Dulce examinou seu reflexo no espelho, notando algo diferente em seu olhar. Seria uma expressão de alegria? Sentia-se mais leve, aquele peso que carregava em seus ombros havia desaparecido. Seu mistério tinha sido revelado somente para uma pessoa, a única que importava. Apesar de seus sentimentos conturbados, resolveu que daria um passo de cada vez em busca da felicidade. Christopher e ela possuíam todo o tempo do mundo, certo? Ponderou ao alisar o tecido espesso do vestido comprido que usava, um pouco nervosa. O corpete bordô continha um decote em um formato arredondado, a saia ampla de tom creme fluía em camadas elegantes pelas suas pernas, tentou se desfazer da sua marca registrada, a cor vermelha, porém as cicatrizes ainda existiam. Para completar o visual, colocou as luvas que combinavam com a parte de cima do traje e pegou a bolsa para espiar mais uma vez seu reflexo. Um sorriso bobo não saia de sua boca, não conseguia acreditar que seu amor era correspondido!
Inspirou o ar, esforçando-se para tranquilizar seus pensamentos, entretanto foi interrompida por uma batida na porta. A moça percorreu o cômodo, seus passos ecoaram pelo assoalho de tábuas de madeira, destrancou a maçaneta, abrindo-a em um leve rangido, revelando a figura de um homem encostado no batente. Apesar da luz fraca, seu rosto realçou, contornando seus traços imponentes. O rapaz usava um colete preto bem alinhado, Dulce reparou nos cabelos molhados, em sua barba aparada, nos lábios rosados e assim que o aroma inebriante dele invadiu sua narina, fechou os olhos.― Boa noite, senhorita. ― Ele tirou o chapéu para cumprimentá-la.
― Boa noite, senhor Uckermann. ― Ela estendeu a mão para o investigador, mesmo o contato de sua boca por cima do pano causou uma faísca elétrica pelo seu corpo. Um calor irradiava de sua pele.
― Já está pronta? Podemos ir? ― Christopher perguntou oferecendo seu braço para a mulher.
― Sim ― respondeu, fechando a porta do seu quarto, percebendo o quanto suas mãos tremiam. ― Céus! Controle-se, é só um jantar ― murmurou baixinho para si.
Ela enganchou seu braço no dele para descerem as escadas. Quando chegaram no andar debaixo, o homem a conduziu para uma mesa mais afastada, puxou a cadeira para que a moça se acomodasse e caminhou até o outro lado. A mesa estava cuidadosamente arrumada, com uma toalha de linho branca, duas velas, além de um arranjo simples de flores.
― Como o senhor fez tudo isso? ― Ela balbuciou perplexa.
― Eu pedi ajuda para a senhora Valdéz. ― A mulher acenou impressionada.
Logo depois, uma atmosfera estranha os atingiu, uma tensão sutil, carregada de expectativas. Dulce tamborilava os dedos na mesa, inquieta por saber que o rapaz conhecia toda a sua história. Já ele demonstrava sua apreensão mexendo os joelhos, não queria que nada nessa noite desse errado.― Então... ― o investigador limpou a garganta antes de falar. ― Você conseguiu o último quarto daqui?
O comentário não possuía a intenção de gerar uma explicação, Uckermann apenas tentava evitar que o clima do jantar se tornasse desconfortável.
― Sim, consegui ficar com um ― a moça pronunciou meio sem graça. ― E o senhor arranjou um quarto na pousada do outro lado da rua? ― Ela bebeu um pouco de água, para se acalmar.
― Arranjei. ― Ele apreciou os olhos castanhos dela.
― Posso fazer uma pergunta para o senhor? ― A mulher se ajeitou na cadeira de madeira, desenhando círculos em sua caneca. ― Algo sobre você?
― Claro, senhorita. Quantas desejar. ― O rapaz sorriu.
Dulce refletiu por alguns instantes, não tinha certeza de como começar o assunto.
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A Dama de Vermelho - Parte 2
Fiksi Penggemar|+16| Dulce e Christopher estão prestes a encarar uma noite que mudará suas vidas, dessa vez não terão como escapar do esperado jantar no pitoresco Armazém. É o momento perfeito para abrirem seus corações, compartilharem os sonhos e os caminhos que...