E se a razão for escrava das paixões? E se, quando você pensa que está tomando uma decisão racional, no fundo está sendo comandado pelos seus sentimentos? Talvez David Hume estivesse certo.. (Entenda-se ''paixões'' como sinônimo de ''sentimentos'').
Faça o seguinte exercício mental comigo:
Imagine que você está fazendo uma dieta e, portanto, está deixando de comer doces e alimentos com alto teor de carboidratos. Em um dado momento, você vê um bolo de chocolate altamente recheado e suculento, na vitrine de uma loja, por um preço baixíssimo... Você, imediatamente, resiste a esse impulso que tenta lhe impelir a comer o bolo e vai embora, mesmo que com um certa inquietação. Você, então, enche-se de orgulho, pois imagina que acabou de tomar uma decisão racional e, portanto, conseguiu vencer seus próprios sentimentos (desejos). Seu lado racional venceu, certo?
Agora deixe-me te mostrar um lado diferente dessa mesma história: E se você só tivesse resistido a esse desejo porque o sentimento que você sente ao se imaginar com um corpo malhado e saudável é tão mais recompensador e prazeroso, que esse se sobrepõe e vence o sentimento que é trazido ao imaginar comer e ter apenas um prazer momentâneo? E se a verdadeira batalha fosse sempre Sentimentos versus Sentimentos, ao invés de Sentimentos versus Razão? Deixo contigo essa reflexão.
Parece-me que todos nós somos extremamente viciados em tentar explicar tudo através de racionalizações, quando na verdade nossa razão é sempre refém da paixão mais forte.
A razão por si só não pode te fazer sequer mover um dedo. É necessário uma paixão, isto é, algum sentimento que lhe dê motivação para movê-lo.
Freud já dizia algo como ''O eu não é senhor em sua própria casa''. A sua consciência é apenas a ponta de um iceberg imenso quase totalmente imergido. Com aquela frase, Freud quer dizer que a forma como você pensa, as coisas que você leva em conta ao raciocinar, TUDO dança exatamente conforme a melodia inconsciente de nossas mentes. A consciência é uma ilusão de controle. Toda nossa visão de mundo é distorcida e moldada, sem que percebamos, pelos nossos medos, nossas inseguranças, traumas e desejos. No fundo, nossos sentimentos nos controlam e não há nada que possamos fazer.
Quando você vota em um político, por exemplo, achando, você, que vota racionalmente, a sua visão crítica e analítica já está sutilmente induzida pelas suas paixões (emoções).
Votos, assim como quaisquer atitudes, não podem ser completamente racionais. A pura razão pressupõe uma realidade vista sem nenhum viés. Talvez uma máquina possa fazer isso, nós não. Quando vemos o mundo, quando vemos o outro, confundimos e misturamos aquilo que é externo com aquilo que é interno, isto é, misturando o outro com nós mesmos. Ninguém vê nada tal como aquilo é, nossa visão é sempre carregada de preconceitos, idealizações, PROJEÇÕES, desejos, ressentimentos, os quais distorcem o objeto de observação. Inevitavelmente.
Você ainda acha que realmente está no controle?
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ANATOMIA DA ALMA
Non-Fiction''A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir.'' - Arthur Schopenhauer. Parece que estamos sempre frustrados, em alguma medida. Se a frustração não vem de não termos conseguido algo que queríamos, ela vem de termos...
