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Minha colega ainda segura minhas mãos. Estou olhando para elas, ainda cheias de sangue, quando alguém cobre aquele pequeno corpo com o lençol. Eu havia perdido aquela batalha. Não é como se nunca tivesse perdido pacientes antes, mas nessa situação... Ouvi um grito quando o corpo da criança foi coberto. Quando olhei para fora, vi que a mãe estava lá, o grito veio dela. Naquela situação, nada do que eu dissesse faria diferença, nem para mim, nem para ela.
Saio da sala de emergência rumo ao vestiário. O peso deste hospital está demais para mim. Sinto que não consigo respirar, sinto que vou enlouquecer a qualquer momento se eu não sair daqui. Lavo minhas mãos assim que chego ao vestiário e pego minha bolsa e minhas chaves. Não sei para onde devo ir, quero apenas me afastar de todos e não sentir mais nada. Só quero que tudo pare.
Quando dou por mim, estou perto do escritório do Kae. Lembro dele ter me falado que há um estacionamento subterrâneo. Deixo meu carro ali e quero pegar o elevador, mas ele está longe e simplesmente meu corpo não consegue ficar parado. Começo a subir as escadas. Sei que são muitas, mas não é como se eu fosse me cansar. Não consigo pensar em mais nada, apenas em contar os degraus. Quando chego no último andar, saio da escadaria e entro no escritório. A recepcionista leva um susto quando me vê, e só então me dou conta de que ainda estou com meu uniforme e ele está cheio de sangue, ignoro ela e sigo pelo corredor até a recepção da sala do Kae.
— Eu preciso falar com o Kae. — Falo para a secretária em frente à sala dele.
— Você agendou horário? — Ela responde.
— Velitha! — Ele fala assim que me vê. Com certeza, ele me ouviu da sala dele. Vou até ele e o abraço. — Você está machucada?
Ele me afasta enquanto segura meus braços para me analisar. Nessa hora, as lágrimas começam a rolar e não tenho mais controle sobre elas. Tudo o que segurei até chegar ali simplesmente desaba.
— Velitha! Você está machucada?" — ele insiste.
Eu apenas balanço a cabeça em sinal negativo.
— E esse sangue? O que aconteceu?
— Um paciente. — Falo em voz baixa.
— Senhor Kaeron, precisa de alguma coisa? — Pergunta a secretária.
— Cancele minhas reuniões e qualquer compromisso desta tarde. — Kae pede.
— Mas o senhor...
— Cancele tudo e não deixe ninguém me interromper. — Ele responde com voz firme.
Ele me leva para a sala dele e me abraça enquanto me coloca sentada em seu colo. Percebo que estou sujando a roupa dele, mas não consigo fazer outra coisa além de chorar. Ele apenas me embala e fala palavras de carinho. Não sei dizer quanto tempo ficamos assim. Quando não tenho mais lágrimas para chorar, ele se levanta e pega uma água para mim. Depois de eu beber, ele me levanta do sofá e faz com que eu vista o paletó dele. Como é escuro, não dá para ver muita coisa da sujeira que eu causei. Está bem melhor do que meu uniforme. Saímos da sala e ele avisa a secretária.
— Qualquer coisa direcionada a mim, avise o Amihr. Não quero ser incomodado por nada.
— Sim, senhor. — Responde a secretária.
Ele me leva para o carro e, quando percebo, chegamos ao apartamento. Só noto quando ele sai do carro e me pega no colo, rumo ao apartamento dele. Assim que chegamos, ele se senta no sofá ainda comigo no colo.
— Você precisa tomar um banho. Vem, vou te ajudar.
Ele me leva até o closet e parece um pouco indeciso. Estou usando o paletó dele e o uniforme do hospital, que é basicamente um camisetão e uma calça azul claro. Ele, por outro lado, está com uma camisa social justa no corpo, uma calça preta e uma gravata bordeaux. Mesmo com a camisa suja de sangue, ele continua lindo.
Ele me ajuda a tirar o paletó e minha blusa, o que me deixa apenas de sutiã, e em seguida, depois de ponderar um pouco, me ajuda a tirar minha calça e me leva até o banheiro, acendendo a luz.
— Você consegue tomar banho sozinha? — Pergunta ele.
Eu aceno em concordância. Ele sai e encosta a porta do banheiro, mas assim que ele sai, sento no vaso e começo a lembrar dos acontecimentos da tarde. As lágrimas começam a cair compulsivamente e os soluços aparecem.
— Velitha! — Ele chama meu nome enquanto se ajoelha na minha frente e segura meu rosto que ainda derruba lágrimas sem rumo. Nessa hora, vejo que ele está sem a gravata e com a camisa aberta. — Vem, vou te ajudar.
Ele liga o chuveiro e termina de tirar a camisa, logo em seguida tira a calça, ficando apenas de cueca. Ele me ajuda a lavar meus cabelos e passa sabonete nas minhas mãos, braços e barriga, imagino que seja onde mais tinha sangue.
— Acho que estamos prontos. — Ele fala.
— Kae. — Olho para ele enquanto o chamo pelo nome, estamos ainda no chuveiro.
— Sim?
— Você pode me beijar? — Ele parece ponderar sobre o que acabei de pedir. Ele desliga o chuveiro sem desviar o olhar do meu. Assim que termina, ele segura meu rosto entre as mãos.
— Eu posso. Mas não posso fazer isso enquanto você está nesse estado, Velitha. Não quero que acorde amanhã pensando que me aproveitei da situação. Eu não conseguiria viver com isso. — Ele encosta a testa na minha e fala. — Prometo que farei isso quando você se você me pedir novamente, mas que seja em um momento em que você não esteja se sentindo tão fragilizada.
Eu posso entender o que ele está dizendo, e sei que ele tem razão. Não seria justo comigo nem com ele. Eu sequer sei o que estou sentindo neste momento. Ele está aqui me ajudando sem nem saber o que aconteceu, e eu peço isso para ele. Neste momento, consigo amar e odiar a decisão dele, amar e odiar o fato de ele ser tão racional. Mas eu sei que, assim que o dia raiar, minha razão também prevalecerá sobre a emoção.
Ele beija minha testa e me abraça enquanto me desfaço em lágrimas novamente. Chorando por mim, por aquela mãe e pela criança que sequer sei o nome, mas fui incapaz de salvar. Quando consigo me acalmar, ele me leva para o closet. Sei que preciso tirar a lingerie que estou usando. Ele coloca um pijama na cômoda em minha frente; ele está nas minhas costas.
— Você precisa trocar essa roupa molhada. — Ele fala.
Tento alcançar o fecho do meu sutiã sem sucesso. Ele está atrás de mim e o abre. Termino de tirar e visto minha blusa de pijama. Ele vira de costas enquanto tiro a calcinha e visto o shorts. Quando me viro, ele já está com o shorts de pijama dele. Sim, ele comprou alguns desde que vim morar aqui. Assim que terminamos de nos vestir, ele me leva para a cama.
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Encontro Arranjado
RomansaVelitha e Kaeron tem suas vidas subitamente entrelaçadas pela decisão de suas famílias. Velitha sempre foi uma filha obediente, respeitando e amando seus pais, e procurando cumprir seus desejos sempre que possível. No entanto, há algo que ela jamais...