luto

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As memórias de nossa infância voltavam todas as vezes que pensava em Alexandre, nossa pareceria de irmãos, nós brigávamos muitas vezes falávamos besteira mas nós nos amávamos, quando fui embora senti muita falta dele,das conversas aleatórias Durante as madrugadas até mesmo das ameaças de contar quem quebrou o jogo de porcelana de nossa mãe.

E agora ele estava morto.
Não tivemos coragem de ir buscar o corpo então mandei um de meus homens buscar porém acharam muito pouco apenas partes de uma perna o resto eles disseram que poderia estar espalhado então cremamos apenas os restos da perna e fizemos uma lápide no cemitério privado de minha máfia, foi o dia mais difícil de minha vida, nunca imaginei enterrar meu irmão gêmeo, Gabrielle estava inconsolável, ela chorava sob a lápide de Alexandre,peguei a dog tag de meu irmão e a olhei lembrando do que ele me disse.

Mas eu o veria no espelho todos os dias ao alevantar, não precisava do seu colar, então me aproximei de Gabrielle e toquei seu ombro atraindo sua atenção.

— ele me deu isso antes da explosão, mas acho que ele iria gostar que eu desse para você.

Lhe entreguei o colar de Alexandre,ela olhou com tristeza para o colar.

— eu disse coisas horríveis para ele,eu o ofendi na hora da raiva e agora nunca mais vou ter a chance de dizer a ele o quanto o amo e o quanto preciso dele ao meu lado...

Me lembrei que Alexandre tinha me contado da gravidez de Gabrielle e vi que a outra mão dela estava em sua barriga como se abraçasse o bebê em sua barriga em busca de conforto.

Ela me olhou e em seguida desabou novamente desviando o olhar, eu não sabia se suportaria viver sabendo que toda vez que me olhassem as pessoas lembrariam de Alexandre e ficariam tristes.

Beatriz me abraçou por trás tentando me confortar enquanto Cristina abraçava sua irmã caçula.

As crianças estavam em casa com a mãe de Bea,todos tinham vindo para o enterro.

Christian se aproxima com um desenho e uma carta em mãos e me entrega.

— Ana ficou sabendo que Alexandre virou uma estrelinha e queria te confortar de alguma forma já que ela não pôde vir, Mariana escreveu por ela para ficar mais fácil de ler,Ana que fez os desenhos.

Abri o cartão e comecei a ler o cartão de Ana.
"Oiê titio que fala de um jeito engraçado,minha mamãe que está escrevendo a cartinha mas quem está falando o que ela tem que escrever sou eu,aninha. Eu sei que o senhor está triste mas não chore,o titio Alex agora está lá no céu do ladinho da Evangeline, a vovó disse que agora ele pode cuidar de todos nós, inclusive da tia Gaby, então não chorem, sempre que der saudades é só olhar para o céu e falar com o tio Alex, eu sei do fundo do meu coração que ele vai ouvir e te responder. Beijos aninha! ps: por favor não chore se não eu também vou chorar."

Eu sorri muito levemente,conseguia imaginar a cena de Ana falando tudo erradinho e embolado o que sua mãe deveria escrever,olhei para o céu e estava nublado.

— você está aí irmão?...

Eu sabia que era tolice acreditar numa cartinha de uma criança de seis anos que nem entendia sobre a morte,mas por alguma consciência começou a chover,a chuva molhava meu rosto elevava as lágrimas salgadas e dolorosas embora e de certa forma me acalmava e trazia uma sensação de paz.

Alexandre costumava dizer que por sermos gêmeos tínhamos uma conexão especial de gêmeos tipo aquelas doideiras de ler o pensamento um do outro,ele dizia que nossa conexão nos manteria sempre unidos não importa onde estivéssemos e agora estando mais distante do que nunca do meu irmão, mesmo assim eu me sentia mais próximo dele do que jamais estive.

Eu sentia ele vivo,seu coração batia no mesmo ritmo do meu e eu ouvia sua risada ecoar em minha cabeça.

As próximas semanas foram difíceis, eu estava deprimido não quis comer,beber e passava muito tempo sozinho, Christian e Beatriz tentaram de todas as formas me ajudar mas sinceramente, eu não queria ajuda, eu queria superar aquele momento,sofrer chorar e gritar tudo que eu queria agora para no futuro saber amadurecer e superar, eu sabia que não podia voltar no futuro e que nada traria meu irmão de volta mas eu não conseguia evitar me questionar e me perguntar todo dia e a toda hora " o que teria acontecido se eu não tivesse corrido para aquela mina? Ele estaria vivo?" As respostas para essa pergunta me faziam sentir uma culpa enorme.

Era para mim ter morrido,eu quem deveria estar naquela lápide não ele.

Alexandre sempre foi o exemplar em nossa família e o favorito de nossos pais eu até podia imaginar a reação deles ao receber a notícia, eles iriam me culpar pelo resto da vida e eu não podia dizer nada em minha defesa.

Por que lá no fundo eu também estava me culpando,todo dia eu precisava dormir com a ajuda de remédios,minha mente estava dividida entre o lado que me culpava e relembrava toda aquela dor e sofrimento e o lado que só queria acabar com tudo aquilo e ir encontrar Alexandre onde quer que estivesse.

Eu só queria abraçar meu irmão uma última vez e dizer a ele o quanto senti sua falta e o queria em minha vida,ele provou ser diferente de nossos pais,me aceitou do jeito que eu sou, ele estava irritado mas não pelo fato de eu gosta de homens e mulheres e sim por eu ter o abandonado.

Eu errei com ele, fui embora o deixando naquele lugar terrível que era nossa casa sem nem ao menos me despedir ...

Eu entendia seu ódio e me odiava por isso mas também não era como se eu tivesse tido tempo para espantar sua volta, naquele dia mal tive tempo de pegar minhas coisas como iria espera-lo? Na rua onde todos nossos vizinhos estavam para ouvir a gritaria dentro de nossa casa? Não, era muita humilhação,eu tive vergonha de mim mesmo por muito tempo,em certas ocasiões ao terminar minha faculdade eu quis volta para casa mas se eu voltasse teria que mudar quem eu era para me encaixar numa ideologia de meus pais, não seria eu.

Seria uma versão que eles queriam que eu fosse e eu não suportaria aquilo, Alexandre nunca teve esse tipo de problema,ele era um adolescente rebelde e que muitas vezes causava insônia em nossa mãe mas mesmo assim eles o amavam.

Por ele era considerado o normal.

Eu só queria ter ele agora aqui ao meu lado e recuperar aquele tempo de nossa juventude que foi perdido.

entre a Itália e o México.Onde histórias criam vida. Descubra agora