Oscilamos, constantemente, entre o desespero de não podermos reviver e retomar os amores que não voltam mais, e a esperança de desesperadamente recriá-los uma outra pessoa, como uma forma de rejeitar o fato de os termos perdido, porventura, para sempre.
Mas cuidado com o que está procurando em um capítulo sobre o amor. Temos o irreprimível hábito de tentarmos, desesperadamente, encontrar a nossa própria história nas páginas dos livros.
Acredito que nossos maiores amores passados ainda vivem dentro de nós. Suas estadias são silenciosas, quase que imperceptíveis. Mas estão lá, adormecidos. Todavia, expressam-se sutilmente o tempo inteiro, sem que demos conta. Vivem à base uma faísca de esperança que fingimos não manter, e que se expressa em uma vontade quase que imbatível de reviver as sensações incríveis que sentimos em um beijo incrível e apaixonado, em um abraço quente e consolador, em um olhar que tocou nossa alma.
A dor de perder um amor é tão grande que parece desencadear uma força impetuosa capaz de tentar de tudo para revivê-lo, retomá-lo e mantê-lo vivo dentro de si. Daí, começamos a sentir os sintomas desse ímpeto. Nossa mente nos induz a procurarmos características físicas ou comportamentais no nosso novo parceiro ou parceira amorosa, que sejam tanto parecidas e semelhantes ao amor que se foi, quanto puderem ser. Poder ver, no novo parceiro, um espelho que reflete o amor passado, evoca sentimentos e sensações semelhantes ao que sentimos anteriormente, com o nosso primeiro amor. Essa retomada das sensações passadas é um fenômeno dos mais recompensadores que pode haver.
A frase de Dante: ''Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes quando estamos na miséria.'' parece me dar pistas desse fenômeno. A dor vem justamente de relembrar da felicidade e toda uma mistura de emoções e sentimentos perfeitos que sentimos em uma lembrança específica, mas que já não podemos senti-los novamente. Por isso, imagino que nossa mente esteja, muitas vezes, à procura de refazer , recriar e evocar momentos. No fundo, não queremos deixar com que nossas memórias emocionais tão importantes, únicas e belas, sejam enterradas para sempre. Por isso, procuramos a nossa própria história em outros livros de amor. Por isso, procuramos as pessoas do passado em pessoas do presente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ANATOMIA DA ALMA
Non-Fiction''A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir.'' - Arthur Schopenhauer. Parece que estamos sempre frustrados, em alguma medida. Se a frustração não vem de não termos conseguido algo que queríamos, ela vem de termos...