-esse cheiro é do que eu estou pensando?
- é sim
- que saudade que eu estava de comer seus biscoitos
- cookies, funny cookies Thais
- ah meu Deus, me desculpe, adorável chefe! Funny Cookies!
- boba, você faz isso só pra ver se eu vou te corrigir que eu sei
- eu gosto de ver você dando mais importancia pro nome, do que pra quantidade de açucar que vai na receita original
- ué, mas você quem me pediu pra mudar
- foi uma vez, e você nunca mais quis aceitar que a quantidade certa não é tres xícaras
- na nossa é!
- tudo bem, na nossa éEu não me lembro de dias ruins ao lado da Thais, mesmo nos piores momentos a gente dava um jeito de amenizar tudo. Na verdade, acho que isso vem dela. Essa calma pra lidar com as grandes confusões, o jeito centrado de pensar e depois agir, a certeza de que nada pode ser tão ruim que não possa ser resolvido com uma xícara a mais de açúcar.
-tudo bem se eu fizer o chá?
-claro, mas a gente tem chá aqui?
-eu lembrei disso tambem
-adorável, sempre adorável Thais!Já sentiu a sensação de pertencer exatamente a um lugar?
Era assim que eu me sentia quando olhava pra Thais preparando nosso chá da tarde, colocando a mesa prestando atenção na posição exata de cada coisa, mas deixando a minha xícara um pouco mais afastada, pra que eu não esbarrasse nela sem querer.—
- acho que vou subir, deitar um pouco
-posso ficar?Não sei dizer se foi a lembrança das tardes com chá, as conversas que tivemos na mesa, ou só mesmo ela desistindo de lutar. Mas eu amei que dessa vez foi ela quem pediu pra ficar.
Não foi diferente, ela ainda me devorava com os olhos como quando estávamos na faculdade. Thais nunca precisou pedir permissão pra tocar em mim, pra me conduzir seja lá pra onde ela quisesse. Sentir ela soltando meu cabelo com a calma de quem já fez isso um milhão de vezes, o toque dedilhado por cada pinta escondida no meu ombro, as pausas pra me olhar mais fundo e me ver perder o ar.
-aqui você pode gritar, não seja tão adorável Sara
eu não vou parar, não até você implorarThais não joga com sentimentos, mas não perde a oportunidade de fazer isso na cama.
Eu nunca ganhei esse jogo, nunca fiz questão. Nesse jogo eu imploro pra que ela pare, e torço pra ela não parar. Ela não para.
Sua mão me segurando com força, sem se importar pra onde isso vai nos levar.
Lá estavamos nós, suadas, completamente entregues e implorando pra que nenhuma de nós cansasse, eu podia ouvir o coração dela batendo cada vez que ela se prostrava sobre mim, sentir na ponta dos dedos o gosto doce de quem acabara de tocar o mais fundo céu. Na boca o gosto de dente que morde e sorri, os gritos abafados e delírios molhados.-eu não vou parar aqui.
-não te pedi pra parar, SaraPoucas coisas eram mais bonitas do que ela tocando cada parte do seu corpo embaixo do chuveiro enquanto me olhava com o olhar fixo.
-posso fazer isso a noite inteira, você quem sabe.
- eu sei que pode, e é por isso que eu não consigo parar de olhar
- você pode tocar
- e perder você me devorando com o olhar?
- já te disse, é só se concentrar, eu não vou parar de olhar
- você não consegue
- você também não, mas eu posso tentar
- vai me olhar?
- não é fácil te sentir me tocar e não te beijar
-você disse que ia tentar
- vem. prometo tentar .Não preciso dizer que nenhuma de nós conseguiu cumprir a promessa. Era impossível; impossível mesmo depois de horas nos contermos. Não existia pudor quando se tratava da Thais e eu, não tínhamos nenhum tabu sobre nada. Foi com ela que descobri todos os meus maiores prazeres, e senti arrepios em lugares que não sabia que o meu corpo podia sentir. Ela me conhece mais do que eu mesma, ela me toca como quem toca um campo minado destravado, e quando eu explodo ela não se esquiva, na verdade ela gosta, ela acha graça, acho que é só pra isso que ela mantém alguns segredos quase intocáveis. Pra me ver explodir em gritos no ouvido dela, enquanto procuro pelo ar, por algum ponto sólido onde fincar com força minhas mãos no desejo de amenizar a agonia de querer me transbordar inteira, falho todas as vezes. Me transbordo, me derramando sobre ela. Corpo que acolhe, que supre, que segura, que deseja. Eu sinto ela vibrar, sinto o cheiro, o calor, o som que ela faz com ritmo e as risadas que ela solta enquanto beija meu ombro.
Eu me viro pra tentar olhar aqueles olhos que devoram, olhos que me comem tanto quanto as mãos que me tocam sem medo. Ela não hesita, me come com os olhos, me sente com as mãos, em súplica com a boca ''grita Adorável Sara, não somos adoráveis aqui?''. Estamos no jogo favorito dela, onde perder é o que garante a mim que até o dia amanhecer estaremos tão molhadas quanto a cama na qual estamos deitadas.
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Limão Siciliano
Literatura FemininaSara se apaixona pela nova vizinha, mas tem sua vida virada de cabeça para baixo quando descobre que sua melhor amiga escondia um grande segredo. Uma história que envolve descobertas, reencontros, amor, e relações mal resolvidas.