10. O Tocador de violino

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       Havia uma estação de metrô movimentada em uma grande cidade, onde as pessoas corriam de um lado para o outro, sempre apressadas em suas rotinas diárias. Entre essa multidão, um homem chamado Alexandre destacava-se. Com seus 56 anos, era um músico talentoso que tocava seu violino com paixão e maestria.

Apesar de sua idade, Alexandre aparentava ser bem mais jovem. Seu rosto refletia a sabedoria e as experiências que a vida lhe trouxera e seu espírito era sempre jovem e cheio de alegria. Ele tinha uma maneira especial de irradiar bondade, acolhendo a todos que se aproximavam com palavras gentis e um sorriso caloroso. Nunca esquecia de cumprimentar os funcionários da estação de metrô.

― Tenha um bom dia, Seu Hélio!

― Obrigado, Alex! Um bom dia pra você também!

― Bom dia, Dona Marília, como está a saúde do Seu Alcides?

― Que gentileza perguntar pelo meu pai, Seu Alexandre. Está bem melhor, graças a Deus.

Todas as manhãs, Alexandre chegava à estação de metrô antes mesmo do sol nascer. Ele sabia que naquele local movimentado havia pessoas que precisavam de um momento de tranquilidade e beleza antes de enfrentar o caos do dia.

Ajeitava tudo com esmero. Um banquinho pintado de branco com delicadas notas musicais em volta do assento, um pequeno tapete redondo vermelho, o suporte para as partituras e o fiel instrumento, sempre impecavelmente lustrado. Seu violino enchia o ambiente com notas doces e melódicas, transformando a estação em um refúgio de paz em meio ao frenesi da cidade. Escolhia a música do dia, sempre tomando o cuidado para não repetir a mesma do dia anterior e afinava as cordas com dedicação.

― Teremos mais uma manhã encantada, graças ao seu talento, Seu Alex. ― Falou uma das vendedoras de passagem.

Ele sorria, feliz por proporcionar aqueles momentos da sua arte.

Muitos passageiros paravam brevemente para apreciar a música de Alexandre. Alguns fechavam os olhos, deixando-se levar pela melodia e permitindo que suas preocupações se dissipassem. Outros jogavam algumas moedas em seu chapéu, reconhecendo a beleza e a arte que ele compartilhava generosamente.

Alexandre retribuía com um gesto de cabeça e um sorriso, enquanto a melodia espalhava-se pelos corredores, enchendo os corações de encantamento.

Certo dia, uma mulher aproximou-se de Alexandre com lágrimas nos olhos. Ela tinha um olhar triste e cansado, como se carregasse o peso do mundo em seus ombros. O homem parou de tocar, alarmado:

― Senhora? ― Perguntou gentilmente.

― Perdão, senhor. É que estou passando por um momento tão difícil em minha vida...

― E como posso ajudá-la?

Ela olhou-o melancólica, tentando sorrir:

― Pois o senhor já vem me ajudando há algum tempo. Sua música me trouxe um momento de paz em meio ao caos que está a minha vida. ― Passou as mãos pelo cabelo, envergonhada. ― Perdi meu emprego e estou enfrentando dificuldades financeiras, mas mesmo desanimada e sem esperança, suas canções me trazem esperança de que tudo irá melhorar.

― Eu sinto muito ouvir sobre a sua situação difícil e perda de emprego, senhora. É natural sentir-se desanimada e sem esperança diante de tais desafios, mas quero lembrá-la de que você é uma pessoa incrível, cheia de potencial e habilidades únicas. ― Sorriu, encorajador.

― Pode me chamar pelo meu nome. É Celeste. ― Falou, constrangida.

― É maravilhoso saber que minhas canções trazem esperança para você, Celeste. A música tem o poder de tocar nossas almas e nos lembrar que há beleza e inspiração mesmo nos momentos mais sombrios.

― Posso abraçá-lo, violinista?

Ele sorriu, aproximando-se dela:

― Claro! ― Envolveu com ternura a frágil mulher.

Ao afastar-se, disse com carinho:

― Meu nome é Alexandre. Nunca esqueça, Celeste, você é capaz de enfrentar qualquer desafio que a vida lhe apresente. Tenha fé. ― Assim, voltou a tocar.

As notas suaves do violino preenchiam o coração da mulher com uma sensação de calma e esperança. As lágrimas que antes eram de tristeza, agora eram de gratidão e renovação. A música de Alexandre serviu-lhe como uma inspiração para levantar-se e seguir em frente, enfrentando seus desafios com coragem e determinação.

Ao longo dos anos, Alexandre continuou tocando naquela estação de metrô. Tocava para alegrar as pessoas, para lembrá-las da beleza que pode ser encontrada em meio à vida agitada. Sua música tornou-se uma parte essencial da rotina diária de muitos que passavam por ali. A expressão artística daquele homem solitário e gentil, transcendia as barreiras do tempo e do lugar, conectando-se com as almas dos ouvintes de formas inexplicáveis. Seu talento extraordinário era um constante de que a beleza e a esperança podem ser atendidas mesmo nas circunstâncias mais complicadas. E seu violino tornara-se um símbolo de inspiração e muitos o consideravam como um anjo na Terra.

Certa manhã, o guarda noturno que encerrava suas atividades entregando o turno para o colega, sentiu falta do violinista, comentando sua ausência.

― É provável que esteja doente ou até aproveitou um dia para descansar.

― É estranho... Durante tantos anos, nunca vi o Seu Alex faltar.

― Bom! Vá pra casa, Armando. Ele deve chegar mais tarde. Vai saber!

Assim, cada um seguiu seu caminho, imersos em suas rotinas.

Os dias se passaram e assim conheceram o filho de Alexandre, que apareceu lá para comunicar que seu pai não despertara pela manhã. A notícia trouxe uma onda de tristeza e pesar, envolvendo a todos naquela estação e todos que ali passavam e já não ouviam as canções melodiosas.

O silêncio pairava no ar, interrompido apenas pelo eco dos suspiros carregados de saudade. As lembranças compartilhadas com o talentoso violinista, agora assumiram um tom agridoce, misturando-se com a sensação de vazio deixada por sua partida, que foi dolorosa, mas a lembrança e o amor que nutriam por ele estaria eternamente em seus corações.

― Que silêncio... Alexandre faz tanta falta, não? ― Disse um passageiro que sempre passava ali para ir trabalhar.

― Este lugar não será mais o mesmo. Mas se a gente fechar os olhos, ainda conseguimos ouvir o som do violino de longe. ― Respondeu seu colega.

Mesmo Alexandre não estando mais presente fisicamente, sua música ecoava nos corações daqueles que o ouviram. Seu legado espalhou-se como um raio de luz em uma cidade agitada, lembrando a todos que um ato de bondade e uma melodia tocante podem transformar vidas e trazer esperança em momentos sombrios. A prefeitura honrou sua memória com uma estátua de bronze, exatamente como ele tocava, com um sorriso sereno no rosto, no mesmo lugar em que ele ficava todos os dias, por anos a fio.

E assim, o violinista gentil e talentoso Alexandre, permaneceu eternamente vivo através da música que compartilhou, deixando um impacto duradouro em todos que tiveram o privilégio de cruzar seu caminho.

"A arte é o veículo transcendental que nos transporta além dos limites da realidade, nos envolvendo em um lugar de beleza e nos lembrando com sutileza que a verdadeira essência da vida reside nos pequenos prazeres que muitas vezes passam despercebidos."
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