar nomes esquisitos.
— Sim. Eu pesquisei — respondeu, com muita confiança no que dizia. E era verdade, Harry tinha ido até a velha biblioteca da vila em busca de um bom nome para sua amiga de escamas.
— Tudo bem. Parece importante para você. Mas sem apelidos, apenas Serpens!
— Obrigado! — o menino sorriu, acariciando as escamas da recém nomeada, Serpens. A cobra fechou os olhos em sinal de aprovação — Vou contar para a mamãe.
Serpens se enrolou no braço de Harry antes que ele se levantasse. O menino deu uma última olhada no céu (estava esperando uma carta de Draco Malfoy, o garoto que conheceu na Madame Malkin) e então entrou dentro de casa.
Elise estava sentada à mesa na cozinha, tinha muitos papéis espalhados e seu semblante estava cansado. Os óculos dela, de armação redonda assim como os de Harry, lhe escorriam pela ponta do nariz e quase caiam.
O menino a observou em silêncio por alguns minutos. Sabia que às vezes a mãe ficava daquele jeito, distante e exausta. Ele cresceu sabendo que seus pais biológicos tinham sido mortos por Voldemort e que Elise era grande amiga deles, mas só estando mais crescido pôde entender o quanto aquilo a machucava ainda nos dias de hoje.
Harry também sabia que existiram mais três amigos dela: um fora morto, outro, preso. E o último tinha desaparecido pouco tempo depois da morte de Lily e James. Esse, chamado Remus Lupin, tinha cortado contato com Elise e já faziam dez anos que ela tentava localizá-lo por quaisquer meios que conseguisse, mas sem sucesso algum, aumentando ainda mais sua dor e angústia. Não tinha nem a certeza de que ele ainda estava vivo.
Harry notava que às vezes sua mãe ficava assim, distante e com os olhos cheios de dor. Cada vez que ela falhava em contatar Remus, o último de seus amigos, alguma dor profunda que Elise tentava enterrar parecia outra vez vir à tona. O menino não gosta daquilo, do peso que sua mãe tenta esconder, mas que ele sabe que ela carrega consigo há dez anos.
— Mamãe? — ele chamou baixinho.
— Diga, meu amor? — Elise respondeu com o melhor sorriso que conseguiu formar. Um bastante cansado, como era quando a lua cheia estava próxima e por algum motivo que não entendia, Elise sempre parecia mais perdida nessa época.
Como se esse fosse um período difícil para alguém muito importante para ela.
— Ela finalmente aceitou um nome — Harry diz, apontando para a cobra enrolada em seu braço — Chamei-a de Serpens.
— Como cobra em latim?
— É. Foi a única forma de fazer ela concordar.
— Entendo — a ruiva riu baixinho da astúcia de seu pequeno menino — Muito inteligente da sua parte. Ah, agora que me lembrei… Draco já respondeu a sua nova carta?
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HP 1| O Conto de Zahir (DRARRY!)
FanfictionEssa não é uma história em que Harry Potter foi criado por uma desagradável família de trouxas. Não, aqui você não encontrará isso! Elise Potter, naquela fatídica noite em que tudo ruiu, encontrou seu pontinho de luz em meio às trevas. O pequeno men...