3. O Grafitti das Palavras

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        Franciele era uma jovem de 22 anos que, certa manhã, despertou com uma vontade imensa de fazer algo mais do que simplesmente grafitar suas obras pelas ruas. Ela refletia sobre a transformação radical que havia ocorrido nas pessoas devido à pandemia e as consequências disso, especialmente para aqueles que mais necessitavam. Franciele queria fazer algo significativo, mas estava sem dinheiro e os murais que pintava mal eram suficientes para seu sustento e pagar a faculdade.

O que mais a incomodava era o distanciamento, não apenas o físico, mas também nas relações humanas. Ela começou a transmitir esses sentimentos por meio de sua arte, tentando resgatar o amor e a empatia que os seres humanos estavam perdendo aos poucos. No entanto, poucos compreendiam sua mensagem.

― Estou frustrada demais, Cindy! ― Desabafou Franciele com sua colega de quarto. ― As pessoas simplesmente não se importam umas com as outras!

― Ei, relaxa, Fran! Pelo amor! ― Respondeu Cindy, que até então estava com os olhos fixos nos livros. Ela virou metade do corpo na direção da amiga, que gesticulava com seu macacão jeans sujo de tinta spray.

― Como posso relaxar ao ver todas essas pessoas caminhando em direção ao abismo, completamente alheias ao perigo?

― Olha... Gostei dessa frase! ― Disse Cindy, intrigada.

― Vou tomar um banho e ver o que temos para o jantar. ― Falou, desanimada.

― Beleza. ― Encolheu os ombros, voltando sua atenção para os cadernos e livros espalhados na pequena mesa improvisada.

Naquela noite, quando tudo estava silencioso, Franciele sentou-se na beira da cama, pensando no que poderia fazer para promover mudanças. Algo dentro dela clamava por ação e ela estava determinada a realizar algo significativo. Levantou-se abruptamente, foi para a sua mesa com o bloco de desenho e começou a rabiscar alguns traços, pintando e aperfeiçoando detalhes.

Durante toda a madrugada, desenhou o que pintaria no dia seguinte, inspirada também por sua conversa com a amiga. A frase continuava ecoando em sua mente e serviu de base para seu novo projeto. Sua mente começou a borbulhar de inspiração. Imaginava muros ganhando vida, transformados em verdadeiras obras de arte, repletas de cores vibrantes e mensagens impactantes. E assim, decidiu iniciar sua jornada pelo bairro mais movimentado da cidade.

Na manhã ensolarada de sábado, Franciele estava determinada a criar algo especial, algo que pudesse transmitir uma mensagem de inclusão e encorajamento para aqueles que enfrentavam a exclusão na sociedade. O meio escolhido era o grafite, uma forma de expressão urbana que poderia alcançar todos os cantos da cidade.

Seu primeiro alvo era um muro cinza e desgastado, que refletia a monotonia e a indiferença do cotidiano. A jovem artista sabia que ali estava a tela perfeita para dar vida a sua mensagem, mas precisava pedir autorização para o proprietário. Bateu palmas, por meio de um portãozinho enferrujado, esperando que alguém viesse. Não demorou muito, surgiu um senhor, com ar desconfiado.

― Com licença, senhor. Meu nome é Franciele e sou aluna de belas-artes.

― Prazer, mocinha. Meu nome é Ademir.

― Então, seu Ademir. ― Falou, tímida. ― O senhor me autoriza a pintar seu muro e colocar minha arte? Prometo que não será nada ofensivo.

Ele a olhou, franzindo a testa e inclinando a cabeça, visivelmente incomodado.

― Tenho de pagar alguma coisa? ― Perguntou por fim.

― Não, não! É claro que não, seu Ademir. ― Abriu um sorriso para ele.

― Então, pode pintar, sim. Lá adiante, tem um muro abandonado. Era de uma amiga. ― Apontou para o final da rua.

― Muito obrigada, senhor! Vou deixar bem colorido! ― Sorriu, radiante e se preparando para iniciar sua arte.

Com uma lata de spray em mãos, ela começou a esboçar os contornos de um menino cadeirante rodeado por seus amigos, onde uma revoada de pardais enchia um céu azul. Cada traço transmitia a força e a união entre eles, mostrando que a amizade é capaz de superar qualquer obstáculo e, logo abaixo, escreveu: "A força e a união da amizade têm o poder de transcender quaisquer desafios."

― Ficou lindo... ― Disse o homem, que surgiu assim que ela o chamou para aprovar seu trabalho.

― Que bom! Gratidão, Seu Ademir! ― Abraçou-o, muito contente com o resultado.

No dia seguinte, ela foi até o local indicado por Seu Ademir e o achou perfeito. Após ter certeza de que não haveria nenhum problema, começou a pintar um mural impressionante. No centro, retratou uma mulher negra com seu cabelo crespo, emoldurada por um pôr do sol vibrante. Aquela imagem transmitia força e beleza, e Franciele adicionou uma frase de empoderamento ao lado do retrato: "Seja quem você é, sem medo de brilhar".

Olhou, feliz com o resultado, indo para casa com o coração sereno e o sentimento de missão cumprida.

No outro sábado, repetiu o gesto, mas, desta vez, deu vida a um casal homoafetivo sorridente, rodeado por um campo florido, na parede de um prédio, autorizado pelo síndico. As cores vibrantes ressaltavam a alegria e a harmonia daquela cena. Ao lado do casal, escreveu uma mensagem de coragem e empatia: "Ame sem limites, seja a luz que o mundo precisa".

Ao terminar, Franciele deu um passo para trás e admirou seu trabalho. As cores vivas e os detalhes cuidadosamente pintados expressavam os sentimentos que ferviam em seu coração.

― Me sinto tão bem após colocar em prática tudo que estou sentindo... ― Falou a si mesma, realizada.

O síndico chegou, tendo a melhor das reações, se emocionando ao ver o resultado.

― Maravilhoso! Me deixe seu telefone? Com certeza terá mais pessoas interessadas. Parabéns, Fran!

Ela esperava que aquelas imagens e palavras tocassem as pessoas, que as inspirassem a refletir e a reconectar-se com sua essência humana. E foi exatamente o que aconteceu.

As pessoas passavam pelos murais, algumas olhavam de relance, indiferentes, enquanto outras paravam para contemplar a beleza daquele grafite e ler as mensagens. Elas sorriam, sentindo-se representadas e encorajadas, enquanto outras refletiam sobre o significado por trás daquelas palavras. A maioria tirava fotos e saia dali com algo a mais no coração.

Embora nem todos compreendessem totalmente a mensagem, Franciele sabia que havia feito a sua parte. Ela havia usado sua arte para transmitir amor, empatia e coragem, na esperança de que esses valores se espalhassem e tocassem o coração daqueles que mais precisavam.

A arte e o desejo de mudar o mundo ganhou vida através das cores e das frases que Franciele espalhou pelos muros da cidade. E, mesmo que seu gesto parecesse pequeno em meio a tantos problemas, ela acreditava no poder transformador da arte e no potencial de cada pessoa para fazer a diferença. 

"Enquanto as palavras escritas nos muros ecoam pelo tempo, encontramos nas entrelinhas o conforto que acalma, a esperança que inspira e a motivação que impulsiona nossos caminhos."
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CALEIDOSCÓPIO DE SONHOS: RETRATOS DA ALMAOnde histórias criam vida. Descubra agora