06| Instintos

158 15 139
                                    


― Senhorita? ― o homem a chamou. ― Chegamos... ― Ele tocou em seus cabelos.

A esposa cochilava em seu ombro desde que explicou sobre a investigação de contrabando de bebidas.

― Sim. ― Ela despertou coçando os olhos. ― Chegamos? ― Repetiu, constatando que o trem havia parado.

A moça se levantou para pegar sua bagagem de mão e quando virou o corpo para alcançar a outra no compartimento de cima, o marido já carregava as malas.

Logo que seus pés tocaram o solo da estação, uma ansiedade cresceu dentro dela, imaginou que nunca mais retornaria para essa cidade. A coragem que a motivou antes parecia evaporar, sentiu-se vulnerável, completamente perdida. Seu instinto a mandava fugir, mas resolveu ignorá-lo. Observou o final da plataforma, do lado direito levava para as fazendas e o esquerdo para o centro.

― Vamos? ― O rapaz ofereceu o braço para ela. ― Poderíamos primeiro deixar nossas coisas na pousada e depois almoçar, o que você acha?

Dulce assentiu, de repente as palavras ficaram presas em sua garganta. Eles caminharam em silêncio até o estabelecimento. Villa de Santa Fé era um pouco mais movimentada do que a cidade em que viviam atualmente. Ela notou a variedade de lojas e as instalações, lembrando de algumas. Havia um armazém onde os moradores locais conseguiam comprar mantimentos essenciais, além de fazerem sua refeição no local. Uma taverna que à noite ficava muito animada, pois as pessoas gostavam de se reunirem para dançar e socializar, além de um cabaré.

― Senhorita? ― o investigador perguntou assim que os dois entraram no quarto. ― Por acaso eu disse algo que você não gostou? ― Ele enfiou as mãos no bolso da calça, preocupado.

― Não, o problema sou eu. ― A mulher largou a bagagem de mão em cima da cama. ― Talvez a Julieta tenha razão mesmo ― murmurou.

― A Julieta? ― Christopher não entendeu nada.

― Eu não sei o que está acontecendo. ― Uma lágrima escorreu de seus olhos. ― Quando eu penso que irei superar meus traumas, as recordações voltam. Como se quisessem me avisar que não adianta tentar.

O marido retirou as mãos do bolso e veio ao seu encontro.

― Se você não se sente confortável de continuar aqui, eu compreendo. ― Ele limpou o rosto dela. ― Apesar de que eu andei refletindo sobre isso e creio que a exposição dessas situações dolorosas será necessária para o seu processo de cura. ― A esposa suspirou triste, olhando para baixo. ― Não quero que você se pressione a fazer algo do qual não está pronta, apenas por minha causa.

Ela concordou em um gesto de cabeça, era tão abençoada por tê-lo em sua vida que às vezes acreditava que não o merecia. Encarando-o, sorriu tímida.

― Às vezes, é difícil acreditar que sou merecedora de todo o seu amor ― Dulce confessou. ― Você me faz sentir especial e amada mesmo quando estou nos meus momentos infelizes.

― Pois, acredite. São suas imperfeições que te tornam perfeita para mim. ― O sorriso da moça se transformou em um mais confiante. Com as pontas dos dedos ela tocou sua barba aparada.

A mulher aproximou seus lábios do dele e antes de beijá-lo, sussurrou um "eu te amo". Ele correspondeu, envolvendo-a pela cintura, em um movimento cortês. Quando a carícia se intensificou, o rapaz apreciou o calor que emanava de seus corpos, então resmungou algo logo após apertá-la mais em seus braços.

― Melhor a gente ir... Preciso encontrar com o xerife local daqui a pouco. ― O homem afastou-se, engoliu em seco, tentando se recompor do beijo.

Eles deixaram o quarto de mãos dadas, seguiram pelo corredor em direção à saída. O som do estômago deles roncando era a prova de que ambos estavam famintos.

― Sabe, o senhor possui toda razão ― a esposa declarou assim que chegaram na rua. ― Eu tenho evitado enfrentar o meu passado. E, de certa forma, isso me mantinha protegida, mas agora percebo que não há outra solução. ― Ela olhou para o horizonte. ― Eu cansei de fugir, não vou embora enquanto não superar isso.

A Dama de Vermelho - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora