Encontro Arranjado

Capítulo 20

Então eu não estava imaginando coisas. Corri em direção a ele, que me segurou em um abraço, tirando meus pés do chão. Antes que eu percebesse, ele me beijou. Foi apenas um selinho, algo que costumávamos fazer quando nos encontrávamos, mas aqui, na presença do Kae, me deixou extremamente desconfortável. Por quê?

— Ali! Não acredito que é você. O que está fazendo aqui? — perguntei quando ele me soltou.

— Senti saudades — respondeu ele, brincando. Mas fiquei nervosa mesmo assim. Por que estou tão nervosa com o que o Kae pode pensar, quando na verdade não temos nada?

— Também senti saudades — falei, sendo sincera. Ele é uma pessoa muito importante na minha vida.

— Alistar! — Kae falou, se aproximando.

— Hyung — Ali respondeu, fazendo uma reverência ao primo em sinal de respeito.

Não posso evitar sentir que a presença dele incomoda o Kae. Gostaria que sim, gostaria que ele se incomodasse com o fato de sermos tão próximos. Na verdade, o que eu queria era que o Kae se comportasse como um homem das cavernas e me tirasse dos braços do Ali. Mas ele não parece se incomodar com a situação, e meu coração se parte um pouco ao constatar isso.

De qualquer forma, a festa continua e a aproveitamos como de costume, eu, a Brindha e Ali adoramos dançar. Kae e Amihr preferem ficar na mesa conversando. Nem sei por que se dão ao trabalho de vir a um clube se não gostam de dançar.

Ficamos até o fim da festa para aproveitar ao máximo a presença do Ali. As garotas, é claro, não perderam a oportunidade de se jogarem em cima dele. Do meu ponto de vista, apesar de Ali ser lindo, Kae ganha no quesito beleza, mas a cara sempre fechada impede a maioria das garotas de se aproximarem. Esse não é um problema que Ali tem; ele está sempre bem-humorado e receptivo. Não preciso dizer que há um rastro de corações partidos por onde ele passa. 

Ele é uma constante na minha vida desde que eu era pequena. Sempre pensei que nossos pais arranjariam nosso casamento, e quando éramos menores, brincávamos com essa ideia, de como seria divertido casar com um amigo. Mas agora estou feliz com essa decisão. Posso entender o interesse da minha família em um casamento com o Kae; eles são primos, o Príncipe de Avar e o Príncipe de Zyrin. Mas minha família já tinha o apoio de Zyrin, então um casamento entre as famílias não traria vantagens, apesar de também não trazer desvantagens. Agora, um casamento com Avar os traria para perto de Aragon, e Avar era o maior principado, ficando atrás apenas do Reino de Aragon, o principal estado do planeta.

Somos praticamente expulsos do clube para que possam fechar o lugar. Assim que chegamos ao estacionamento, noto um dilema: são dois carros e cinco pessoas. Eu vim com o Kae, e a Brindha veio com o Amihr. Nesse momento, estou em dúvida se devo falar alguma coisa.

— Amihr, vou com a Velitha e o Ali, e você pega carona com o Kae, pode ser?

— Sim — ele responde, entregando a chave para ela.

Kae me observa nesse momento, mas não fala nada. Assim como eu, ele também fica em silêncio. Brindha se dirige ao carro e abre a porta do motorista. Eu e Kae ainda estamos nos olhando, mas parece que nenhum de nós tem coragem de falar qualquer coisa.

— Vocês vão ou pretendem dormir aqui no gramado? — exclama Brindha.

— Gramado não é minha primeira opção quando há outras camas disponíveis — Ali responde e vai para o carro, entrando no banco do passageiro.

— Tchau! — Kae fala e beija minha cabeça. Sinto que esse simples "tchau" contém muito mais informação do que sou capaz de compreender agora. Apenas balanço a cabeça, me despedindo dele, e entro no banco de trás do carro.

Já estamos quase na metade do caminho. Permaneço em silêncio, enquanto Ali e Brindha colocam as novidades em dia.

— Eu entendi direito ou tem alguma coisa acontecendo entre a Velitha e o hyung Kae?

— Você entendeu direito — Brindha exclama, a traidora.

— Somos amigos, assim como sou sua amiga, não posso?

— Não, não somos esse tipo de amigos. Já tentamos ser, mas não deu certo — viro os olhos diante da declaração dele. Sim, já tentamos namorar e realmente não deu certo. Funcionamos muito melhor como primos. Graças a Deus que nossos pais não tentaram nos casar.

— Eles têm um relacionamento estranho, nem eles mesmos sabem direito o que é. Dois teimosos orgulhosos que, pelo visto, têm medo de se declarar primeiro e ficam nesse joguinho de amizade.

— Você não está falando sério, Brindha! Sabe muito bem da nossa situação.

— Sim, exatamente o que acabei de descrever.

— Espera! Vocês não tiveram um encontro fracassado no ano passado? — pergunta Ali.

— Como você sabe disso?

— Toda Aragon sabe, foi o assunto mais comentado por meses.

— Como assim? Nem estamos em Aragon.

— Sim, mas isso não faz com que vocês deixem de ser herdeiros dos maiores principados de Aragon. Vocês são falados simplesmente por terem nascido.

— Você fala como se não estivesse nesse meio. Como Príncipe de Zyrin, você deve ser ainda mais assediado do que o Kae.

— Provavelmente, mas ninguém está tentando me casar com a Princesa de Tessaro, ou com qualquer outra garota, para falar a verdade. Então, minha vida está longe de ser tão interessante como a sua. E voltando ao encontro fracassado, o que aconteceu de fato?

Fico quieta, recusando-me a dar mais munição para ele. Mas é claro que posso contar com a Brindha para me envergonhar nessa hora.

— Eles tiveram um encontro, se odiaram, se encontraram por acaso um mês depois, Velitha dormiu na casa do Kae. Perceberam que podiam se ajudar, já que ele podia bloquear as emoções ao redor, e isso inibiria o número de encontros que eles teriam que ter, caso as famílias pensassem que estão em um relacionamento. Bom, isso é o que eles contaram pra gente. Vou deixar você deduzir o restante sozinho.

— Não há mais nada para deduzir, simplesmente esses são os fatos.

Ali cai numa gargalhada estrondosa e já estou me preparando para a tortura dos próximos dias. Ele é tão teimoso quanto eu e não larga o osso facilmente. Não sei como vou me livrar dele questionando meu relacionamento ou a falta dele com o Kae.