Capítulo 13 - Preconceito e Julgamento

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Dedico esta escrita aos inúmeros preconceitos que estreitam minha visão e superficializam minhas percepções, impedindo-me de ter a noção da qual os outros servem de holofotes que iluminam e trazem à tona a insegurança e agonia que meu inconsciente busca ocultar do meu discernimento. Julgamento é o dedo que me aponto, em um gesto de autonegação. 

"Se você odeia uma pessoa, você odeia algo nela que faz parte de você. O que não faz parte de nós mesmos não nos perturba." - Hermann Hesse

A maneira como vemos a nós mesmos é a maneira como vemos os outros e como supomos que os outros nos veem. 

Todos somos preconceituosos, em alguma medida. Apenas aceitando isso como fato e tendo noção disso, é possível compreender os mecanismos morais que nos levam a julgar algo como errado, mau ou profano. A partir daí, podemos fazer algo com relação a isso. 

Com o preconceito vem o ódio. Com o ódio, o julgamento. Não há nada de novo até então. Mas de onde vem esse ódio? Por que odiamos pessoas que nem conhecemos, por fazerem coisas que não nos afetam em nada? 

Bom, entendo que o racismo, homofobia e misoginia -sobretudo os dois últimos- sejam produto de um conflito entre o desejo e a negação desse desejo. Isso porque nossa moralidade exerce pressão sobre nós para que nos desidentifiquemos do objeto de desejo, enquanto sofremos a agonia da identificação com ele. Dessa forma, tudo o que odiamos está em nós, latente, perceptível ou não.

Não há melhor prato recheado com ódio, para um moralista, do que uma mulher de pouco pudor cuja sensualidade e promiscuidade o faz conflitar entre o divino e o profano, ao morrer de desejos por aquilo que ele mesmo considera abominável. Aí nasce o ódio. Esse que cresce na mesma proporção que o desejo. Que só diminui quando ele se convence, ainda que inconscientemente, de que não a deseja, depois de direcioná-la adjetivos pejorativos. Talvez, mas só talvez, se você perde tempo demais criticando ou falando mal de uma pessoa, é provável que você a deseje e não esteja sabendo lidar com esse desejo. Amor e ódio não estão divididos por um abismo intransponível, mas por uma linha tênue. 

Outro exemplo, e talvez contraintuitivo, é o de que homofóbicos podem ser homossexuais latentes. Como eu disse, amor/desejo e ódio muitas vezes estão ligados; aliás, o que não faz parte de nós não nos perturba. A única forma de negar ou reprimir impulsos sexuais ao mesmo gênero é, de alguma forma, desmoralizando o objeto de desejo. Mostrei isso no exemplo acima. Aqui, não é diferente. Como forma de negar sua condição latente ou potencial, eles redirecionam tais características homossexuais, de si, para o outro; de forma que assim possam invalidar e ignorar suas respostas fisiológicas de excitação que só corroboram seus limiares de desejo. Seus insultos serão tanto mais intensos e frequentes quanto mais precisarem se afastar de si mesmos e de suas verdades, até que consigam fugir da ansiedade de encararem o espelho de suas almas. 

Os exemplos vão aos montes, poderia fazer um livro inteiro só de exemplos do ódio nosso de cada dia. 

Oh, preconceito, fonte do ódio pelo que somos e não queríamos ser, pelo que queríamos e não somos, pelo que não somos mas podemos.

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