" Eu sinto a tua falta todo dia, mas me especializei em negar essa ausência. Eu lembro com uma nitidez insuportável o motivo exato que me fez te transformar em saudades "
— Fernando MachadoCom o tempo eu notei, tudo desabou por uma inconsequente parte de mim que ainda reside.
No fundo, ela ainda será parte de mim assim como você um dia foi.
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.O vento gélido em seu rosto causava arrepios intensos, porém seus olhos se recusaram a abrir. O ambiente que estava lhe era conhecido… como poderia esquecer algo tão vivido?
Podia sentir a textura do gramado acariciar suas costas e o cheiro de rosas no ar preencher seus pulmões, doce e calmo. Como a bela mulher que ali passava, Draco podia sentir a grama afundando entre os lados e uma sombra paira sobre ele.
O doce cheiro se perdeu e a sombra lhe cobria sumiu, ele abriu os olhos, mesmo com os olhos desfocados conseguiu rapidamente captar a silhueta feminina de costas para si, impedindo de vê-la por completo. Se sentou-se sobre o gramado, a dor nos olhos lhe incomodava mas não poderia negar o fato de sentir nostalgia com a fragrância que domina seus sentidos. Aos poucos tornou-se nítido os fios loiros acinzentados puxados para trás por uma pequena trança trançada com um laço esverdeado graciosamente, ao descer seus olhos, viu-se um belo vestido branco, ela se moveu dando passos leves que faziam seu vestido mexer-se de forma elegante.
Um pouco tonto, Draco levantou com o resto de força que conseguia, estava fraco, o corpo tremelicar com o vento gélido que arrepia os pelinhos de seus braços. A pergunta que pairava era: onde estava?
Sabia que conhecia o lugar, mas não se lembrava como. Tudo era familiar, cheiros, sensações e… medo.
Onde está a mulher?
Começou a andar pelo campo notando uma casinha no fundo não muito longe, se apressou para alcançar, no decorrer do caminho as flores vivas pareciam tristes e quase sem vida, deprimidas com algo. De frente sentiu suas pernas travarem, cada segundo parado parecia uma eternidade. Entrou e no momento que pôs seus pés, uma onda de dor fez o coração apertar e uma vontade de chorar surgir. Mas não podia ser fraco.
Olhou ao redor vendo a mulher parado no meio do local, o encarando fixamente.
Quem era ela?
Por que estava ali?
Com esses pensamentos gravados na mente, não notou a aproximação que ela fazia lentamente.
A última lembrança que lhe vinha era o rosto de Potter e a escuridão logo depois.
-Draco…- ele ouviu a voz chamá-lo, fazendo sua atenção voltar-se para ela em busca de enxergá-la porém a cada passo dado por ela, mas difícil era ver seu rosto e isso o assustava. Rapidamente afastou dando passos para trás.
Entretanto, quanto mais ele se afastava, mais ela se aproximava. Estava nervoso e sentindo falta de ar, agarrou o peito em uma busca desesperada por oxigênio, mas, o esforço que ele fazia tornava o ar fraco em seus pulmões.
Fechou os olhos e começou a contar até dez.
-Um… dois… três - um barulho o fez abrir os olhos tendo a visão de dois pares de pé descalços um pouco longe mas perto o suficiente para seu desespero aumentar. -quatro…cinco, seis, sete-
-Draco… - sentiu uma mão tocar-lhe suavemente fazendo um carinho singelo no local e seu nome ser pronunciado novamente, sua respiração aos poucos voltava. - querido, olhe para mim.
Queria abrir. Ver com os próprios olhos e enfrentar. O carinho na região aumentou, mas ele se recusava a abri-los virando o rosto pro lado, cortando o pequeno contato que ela fazia.
Porém ela o surpreende ao puxar com agressividade seu rosto numa tentativa de forçá-lo abrir. - Olhe para mim e veja o que você fez. Draco, olha! - segurou forte fazendo lágrimas cair sobre seus dedos gélidos.
-Não, eu não quero…- suplicou sentindo suas unhas penetrarem fundo em suas bochechas. - Por favor, pare!
-OLHE, OLHE E VEJA O QUE VOCÊ ME CAUSOU! - gritou largando de vez o rosto do garoto e rapidamente puxando o cabelo loiro com força para trazê-lo mais perto de si. Sem delongas aproximou a outra mão em direção aos olhos dele, forçando a entrada e levando para cima.
