Capítulo 16

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— O que teremos para jantar? — Pergunto assim que desço as escadas.

— Velitha, Arthur me falou que você tem um namorado novo.

— Pai! Ele não é meu namorado.

— Ficante então? — Meu pai pergunta enquanto tira algo do forno.

— Deixa eu te mostrar uma foto, Amanda. — Brindha fala.

— Deixa eu ver. — Ela fala chegando perto do celular da Brindha.

— Você tem uma foto dele no celular? — Pergunto incrédula.

— Ciúmes?

— O nome dele é Kae? Bonito nome.

— O nome dele é Kaeron. — Retruco.

 — Uau, Velitha, ele é lindo! Vocês formam um par incrível, é até injusto com o resto de nós mortais.

— Deixa eu ver essa foto. — Falo pegando o celular dela. — Quando você tirou essa foto? — Ela tem uma foto minha e do Kae na frente do clube, parece que foi tirada quando chegamos, estamos sorrindo um para o outro.

— São bonitinhos, né? — Ela fala com a Amanda, me ignorando totalmente, mas tenho que concordar que a foto ficou realmente bonita. Aproveito a distração dela e envio a foto para o meu celular.

— Vamos jantar antes que a comida esfrie. — Meu pai chama nossa atenção.

— Preciso de mais detalhes, Velitha. Onde se conheceram? O que ele faz da vida. — Amanda pede.

— Ele é advogado, nos conhecemos no escritório dele.

— O que você estava fazendo em um escritório de advocacia? Aconteceu alguma coisa no hospital? — Amanda pergunta preocupada, ela é realmente uma gracinha.

— Não, minha mãe me obrigou a encontrá-lo.

— Por quê? Não entendi.

— Minha mãe quer que eu case com ele.

— Mas se estão namorando...

— Não estamos namorando, somos apenas amigos.

— Amigos que dormem juntos na mesma cama. — Meu pai fala. — Tenho uma amiga assim também. — Ele segura a mão da Amanda e sorriem um para o outro.

— Estou ficando enjoada e ainda nem coloquei a comida na boca. Se comportem, por favor.

— Mas então? São amigos coloridos? — Amanda insiste.

— Nada de coloridos, apenas amigos.

— Que dormem juntos — Brindha fala.

— Vocês não me ajudam.

— A intenção nunca foi ajudar. — Brindha fala rindo.

— Sim, eu durmo lá às vezes, sim, dormimos na mesma cama, não, nunca o vi sem roupa e nunca sequer o beijei. Somos apenas amigos.

— Ele é gay?

— O quê? — pergunto.

— Não tenho nada contra, só acho estranho vocês terem tanta intimidade, dormirem juntos e nunca ter acontecido nada. Faria sentido se ele não gostasse de mulheres ou se você não gostasse de homens.

— Espero que tenha sobremesa, porque só isso pra me fazer sobreviver a esse jantar. — Falo séria e tomo um gole do meu vinho.

Depois do jantar, me arrumo para ir dormir depois de aguentar mais um pouco da conversa deles. Claro que eles não facilitam minha vida. As coisas mais fáceis se eu definisse o tipo de relacionamento que tenho com o Kae? Realmente não sei. Me pergunto como as coisas teriam sido se tivéssemos nos conhecido em Aragon. Teríamos nos dado bem? Ou seria como nosso primeiro dia aqui? Ele parecia uma pessoa completamente diferente daquela que conheci nas últimas semanas.

O tempo sempre passa depressa. Divido meus dias entre plantões no hospital e o trabalho voluntário que faço. Minhas noites são divididas entre minha casa e o apartamento do Kae. Sempre sinto falta quando não o vejo, mas realmente não sei dizer se é porque sinto falta dele ou porque ele facilita meu dia quando está ao meu lado.

Minha rotina continua a mesma conforme o tempo passa, até o fatídico dia em que desabei. Depois de tanto tempo sentindo as mais diversas emoções, não pensei que seria afetada dessa forma. Simplesmente é como se algo tivesse quebrado dentro de mim.

— Velitha! — Minha colega me chama de forma urgente.

— Sim?

— Os paramédicos estão trazendo vítimas de um acidente de carro, dentre elas uma criança em estado grave, dois minutos para eles chegarem.

Passo meu paciente com um corte no braço para o residente que estava me acompanhando e vou para a sala onde as vítimas do acidente chegarão. Minha primeira especialização era pediatria, então eu sabia muito bem o que fazer em um atendimento de urgência e emergência de crianças. Já havia pego vários casos desde que cheguei.

A ambulância chegou e o caos se instalou no hospital. A criança entrou em parada cardiorrespiratória assim que chegou em minhas mãos. Ela estava coberta de ferimentos, com diversos traumas que, na situação atual, eram difíceis de serem analisados. Comecei a fazer compressões cardíacas e a médica auxiliar com ventilação. Enquanto fazia massagem cardíaca, pude perceber, pelo tamanho, que ele tinha cerca de oito anos. Era um menino, com os cabelos quase pretos e a pele bastante clara. Naquele momento, não conseguia dizer se a palidez se devia à perda de sangue ou se ele sempre fora assim. 

Os enfermeiros o conectavam aos aparelhos enquanto eu sentia que estava perdendo a batalha com aquele pequeno coração. E foi nesse momento que eu vi, e não apenas isso, mas escutei. Pela porta de vidro da sala de urgências, conseguia ver os pais dele, o desespero no olhar. Quando escuto a mãe, ela pediu para a criança pegar algo que estava caído no chão. A criança soltou o cinto por apenas um momento, e nessa hora outro carro cruzou o sinal vermelho e bateu neles. Os pais estavam de cinto. Tiveram apenas ferimentos leves. A criança foi jogada para a frente do carro. 

Enquanto eu me esforçava para manter aquele pequeno coração batendo, eu sabia com todas as minhas forças que, mesmo que ele não parasse de bater, essa criança não sobreviveria. O dano cerebral do acidente, somado à parada cardíaca, provavelmente seriam demais para aquele pequeno corpo. Eu continuei, mesmo sabendo que a batalha estava perdida, por muito mais tempo do que eu deveria. 

O olhar que aquela mãe me deu, o que ela estava sentindo... Eu sabia que ela jamais se perdoaria, e eu não teria nenhuma palavra de consolo para ela. Nada do que eu falasse mudaria o fato de que ela pediu ao filho que tirasse o cinto. Depois de mais de uma hora massageando aquele pequeno coração, eu sabia que tinha que parar, mas minhas mãos se recusavam. Minha colega parou com a ventilação artificial e segurou minhas mãos, mãos que estavam cheias do sangue daquela pequena criança.

— Velitha! — Ela falou, tentando me parar. — Velitha! — Ela gritou mais alto. — Acabou. — Ela falou em voz baixa. — Hora da morte: quinze e quarenta e oito.

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