Primeira parte

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01


Se eu pudesse te dar um conselho, diria: Não ouça o que eu tenho a dizer! Não! Nada. Não acredite em mim. Não tenha pena, ou dó. Nem tenha misericórdia. Não mesmo.

 Porém se você me permitisse pedir algo, como meu último desejo, eu imploraria para que me deixasse falar.

 As minhas palavras pesam tanto em mim, que se eu não as expuser, eu morro sufocado.

 Para mim é tão bom ter alguém para desabafar, para me ouvir, e você veio até mim voluntariamente, sem nenhum esforço da minha parte. Por isso, obrigado.

 Você não pode acreditar mas a sua presença já ajuda minimizar a minha dor. Essa dor é forte, tão forte que fere a minha alma, e contra esta não há remédio, e não há cura. Acredite, eu sei o que estou falando.

 Eu me chamo Alexandre Rodrigo Pupo da Silva, você sabe, deve ter já ouvido o meu nome, ou lido em algum lugar, mas isso não importa, não mais.

 Quer saber sobre o que aconteceu com o Otavio, não é? É, eu sei. Todos os que me procuraram ou ainda me procuram é sempre pelo mesmo interesse.

 Sei que muito se têm falado sobre esse assunto, mas o que eu vou te contar é verídico, aconteceu, eu juro, porém fica ao seu critério em quem irá acreditar. A escolha é sua.  Não, eu não sou um herói. Sei que muitos tentam se defender inventando milhares de motivos para justificar suas atitudes, mas não, eu não farei, não se preocupe. 

 Não se preocupe também, pois eu não vou tentar te persuadir em momento nenhum. Prometo ser o mais fiel possível aos fatos. Pode anotar, sei que hoje isso não vale muito, mas, você tem a minha palavra.

 Não posso e nem quero mentir para você, lembre-se disso, por favor.

 Se você já se cansou dessa introdução, a achando entediante, chata, arrastada, eu não te julgo, mas faço isso por precaução, da última vez que tentei contar sobre minha vida, fui tão mal interpretado que prometi a mim que não retomaria esse assunto novamente.

 Porém hoje senti a necessidade de dividir com alguém toda minha dor.

 Um jeito de minimizá-la, ou talvez, um jeito de me sentir um pouco pior do que já me sinto, sendo infiel, quebrando esta promessa feita por mim.

 Mas caso ainda queira continuar a me ouvir, prosseguirei. Antes que continue necessito desesperadamente expor essa vontade louca e sufocante de recitar William Blake: "Qualquer desconhecido que parece ser seu inimigo, sempre começa tentando ser seu amigo".

 Com essas palavras pregadas em nossas mentes, na minha e na sua, começarei a ditar tudo o que aconteceu, mas peço por gentileza que me dê toda sua atenção, porque eu não pretendo e nem conseguirei depor novamente.

 Se uma vez é dolorido, duas vezes deve ser mortal.


Campos do Jordão. Janeiro.


 Senti algo gelado cair sobre meu rosto. Aos poucos sons parecidos com de pássaros começaram a surgir, mas meus olhos permaneciam fechados. Tentava buscar na minha mente o local onde poderia estar, parecia estar acordando de um sonho. Poderia estar em casa, no meu quarto, mas a claridade forte já revelava que não. Senti novamente algo cair sobre o meu rosto, abri os olhos, e um grande ramo de folhas foi a primeira imagem que surgiu, ainda vi uma última gota d'água vindo ao meu encontro, então entendi que estava deitado debaixo de uma grande árvore.

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