TERÇA E UM CAFÉ

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-Obrigada por vir!
- É a primeira vez que nos vemos fora do prédio.
- Eu gosto daqui, é meu lugar favorito. Não fecha nunca.
- A gente vai pedir café?
- chocolate!

Ela estava linda. O cabelo que eu usava como referência pra descrever ela, agora era uma parte das tantas outras que eu também gostava. O olho claro, da mesma cor do cabelo, que nunca estava bagunçado, mas sempre tinha umas ondas que pareciam desenhar o rosto dela. As mãos com pintinhas que iam por todo o braço, a boca que sempre estava rosada, o cheiro fresco que exalava a cada vez que ela se mexia enquanto falava. Ela sempre usava as mãos para demonstrar as coisas. Eu acho graça nisso, no jeito que sempre parece que ela está contando a história mais linda do mundo. Em outras circunstâncias eu já teria declarado que ela é a pessoa que sempre procurei.

-Eu gosto de você.
-Eu também Sara M.
-Eu sei que as coisas ficaram complicadas, e você nunca quis estar no meio de nada do tipo. Mas eu também não queria. Te conhecer está sendo incrível, cada vez que passei tempo com você me senti de formas que nunca senti antes.
-Eu também gosto da gente perto. E eu estou mesmo tentando entender tudo isso. Mas não posso me arriscar. As coisas não foram fáceis por aqui Sara.
-Você nunca me disse o que aconteceu.
-Não gosto que me vejam como alguém que já sofreu mais do que deveria.
-Não vou mudar a visão que tenho sobre você. Você sempre vai ser a vizinha do cabelo incrível, pode apostar!
-Ele já foi escuro. Me convenceram que assim era melhor. E eu acreditei. Acreditei também que eu não devia tomar cerveja nos dias quentes, porque isso era ser alguém indisciplinada. Acreditei que sair de São Paulo e ficar longe de todas as pessoas que conhecia era o melhor pro meu relacionamento, afinal, ninguém queria o meu bem, só o meu dinheiro. Acreditei que ela cuidaria de mim.
-Sinto muito por isso. Nem consigo imaginar você nessa.
-Eu também não me imaginava. Não percebi. Até ver ela saindo de uma festa, com a melhor amiga.
-Tá, agora eu tô me sentindo mesmo em uma dessas histórias que vemos na internet.
-Eu disse que já tinha visto isso acontecer.
-Mas não achei que viu tão de perto assim.
-Pois é. Ela negou, as duas negaram. Mas eu não consegui acreditar, fui atrás e achei mensagens, achei algumas fotos na nuvem.
-Nossa!
-A mudança de cidade foi por causa dessa garota. Elas voltaram a se falar quando já estávamos juntas, e se viam quando a minha ex ia visitar os pais. Até que a coisa ficou mais forte, e a solução dela foi mudar pra lá e me arrastar junto. Só não entendo porque ela não simplesmente terminou. Eu não ia dificultar nada.
-Desculpa te fazer falar disso. E te colocar em uma história complicada logo depois de sair de uma barra dessas.
-Tá tudo bem, uma hora você ia acabar sabendo. E para de me olhar com essa cara. Preferia quando me achava a vizinha alegre e falante.
-Para! Você ainda é! Só tô me sentindo culpada por ter te levado pra outra coisa que não merece.
-Você não me levou, acredito mesmo que aconteceu. Eu sei que você não fazia ideia de que me beijar naquele dia faria sua melhor amiga se transformar na mulher que é fascinada por você.
-Que beijo ein!
-Você viu! Fazendo mais que muita gente!
-Você é incrível Luiza! Sempre humorada e gentil. Não sai da minha vida não...
-Não saio Sara M. Mas não prometo que isso se aplica à sua cama...
-Droga! Eu amo essa parte!
-Boba!
-Mas é sério, se eu ainda puder pedir alguma coisa. Fica! Eu prometo te contar e ser sempre clara com tudo.
-Eu posso acreditar nisso Sara. Mas é arriscado. Não quero acabar numa competição pela mulher que eu gosto. Ficar perto é caminhar pra isso. Gostar de você, te ver indo e voltando pra essa história com a Julia. Torcer pra te ver no elevador e acabar na sua casa. É tão pouco...eu passei muito tempo me diminuindo. Não posso mais permitir que ninguém faça isso.

-Me desculpa! Não tenho o direito de te pedir pra ficar. Você merece alguém menos complicado.
-Queria merecer você.

Ouvir aquilo me tirou do chão. Eu não esperava. Se eu tinha alguma dúvida, todas elas se potencializaram no momento que entendi que estar com a Luiza, poderia ser tão real quanto estar com a Julia. Me dar conta de que o meu medo de estar sentindo coisas pela Luiza sozinha não precisava mais existir, porque ela também sentia, foi uma espécie de alívio, mas com o peso da responsabilidade de não magoar ela. Porque a que menos merece sofrer com os respingos de tudo isso, é a Luiza.

-não é sobre mérito Luiza, é sobre escolha. E eu já fiz a minha.

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