11. O Valor da Gratidão

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       Carlos era um empresário de 60 anos, cuja riqueza e sucesso o destacavam na sociedade. Todos os dias, enquanto percorria a mesma rua, acompanhado de dois ou mais amigos, seus olhos encontravam-se com os de um jovem mendigo de aparência rude. As pessoas ao seu redor o evitavam, enojadas pelos estereótipos que o cercavam:

― Carlos, meu amigo! Não fique encarando! Essa gente é nojenta! Fedem!

― Vocês já repararam que ele encara e rabisca naquele caderno?

― Deve estar drogado ou bêbado! E onde está a polícia, que não faz nada?

― Ele não está fazendo nada. Vocês dois estão criando tempestade num copo d'água, isto sim! ― Riu. ― Vamos para o restaurante. Aqueles empresários japoneses não vão nos esperar a vida toda para o almoço.

― Olha só! Está nos seguindo com os olhos e aquele sorrisinho assustador! Com certeza é um ladrão em potencial. ― Sussurrou um dos amigos.

E assim, os três homens entraram em seus carros, indo em direção ao restaurante.

Um dia, Carlos decidiu se aproximar do morador de rua, movido pela curiosidade e por uma chama de compaixão. Ele queria conhecer o homem por trás das vestes surradas e cabelos desgrenhados.

― Com licença, rapaz, tudo bem?

O rapaz olhou aquele senhor bem alinhado, de semblante bondoso e apenas sacudiu a cabeça, voltando sua atenção para o caderno.

― O que você escreve aí? Posso ver? Percebi que está aqui há algum tempo e sempre escrevendo. Confesso que fiquei muito curioso. ― Riu, descontraído.

― Meu nome é Liam.

― Prazer, Liam. ― Agachou em frente do rapaz. ― Me chamo Carlos.

Liam estendeu hesitante o caderno na direção do empresário. E foi então que descobriu algo surpreendente: o rapaz possuía um talento extraordinário. Com uma precisão impressionante, ele desenhava retratos detalhados de todas as pessoas que passavam por ele naquela rua. Inclusive a de Carlos, pensativo ao celular.

― Nossa! Estou surpreso! Uma grata surpresa, para ser exato! Você tem muito talento!

Carlos devolveu-o para o jovem, se levantando. Tirou do bolso sua carteira e alcançou algumas notas em dinheiro.

― Tome. Não se ofenda, rapaz. Vá almoçar, está bem? E parabéns pelo seu trabalho. És muito talentoso!

A habilidade do mendigo era tão marcante que o empresário decidiu ajudá-lo. Ele reconheceu o valor daquele talento oculto e se propôs a mostrar ao mundo o dom extraordinário do jovem artista de rua. Fez algumas ligações e se informou melhor sobre material de desenho.

Ao sair do edifício de sua empresa, reparou que Liam estava no mesmo lugar de sempre. Atravessou a rua com algumas sacolas, satisfeito por ajudá-lo.

― Olá Liam? Ocupado?

― Oi, Seu Carlos. Não estou, não, senhor.

― Vim para convidá-lo a ir até minha casa, tomar um banho, trocar de roupa e ir num barbeiro comigo. Aceita? ― Sorria largamente.

Liam olhou desconfiado, se encolhendo na calçada.

― E por que o senhor está me ajudando?

― Porque sinto que você merece uma chance. Apenas aproveite esta oportunidade, rapaz.

Com seu apoio e recursos, o empresário abriu portas, permitindo que o talento do jovem desenhista, fosse apreciado e valorizado por todos.

À medida que o tempo passava, o empresário e o mendigo, agora unidos por um vínculo de profunda amizade, compartilhavam momentos inesquecíveis. O homem de negócios, outrora dominado pela frieza do sucesso material, encontrava calor e alegria na companhia do jovem andrajoso.

CALEIDOSCÓPIO DE SONHOS: RETRATOS DA ALMAOnde histórias criam vida. Descubra agora