Soraya
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_"Oi pai, tudo bem? então, eu tô grávida"...
_Não, não pode ser assim_ me sentei de novo na cama.
"Então pai, você vai ser vovô"...
_Assim também não_ me levantei.
"Pai, eu vou ter um filho"...
_Não também, mas que droga_ bati na minha mesa.
Comecei a andar de um lado pro outro, ia até a janela, olhava na porta, ia até o quarto dele, voltava pro meu de novo, já começava a roer minhas unhas, até que escutei a porta bater.
_Ele chegou, ele chegou... o que eu faço?_ eu já queria chorar.
_Soraya? Minha filha, venha aqui por favor_ ele me chamou.
_Já... já estou indo papai_ tentei me acalmar.
Precisava ver o que ele queria, e então iria me preparar para falar pra ele, mas como vou falar? Tenho medo de sua reação.
_O-o senhor me chamou?_ cheguei na sala, ele estava deitado no sofá.
_Sim, aquela mulher veio aqui atrás de você_ meu coração se apertou.
_Que mulher papai?_
_Ora Soraya, não se faça de boba, é aquela sua amiguinha_
_A Simone, você quer dizer?_ me sentei no outro sofá.
_Ela mesmo, parecia agoniada atrás de você, conseguiu falar com ela?_ ele me olhou.
_Não, eu... eu estava na farmácia_ menti.
_Posso saber por quê você está mentindo Soraya?_ vi ele se sentar, e me encarar.
_Por quê eu faria isso?_
_Eu vi vocês juntas passando naquela moto dela, e pelo caminho que iam, você estava vindo pra cá, não era Soraya?_ ele aumentou um pouco o tom de voz.
_Sim... e-ela me deu uma carona_
_Vocês estão juntas, Soraya?_
_Papai, eu preciso falar uma coisa com você, er... eu..._
_Por quê está fugindo do assunto?_
_Não estou fugindo pai, mas eu preciso lhe dizer algo_
_O que tem pra me dizer?_ ele baixou o volume da televisão.
_Eu... eu posso lhe dar um abraço?_ perguntei apreensiva.
_Por quê está querendo um abraço assim do nada?_ perguntou, achando estranho minha atitude.
_O senhor vai negar um abraço à sua filha?_ ele levantou.
Dei dois passos, lhe olhei profundamente, seus olhos cansados pelo trabalho, havia duas pequenas manchas em seu rosto, era graxa.