Zahir
“Algo ou alguém que, uma vez tocado ou visto, nunca mais é esquecido. Ocupa o pensamento e pode levar a loucura.”
O choro alto do pequeno Harry Potter era tudo que preenchia os ouvidos de Elise, enquanto, trêmula, a mulher andava por uma casa assustadoramente vazia. Ao passar pela porta, o corpo morto de James já perdia seu calor e a mulher sentiu uma lágrima solitária marcar seu rosto. Seu primo ali, estirado no chão, morreu acreditando que salvaria sua família. A dor crescia cada vez mais em seu peito enquanto uma parte de si ainda tentava negar a realidade.
Um sentimento de vazio a preencheu ainda mais ao entrar no belo quartinho de bebê, ela mesma ajudou a decorar o cômodo para acolher o pequeno Harry, um ano atrás. Agora ele parecia frio e vazio.
Lilian Potter, sua melhor amiga, morta.
O mundo parecia querer desabar ali mesmo, mas Elise precisava agir, sabia que se não fosse rápida Dumbledore iria querer tirar o menino de si, e isso ela não permitiria. Não permitiria, de forma alguma, que Dumbledore criasse o menino da forma que quisesse, moldando a vida dele como se o próprio não tivesse direito a escolha.
Tudo estava frio e sombrio, como se o próprio mundo estivesse de luto pela família Potter.
Acolheu o garotinho choroso em seus braços com o máximo de cuidado possível, acariciando seu rosto, afastando a pequena franja rala da nova ferida aberta em sua testa, um raio perfeitamente desenhado.
— Está tudo bem, Harry. Você está seguro agora — o bebê ainda chorava em seus braços e, ainda trêmula, Elise andou devagarinho para fora da casa. Embalando o pequeno bebê em seu colo e dando um último adeus a James e Lílian Potter.
— Prometo cuidar de você, pequenino. Não deixarei que te tirem de mim. Honrarei as memórias de Lilian e James, sendo a melhor que puder para você… — o bebê não entendeu, disso Elise sabia, mas as lágrimas dele começaram a diminuir. Sua única certeza, naquele momento, era que protegeria aquele garotinho com a sua própria vida se fosse preciso.
O vento açoitava a pele branca da jovem mulher, seus cabelos cacheados grandes e espessos se movimentavam a cada passo dado pela estradinha de pedra, tão longos e volumosos que chegavam abaixo de sua cintura, cascateando belamente, sem que o vento fosse necessário.
Ao longe, numa noite escura e sem estrelas, um pontinho de luz se aproximava pelo céu. Hagrid vinha vindo na moto voadora de Sirius, com ordens claras de Dumbledore para buscar o menino Potter.
Nenhum deles sabia que o pequeno já estava bem longe de Godric's Hollow. Nem que, aquele pequeno ato de Elise, mudaria totalmente o futuro de todos, principalmente o do pequeno Harry Potter.
A história do menino que sobreviveu só estava começando. Mas agora ela seria completamente nova.
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A velha casinha à beira mar da família de Elise Potter provou ser o lugar perfeito. Com todos os feitiços de proteção em volta dela, eles não seriam encontrados, a menos que a ruiva quisesse.
Como se nada mais importasse, o pequeno Harry dormia calmamente em uma gaveta forrada por um cobertor. Era o que ela tinha conseguido e, de qualquer forma, o menino parecia ter achado aquilo muito confortável.
Elise, por outro lado, não estava nada calma. Tinha preparado um grande bule de café preto e, vez ou outra, preenchia sua xícara mais uma vez para não apagar.
Estava completamente destroçada.
Enquanto Harry dormia, Elise escreveu três cartas, mas então se deu conta de que não tinha coruja para entregá-las. Dessa forma, conjurar um patrono para mandar sua mensagem a Dumbledore foi a solução que encontrou.
A mensagem era curta e objetiva, e esperava que o velho diretor não se achasse no direito de contestá-la: “Dumbledore, eu estou com Harry. O menino está bem e escapou apenas com uma cicatriz de raio em sua testa. Não tente nos encontrar, eu não permitirei.”
As duas outras cartas, porém, nunca chegaram ao seu remetente. Elise mais uma vez se permitiu chorar, perguntando-se o porquê tudo teve que ruir tão rapidamente.
Harry Potter, o menino que sobreviveu, dormia serenamente em sua gaveta. Não sabia ainda, mas nos próximos dez anos, o garotinho com uma cicatriz de raio na testa seria o principal alicerce para que sua vida não desabasse.
E ela faria de tudo para que Harry, mesmo com todos os horrores marcando seu passado, fosse o menino mais feliz do mundo.
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HP 1| O Conto de Zahir (DRARRY!)
FanfictionEssa não é uma história em que Harry Potter foi criado por uma desagradável família de trouxas. Não, aqui você não encontrará isso! Elise Potter, naquela fatídica noite em que tudo ruiu, encontrou seu pontinho de luz em meio às trevas. O pequeno men...