Draco se desesperou ao sentir o toque gelado em suas pálpebras o arrepiando por inteiro. Se debateu contra a mulher lutando para se soltar o mais rápido possível, ela era forte demais e suas forças eram fracas.
-Vamos, querido… veja tudo que você me causou por seu egoísmo egocêntrico! - Ele não queria olhar, sabia quem estava em sua frente. Como pode ser tão burro? Essa nem era a primeira vez que ela aparecia para atormentá-lo, desde sua morte, perseguindo incansavelmente em seus sonhos como um lembrete constante de seus pecados.
A força que ela pusera estava o machucando causando mais dor nos olhos, e contra vontade eles se entreabrem sobre as lágrimas. Completamente distorcidos por elas, a visão perfeita da mulher com o rosto todo machucado, seu mundo caiu e a força que restava cedeu junto ao corpo que fora pro chão.
-me desculpa…
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.-Severus, por favor, se acalme- disse Albus tentando a todo custo fazer a paz se estabelecer na enfermaria, Severus por outro lado, estava surtando com qualquer alma que seus olhos ardilosos encontrasse.
-me acalmar? Está brincando, meu afilhado está desmaiado por causa do Potter que por algum motivo ainda está aqui! - enfureceu-se disparando para Harry que permanecia do outro lado sendo analisado por pomfrey.
-Professor Snape, o aluno Malfoy só está descansando. Tanto ele quanto o aluno Harry estão machucados mas não há nada grave. Porém, Malfoy pode ter desmaiado pela falta de alimento no organismo - pomfrey deu uma última checada no moreno para garantir que ele esteja bem, assim se voltou para novamente ir verificar o loiro que dormia profundamente. - Talvez devemos retirar suas vestes e assim posso me aprofundar mais…
-não.
-professor, eu entendo que é seu afilhado mas -
-você não entendeu?- indignou - não é por ele ser meu afilhado, e sim por ser seu corpo, Draco não gostaria que alguém desconhecido o tocasse nem em situação de morte - Severus argumentou, caminhando até a maca onde o sujeito estava acompanhando por Luna, que desde a briga não saia do lado dele, tocou em seus fios os tirando de seu rosto adormecido. - me atrevo a dizer… que ele preferia morrer.
…
Horas depois
O calor em sua mão era reconfortante, uma voz falava bem baixinho, quase inaudível.
-vamos filho… acorde, precisamos voltar para nossa casa - Ah, era seu pai. O tom choroso e as fungadas constantes intriga o pobre menino. - papai veio correndo quando seu padrinho ligou dizendo que você tinha desmaiado mas que estava bem, porém eu queria ver com meus olhos. Você está dormindo? Não sabe o desespero que senti… - Sua mão foi erguida e beijada pelo homem, causando arrepios extremos, Draco abriu os olhos vendo algo que nunca mais pensou que veria.
Lucius chorando.
-Esse tempo que passei ao seu lado foram repletos de desespero e medo, senti um medo de te perder, perder vem me assombrando… me tornando um monstro. - o silêncio era calmo, porém a respiração pesada do pai significava que ainda tinha muito a dizer - papai não lhe contou pois queria fazer uma pequena surpresa, porém quem acabou surpreendendo foi você… eu visitei a casa de flores de sua mãe e filho, eu passei boas horas lá dentro, pensando e repensando. Decidi que eu quero algo melhor para você, que o que estou fazendo não é bom e nem um pouco saudável… eu vou voltar a retomar a terapia por você, fazer tudo diferente, eu quero que sejamos uma família novamente. Por favor filho, me perdoa….
Apertou com força a mão sobre a dele, atraindo a atenção do homem que retribuiu esperançoso sorrindo com os olhos cheios de lágrimas.
-pai… vamos para casa.
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.Um passo pro futuro
E dez passos pro passado.
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Cruciatus - Harco
Teen FictionSentindo seu corpo arder, Draco choraminga enquanto levava outro golpe, estava cansado e sabia que não iria aguentar por mais tempo. Harry chorava de dor pelo término do relacionamento mesmo com seus amigos ao seu lado, nada preenche seu coração par...