15. O Encontro Inesperado

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     Era uma tarde cinzenta de outono, e o "Café das Palavras" era um refúgio acolhedor para os amantes da literatura. O escritor desiludido, de cabelos grisalhos e olhar reflexivo, sentou-se em uma mesa próxima à janela, com seu caderno de capa surrada ao lado de uma xícara de café fumegante. Seu olhar vagava desolado, perdido na trilha das gotas melancólicas de chuva que escorriam pela janela, pintando o vidro com suas marcas tristes, seguindo um caminho sinuoso até alcançar a borda.

Ele chamava-se Leonardo. Com seus 70 anos, já havia perdido a conta das histórias que escrevera, mas nenhuma delas parecia satisfazê-lo completamente. Seus olhos desviaram-se para a xícara de café, contemplando a escuridão da bebida que sorvia lentamente, como se o tempo já não lhe pertencesse, mas sim ao vazio da solidão.

Do outro lado do café, sentado em uma poltrona confortável, estava um jovem poeta chamado Lorenzo. Seus olhos brilhantes e cabelo rebelde, refletiam a energia da juventude, e em suas mãos, um livro de poesias, repleto de esperança e sonhos ao sabor de um cappuccino. Lorenzo era um entusiasta das palavras e do poder que elas tinham de tocar corações.

Curioso, o jovem poeta percebeu o olhar vago de Leonardo e sentiu uma conexão sutil com aquele homem solitário. Decidiu aproximar-se e puxar conversa, afinal, a poesia também reside nas conversas que se desenrolam.

O poeta chegou perto da mesa do escritor, com o coração pulsando de expectativa, e perguntou timidamente:

― Olá, tudo bem? Posso me sentar aqui?

Leonardo levantou o olhar e, surpreso, retribuiu o sorriso, gentil:

― Claro, meu jovem. Fique à vontade. Sim, tudo bem, obrigado.

― Como se chama?

― Sou Leonardo, um escritor errante em busca de inspiração perdida. E você, jovem poeta, qual é o seu nome? ― Perguntou, ao notar o livro em uma de suas mãos.

― Me chamo Lorenzo. Errante ou não, é um prazer conhecê-lo, Leonardo. ― Sorriu. ― Notei que estava absorto em pensamentos profundos. Algum bloqueio criativo?

Leonardo suspirou, balançando a cabeça positivamente.

― Sim, exatamente isso. Já escrevi tantas histórias, mas agora parece que a fonte secou.

― Sempre há o que escrever. Estar vivo já é inspiração para começar.

― Perdi o entusiasmo, a crença de que minhas palavras podem fazer a diferença... ― Falou, mexendo na xícara já quase vazia.

O poeta inclinou-se para frente, transmitindo empatia.

― Compreendo como se sente. Às vezes, também me pego com dúvidas, mas tento manter a esperança. Acredito que nossas palavras têm o poder de tocar vidas e corações, mesmo que seja apenas um leitor por vez.

Enquanto falava, ia dobrando um guardanapo de papel.

― Você tem um otimismo surpreendente para alguém tão jovem... ― Comentou o escritor, franzindo a testa. ― Como consegue enxergar tanta luz no mundo, mesmo quando tudo parece sombrio? ― Indagou Leonardo, observador.

O rapaz sorriu gentilmente, continuando com a dobradura:

― Talvez porque ainda tenho muito a aprender, assim como você. Mas também acredito que nossa perspectiva sobre a vida é moldada por nossas experiências e como escolhemos encará-las.

Leonardo ficou intrigado com as palavras do jovem poeta, se permitindo sorrir. A conversa fluiu suavemente, e os dois passaram horas compartilhando suas histórias e pontos de vista, ao passo que a chuva caía placidamente lá fora. Descobriram que tinham mais em comum do que imaginavam.

CALEIDOSCÓPIO DE SONHOS: RETRATOS DA ALMAOnde histórias criam vida. Descubra agora