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          " O erro do intenso

     é achar que sabe
                        fingir que não sente.
                                        –Desconhecido"

Meu amor, não se pode comparar com o teu. Enquanto o teu é uma chama pequena que aos poucos aprendeu a me amar, o meu, antes mesmo de tê-lo, antes mesmo de vê-lo, era uma chama que incendeia-ria florestas.
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Lótus.

-O que? - ela perguntou, com incerteza vibrando em seu tom. Tudo ao seu redor pareceu-lhe lento, pesado como a cada batida ouvida de seu coração, fez seu peito afundar com um gosto estranho na língua. Regulus respirou, tão profundo quanto o ar em volta, ele sabia, ele sabia que não seria fácil. Ainda mais quando é seu parente na maca. - Regulus. Por favor, me diga o que isso significa. - voltou a perguntar teimosamente, ele admirava a prima, vendo-a tão frustrada e ao mesmo tempo paciente enquanto seu filho, seu único filho. Estava adormecido com os remédios pesados.

Isso não é digno de se admirar?

Ele limpou a garganta, tentando engolir o bolo que ali se formou. Regulus desviou sua atenção de sua prima para encarar seu acompanhante, era Severus novamente, isso frustrava ele, não pense mal dele, Severus era uma boa companhia e com toda certeza que existia em Regulus, um maravilhoso padrinho. Porém, não era isso que o fazia ficar aborrecido, era o fato de nunca ver Lucius entrar no hospital para ver o filho.

Nesses três anos em que Draco passou no hospital, ele poderia contar nos dedos de uma única mão quantas vezes ele viu Lucius passar no corredor. Diferente de Severus, que sempre esteve presente a cada consulta, apoiando fielmente Narcissa, a confortando quando ela não aguentava mais segurar as lágrimas e sempre, sempre conversando com seu afilhado, contando histórias e o fazendo rir.

Ele estava tão pálido quanto Narcissa, os nervos aflorados
faziam suas peles terem uma aparência doentia. - Lótus. Uma doença pouco conhecida por sua raridade e incrível semelhança com outra doença, o Lúpus. Ambos afetam o sistema imunológico de forma que fazem os anticorpos produzidos pelo mesmo, atacar as células e tecidos saudáveis. Porém, Lótus, em seus casos, ataca de maneiras diferentes…

-como ela ataca…- Severus pronunciou, depois que o lugar reinou em silêncio. Sua voz tão embargada pelo choro contido, Regulus o olhou, vendo sua atenção sendo voltada para a vidrilha, observando pelo vidro o corpo pequeno e frágil do afilhado. Ele olhava o menino com tanta dor, Regulus poderia o ler perfeitamente. Severus, o homem conhecido por sua frieza e descontentamento por onde colocar seus pés. Preferia estar lá, na maca, sofrendo com a doença, preferia sentir a dor dos desmaios, o sangue derramado a cada crise que o loiro tivesse, viesse para ele, que o medo que ele sentisse fosse dele.

Ele sentiu sua garganta trancar, Severus estava chorando em silêncio. - Lótus… predomina seus ataques nos cincos órgãos principais, cérebro, coração, rins, fígados e pulmões. - ele respirou fundo - em cada caso, só três dos citados são afetados severamente, mas, os que devemos prestar atenção definitivamente são: coração, cérebro e pulmões. Principalmente o cérebro, que não pode ser substituído se for o mais afetado...

Um estrondo fora ouvido momentos depois, alto o suficiente para tirar Severus de seu devaneios e voltar seu olhar para o corpo caído de joelhos da loira que começara a chorar, lágrimas cada vez mais grossas saindo uma por cima da outra de seus olhos, descendo sem piedade pelo belo rosto. Ele a agarrou em seus braços, tentando acalmá-la a todo custo. Mas estava impossível, seu corpo estava em um estado semelhante ao dela, querendo ceder ao extremo e se jogar na loucura desesperadora do sentimento angustiante que o consumia.

Cruciatus - HarcoOnde histórias criam vida. Descubra agora