₪ Capítulo 10: Loucura ₪

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Seis meses depois



Podia contar detalhadamente tudo o que aconteceu há seis meses, mas talvez deva apenas resumir.

Bom, depois da conversa com Emma, da qual não me recordo inteiramente de todas as palavras trocadas, contudo sei que lhe ameacei, as suas provocações de certo modo cessaram, mas sei que ela ainda não se cansou.

Andei coisa de dois meses a insistir com Karen, chamadas não atendidas, mensagens não respondidas, acrescento que insisti em falar com ela, porém ou não abria a porta ou simplesmente não se encontrava em casa ou no trabalho.

Por falta de insistência não foi, cheguei inclusive a ser expulso pelos seguranças do seu local de trabalho, tudo porque Karen não queria ver-me mais.

Depressão? Sem dúvida. Andei durante bastante tempo encostado numa depressão extremamente forte. Várias foram as vezes que me tentei matar, aparentemente não sou tão forte quanto pareço ser.

Desisti. No entanto, no fundo da minha alma ainda existe alguma luz, alguma esperança, mas a cada dia que passa, esta vai se enfraquecendo. Nada posso fazer.

O meu comportamento não tem sido dos melhores, pelo contrário, rebeldia é o que não me tem faltado.

Unicamente sei que depois de alguns meses sem a ver, se a tornar a encontrar, seja em que circunstância for, o tempo que demorei a assimilar que TALVEZ consiga viver sem ela, irá completamente por água a baixo. Não sei que loucura cometeria, provavelmente as que muitas vezes tentei, mas não consegui.

Tenho andado a evitar trabalhar, simplesmente porque a vontade é pouca, contudo era mais do que óbvio que tinha deixado as coisas ao cuidado de alguém, e óbvio é também que, não com tanta frequência como antes, continuo a verificar as situações da empresa.

- Encha-me o copo - pedi novamente.

Talvez não valha a pena perder o meu tempo a explicar algo que simplesmente não tem justificação. A minha vida não tem justificação, muito menos sentido.

O bar onde me encontrava, estava cheio de pessoas vazias. Sabia que não era o único sem rumo aqui, mas provavelmente o único que, na verdade, brindava à infelicidade. Quanto maior a infelicidade, melhor. Eu merecia.

- Não lhe fará sentir-se melhor - respondera-me o empregado enquanto estendia o seu braço, apanhando o meu copo para reabastecê-lo.

- Também não me fará sentir pior - sorri com simplicidade.

- Acredito que não.

Olhei para o relógio que trazia no pulso, identificando as horas rapidamente: Vinte e três horas e dezasseis minutos. Já deveria de estar em Sintra, na inauguração do Museu da Arte Clássica e Moderna.

Este seria o meu último copo e logo de seguida, apesar de estar um bocadinho atrasado, iria aceitar então o convite para comparecer no respectivo evento.

Não demorou muito até o empregado colocar uma vez mais o copo à minha frente, e muito menos tempo demorei a beber o seu conteúdo. Não me sentia zonzo, mas claramente sentia-me tocado pelo álcool.

Com alguma pressa paguei o que tinha a pagar e certifiquei-me de acrescentar alguns zeros pelo atendimento do cavalheiro.

Quando saí, o meu motorista já ali se encontrava estacionado à minha espera.

- Boa noite - cumprimentei no exato momento em que me sentei num dos bancos de trás.

- Boa noite Doutor - retribuiu-me o homem de cinquenta e poucos anos.

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