04| Confrontos

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Aviso: Pode conter conteúdo sensível no capítulo.


Assim que entrou no Burlesque, a moça reparou nas garotas que circulavam atarefadas pelo salão. 

― O que você está fazendo aqui, Catarina? ― Julieta apareceu no meio do palco segurando um vestido. ― Quer dizer, Dulce, não é? ― Seu tom debochado não passou despercebido pela mulher. ― Sabia que eu posso denunciá-la por falsidade ideológica? 

― Pois então, denuncia! Que eu também terei o prazer de acusá-la.

― Essa é boa. ― A dançarina gargalhou. ― Sobre qual pretexto?

― Por incitação de assassinato. ― Houve um silêncio repentino no ambiente, todas as garotas olharam boquiabertas para Julieta.

― Você perdeu o juízo, foi?

― Quem perdeu foi você. ― Balançou a cabeça em negação. ― Francamente, colocar aquelas caraminholas na cabeça do garoto o incentivou a cometer o crime. O senhor Nogueira amaria o Israel como um filho.

― Eu só queria que ele entendesse que algumas realidades não possuem finais felizes.


Dulce juraria de pés juntos que viu lágrimas nos olhos dela, entretanto a dançarina saiu pela coxia antes que pudesse ter a chance de descobrir.

― Que história é essa? ― Carlota perguntou ao se aproximar da moça.

― Mais uma da Julieta, e cadê o carrasco? ― Observou em volta atrás do dono do estabelecimento.

― Você deu sorte, ele precisou resolver algumas coisas no banco. Acho que dispomos de algumas horas para colocar o papo em dia.

Após conversar um pouco com as garotas, a mulher resolveu procurar pela Carmen, gostaria de discutir um assunto a respeito do seu filho.

― Dulce? ― a dançarina perguntou confusa quando a moça chegou no camarim. ― Deseja algo?

― Será que poderíamos ter um dedo de prosa? ― Franzindo a testa, ela acenou afirmando. ― É sobre o Israel.

O semblante dela mudou de expressão, assumindo uma tristeza.

― Imagino que você soube do julgamento, eles irão transferi-lo.

― Sim, por isso estou aqui. Acho que você deveria procurar um médico para ele, Carmen.

― Um médico? Meu menino está doente?

― Fisicamente não, mas...

― Não ouse terminar essa frase! ― O tom de voz da mulher alterou. ― Ele não irá ser internado em um hospital psiquiátrico.

― Eu não pensei nisso, minha sugestão era para você procurar um profissional com uma abordagem diferente.

― Ai, Catarina... ― A dançarina suspirou, parecia que um peso saía de suas costas. ― Eu não sei como não enxerguei nada. ― Imersa em seus devaneios, não havia notado a troca dos nomes. ― Ou talvez, não queria acreditar, não é mesmo? ― Seus olhos encheram-se de lágrimas. ― As roupas dele tinham sangue naquele dia, porém presumi que fossem de algum animal. Ele gostava de atirar nos pássaros de estilingue.

E depois dissecava os pobres coitados, Dulce concluiu mentalmente a frase dela em uma careta.

― Nós nunca tivemos uma vida fácil, é verdade, meu pai quando descobriu que eu estava grávida, sem marido, desonrada, fez de tudo para que eu não desse à luz. Entretanto, Israel nasceu contrariando sua vontade. Eu imaginei que seria expulsa de casa naquele momento, infelizmente não possuía dinheiro ou algum lugar para ficar, então precisei continuar naquela casa.

A esposa do investigador olhou chocada para a ex-colega.

A Dama de Vermelho - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora