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Soraya
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A música tocava alto no meu fone, acho que quem entrasse no meu quarto, com certeza poderiam ouvir, mas eu não me importava, queria fugir pelo menos um pouquinho da realidade em que vivo, as músicas me ajudam com isso, me fazem sentir em outro mundo, onde não há ansiedade, crises, medos ou qualquer coisa ruim.

Cantarolava uma das minhas músicas preferidas do momento, "somewhere only we know", queria eu ter alguém que me levasse para um lugar mais tranquilo, que tivesse paz, que me trouxesse paz, queria sentir um pouco do que é viver de verdade, de sorrir mais, e todas essas coisas boas que eu sonhava quando tinha sete anos...

_oh, simple thing, where have you gone..._ que droga.

Tirei os fones e parei de fazer o que eu tava fazendo, respirei fundo, mas não ouvi nada até então, achei que já era o meu pai me chamando para fazer alguma coisa de novo.

Continuei com os meus desenhos, estava agora terminando de pintar, acordei pela madrugada com vontade de desenhar, estava chovendo fortemente, os trovões davam medo, todo o meu quarto clareava através da janela de vidro, pela cor azul rápida de um relâmpago.

Quando a chuva aliviou, deixei para terminar pela manhã mesmo, e voltei a dormir, agora tô aqui continuando o que comecei pela madru...

_perfect, perfect... ficou bonito esse_ falei sozinha ao terminar.

Elevei um pouco o papel em minhas mãos, a luz solar deixava ainda mais bonito o vestido, pintado agora na cor vermelha, o próximo que quero desenhar é um de casamento...

Casamento, como é viver um sonho? Sempre achei que quando duas pessoas se casavam, estavam realizando um dos sonhos mais lindos que existem, e que através dele viria a formação de uma família.

_Ainda tenho um fio de esperança de que..._ me calei.

Vou falar em pensamentos mesmo, tudo o que falo em voz alta parece sair do controle, ou sou eu que acredito em tudo o que dizem pra mim?

Sempre que há alguma fala negativa voltada pra mim, me sinto a pior pessoa do mundo, e no final acabo acreditando que sou tudo isso, não deveria ser assim, eu sei, mas...

_Oi Lily, vem com a mamãe_ chamei a minha gatinha para sentar em meu colo.

Costumo dizer quando falo da Lily que eu que salvei ela, pois foi abandonada pelos donos ainda bem pequena, mas na verdade foi ela quem me salvou.

Penso que ainda há algo de bom no mundo, que há almas bondosas por aí, porque eu fui uma dessas, eu tirei ela das ruas, a livrei de ser maltratada, de passar fome ou até mesmo de ter um fim trágico.

A raça dela é siamês, tem os olhos azuis como o céu, é bem mansinha, dorme sempre comigo, pelo o que descobri na época em que fora abandonada, esse ano ela fará dois anos.

_Olha o desenho da sua mãe_ falei e ainda mostrei à ela, como se fosse entender e dizer o que achou.

Vi que ela havia perdido novamente a sua coleira, por sorte eu tenho mais duas guardadas, deixei ela na minha cama e fui até a gaveta da minha escrivaninha.

Peguei uma vermelha, coloquei nela, e tinha uma bolinha que causava um barulhinho bem longe, mas que poderia adivinhar que era ela quando corresse aqui pela casa.

_Não vai perder outra vez Lily_ falei séria, como uma mãe que dá sermão em um filho.

Guardei minha pasta com os desenhos desse mês, ao olhar para o nome que estava na capa, sorri feito boba, ainda quero ser uma desing de moda, ainda quero ver os meus desenhos saindo do papel um dia.

A motoqueira da minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora