Ropen

0 0 0
                                    

De todos os terrores que podem viver nesse mundo, a maioria das pessoas acreditam que os piores são aqueles que se encontram nos abismos marítimos, entretanto eu posso dizer que os piores são aqueles que vem dos céus, do distante desconhecido, diretamente das estrelas, mas nunca confundam ropen com a esperança.

Eu era habitante de uma grande ilha e meu povo fazia questão de seguir tradições antigas, desde caçar e pescar até cerimônias, regras e cultos, entre a pescaria residia a lenda do abençoador da pesca chamado Ropen, um enorme pássaro enviado dos deuses para ajudar os pescadores nas águas à noite com seu corpo brilhante, o povo em si tinha uma grande afeição em contar sempre das vezes que viram ele porém tinha uma pequena parte que era menos crente pois discordavam firmemente de qualquer relato benevolente, alegando que o ser é só um animal que podia ser bem agressivo sempre que quisesse porém nunca acreditei em ambos lados desde o dia em que eu e meu pai pescávamos com tranquilidade em uma noite nublado quando reparei em um rastro de luz cruzando as nuvens, no mesmo instante fiquei empolgado por pensar em ver ele pela primeira vez mas as luzes não desceram, apenas seguiram em linha reta; então assim que terminamos de pescar decidi pegar uma rede e seguir onde aquelas luzes passaram que acabaram por me levar em uma mata fechada, até que percebo que quanto mais eu andava, mais densa uma neblina ficava fazendo eu me tremer com o frio, assim que reparo no caminho que estou seguindo, ele apenas me levava para o cemitério da vila tendo a única e mais sagrada regra do lugar era nunca violar os túmulos apesar disso o que me fez ficar e avançar foi o alto som de uma garça, que por coincidência ecoava diretamente do cemitério entretanto quanto mais eu investigava, parecia que o cenário só ia piorando, o cheiro pútrido se espalhava rapidamente enquanto olhava por cada tumba revirada e continuando a seguir aquele canto, os corpos das tumbas tinham várias partes faltando sendo que em alguns túmulos nem tinham mais seus finados, conforme andava era capaz de enxergar um brilho azul logo adiante e me deparei com uma cena bem pavorosa de se assistir, uma criatura com imensas asas de morcegos devorando freneticamente várias corpos, desmembrando e revirando as carcaças podres sedento pelos órgãos mais frescos, Ropen parecia estar bastante distraído para não perceber minha presença então aproveitei a chance e joguei aquela rede sob ele, incapacitado de voar permaneceu se debatendo extremamente desesperado mas usei do momento que a criatura continuava presa avançando nele com uma pá em mãos pronto para desacordar aquilo, apesar disso, não contava o ferrão de sua cauda que perfurou e rasgou minha perna e foi neste momento que me vi perdido, precisei ficar tampando a ferida, era questão de minutos até sua fuga, como eu explicaria para alguém esse estrago e isso se eu ainda saísse daqui vivo, de repente, surge correndo uma pessoa cortando o pescoço dele com um facão fazendo-o jorrar sua seiva luminescente e soltar gritos estridentes, esse alguém era o meu pai, depois de me ajudar a estancar o sangramento nós dois nos livramos do corpo do “nosso abençoador” amarrando seu corpo em pedras e depois jogando na parte mais funda de um rio, em seguida meu pai falou para eu prometer nunca falar desta noite na minha vida.

O tempo foi passando e eu mantive minha parte da promessa, agora meu pai não garantiu sua parte já que semanas depois do ocorrido começou a espalhar para o povo se gabando que lutou contra ele, contudo nada disso importa mais porque quando tive a chance eu me mudei para o mais longe da minha terra natal, parece que as vezes mesmo lendas, histórias contadas e compartilhadas por geração tem sim seu fundo de verdade, e garanto que esse fundo está além do nosso entendimento e é justamente por esse motivo que me afastei de tudo isso, porém mesmo nos dias de hoje eu olho para cima e ainda avisto as mesmas luzes de antigamente no céu.

Contos SobrenaturaisOnde histórias criam vida. Descubra agora