09| Lembranças

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O capítulo a seguir contém gatilhos.


― Não, acho melhor nós voltarmos para a pousada. ― Levantou-se.

― Filha, gostaria de mostrar a fazenda para o seu marido. Eu mandei preparar um quarto para vocês passarem a noite.

― Não era necessário.

― Eu me arrependi, deveria ter acreditado em você. Estava cego, não queria enxergar como aquele homem era um calhorda ― expressou com raiva. ― Nunca imaginei que ele não possuía caráter. Fui enganado, perdi alguns negócios por culpa dele. ― O homem balançou a cabeça, suspirando para recuperar as emoções. ― Você é a única família que tenho nesse mundo.

Dulce fechou os olhos, inspirando o ar.

― Senhor Uckermann. ― Emanuel suplicou.

― A decisão é dela.

― Não espero pelo seu perdão, porém não desejo perder o contato com você outra vez. Eu queria uma chance para provar que aprendi a lição.

A moça encarou o pai, seus cabelos possuíam fios grisalhos, o rosto exibia marcas de cansaço, parecia abatido. Apesar de sua estatura imponente, havia uma aura de fragilidade contida em seus olhos. Ela notou uma sinceridade na voz dele, então desviou a atenção para o marido, procurando por uma resposta. Não podia ser tão egoísta, a roupa do coitado estava cheia de molho.

― Tudo bem, nós ficamos.

― Ótimo! Mostre o lavabo para o Christopher, acredito que você queira tomar um banho. ― Deu um leve tapinha no ombro do rapaz. ― Pedirei para levarem a água.

― Muito obrigado! ― Ele assentiu e logo depois o sogro saiu atrás de algum funcionário.

A esposa continuou observando o marido, apertou um lábio no outro tentando evitar uma gargalhada.

― O que foi? ― o investigador perguntou de cabeça baixa, enquanto terminava de se limpar.

― Nada! Acho que o senhor deve ter molho até dentro das calças. ― Ele largou o guardanapo de linho em cima da mesa e a espiou.

― É mesmo? Estou começando a pensar que tudo não passava de um plano.

― Ah, claro ― ela disse entrando na brincadeira. ― Agora vem a parte dois. ― Dulce se aproximou dele. ― Precisava de um pretexto para arrastá-lo para o andar de cima. ― A mulher friccionou o dedo no condimento, levou à boca, fazendo um gesto de degustação. ― Muito gostoso.

O rapaz travou o maxilar, concluindo que realmente necessitava de um banho, de preferência gelado!

― O senhor pode subir na frente, o lavabo é na última porta, no final do corredor. ― Ela apontou para a escada.

― E você? ― ele questionou franzindo a testa.

― Daqui a alguns minutos. ― A moça inspirou o ar com dificuldade.

― Certo... ― O marido entendeu o recado. ― Se quiser, vamos embora.

― Não, tem alguns pertences da minha mãe que eu gostaria de pegar. ― A esposa olhou para os degraus apreensiva.

O investigador concordou e, antes de partir, beijou o topo da cabeça dela. Dulce aguardou longos segundos até criar coragem. Quando seus pés tocaram a escada, eles bambearam. A cada passo, seu coração batia mais acelerado. Ao chegar à porta do seu quarto, ela parou por um instante, incerta se continuava. Com a mão trêmula, girou a maçaneta, adentrando no cômodo. Seu peito arfou sendo transportada para o dia que gostaria de esquecer. Reviveu toda a aflição, sua mente lhe mostrava o episódio, como se estivesse no exato momento em que Lourenzo apareceu.

A Dama de Vermelho - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora